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“Tuareg”: não dá pra não ler

Por Paula Taitelbaum*

Tuareg” é um livro denso e ao mesmo tempo tenso. Que flui como grãos de areia esparramados pelo vento no deserto. E prende como um oásis. Nunca tinha ouvido falar nele. Vergonhosamente, nem ao menos conhecia seu autor, Alberto Vázquez-Figueroa. Até que no final do ano passado, em uma reunião aqui dentro da L&PM, o Paulo Lima (o “L” da L&PM) comentou: “Quem não leu Tuareg, tem que ler, é um livro incrível e o final é espetacular.” Foi algo assim que ele disse. E eu confesso que não levei muita fé. Mas quando fui escolher um livro para levar na mala, no feriado do Ano Novo, lembrei do que o Lima tinha dito e peguei “Tuareg”. Daí que num dia de chuva no Rio de Janeiro, li a primeira frase. E você já deve estar desconfiado do que aconteceu: eu não parei mais. “Tuareg” conta a história de um… tuareg. Esses guerreiros do deserto que seguem um código de conduta muito próprio e muito definido.

O tuareg Gacel Sayad vivia quieto na sua tenda, peregrinando com sua família e seus escravos pelo Saara, lugar que ele conhecia como a palma da mão. Aliás, mais do que a palma da mão. Até que dois desconhecidos, vindos sabe-se lá de onde, meio mortos, meio vivos, chegaram em seu acampamento. O tuareg os recebeu – porque nenhum tuareg nega abrigo – e no dia seguinte, o exército veio, matando um deles e levando o outro. Começa aí, uma incansável saga que vai envolvendo o leitor como os próprios panos que envolvem esses incríveis guerreiros do deserto. E o final, bem, o final… é realmente brilhante. Já indiquei pra vários amigos. Só faltava indicar aqui no blog.

Por sua vez, Gacel permaneceu muito quieto, observando o comboio que se afastava, até que o pó e o ruído se perderam por completo na distância. Logo, devagar, ele se encaminhou à jaima onde já se amontoavam seus filhos, a esposa e os escravos. Não precisou entrar para saber o que encontraria. O homem jovem aparecia no mesmo lugar em que o deixara, após sua última conversa, com os olhos fechados, agarrado ao sono pela morte. Unicamente um pequeno círculo vermelho na testa fazia-o parecer diferente. Observou-o com pena e raiva durante um longo instante e, em seguida, chamou Suílem.

– Enterre-o – pediu. – E prepare meu camelo.

Pela primeira vez na vida Suílem não cumpriu a ordem do amo, e uma hora depois entrou na tenda e se atirou aos seus pés, tentando beijar-lhe as sandálias.

– Não faça isso! – suplicou. – Nada conseguirá.

Gacel afastou o pé com desagrado.

– Acredita que devo consentir com semelhante ofensa? – perguntou Gacel com voz rouca. – Acredita que continuaria vivendo em paz comigo mesmo, depois de haver permitido que assassinassem um dos meus hóspedes e levassem o outro?

 

* Paula Taitelbaum é escritora e coordenadora do Núcleo de Comunicação L&PM.