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Victor Dixen, autor de “Animale”, em uma entrevista exclusiva

Meu objetivo é que, aquele que ler Animale não consiga mais distinguir entre história ou conto de fadas, realidade e fantasia. E que, ao fechar o livro, o leitor esteja totalmente convencido de que a Cachinhos realmente existiu…

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Victor Dixen é filho de pai dinamarquês e mãe francesa. Com eles, percorreu a Europa quando era pequeno. Depois, morou nos Estados Unidos, Irlanda e, atualmente, vive em Cingapura. Autor premiado, ele é super atuante nas redes sociais e procura responder todas as mensagens que recebe de seus leitores. Trocamos emails com Victor que, prontamente, respondeu algumas perguntas que lhe enviamos. Vale a pena ler o que ele tem a dizer sobre sua obra e sua forma de escrever.

L&PM: Como surgiu a ideia de escrever Animale?

Victor Dixen: Frequentemente uso meus sonhos como material de escrita e foi assim no caso de Animale: a maldição de Cachinhos Dourados. Uma vez tive um sonho muito simples e estranho. Eu estava perdido em uma floresta escura, à noite, e caminhava em direção a uma solitária cabana. Mas nunca cheguei até a casa: acordei antes. Então, imediatamente pensei na fábula de Cachinhos Dourados e os três ursos, que me contaram quando eu era criança. Eu tinha quase esquecido dessa fábula, mas esse sonho reviveu minha memória. Então achei o livro e o li novamente. Fiquei maravilhado. Porque esse pequeno e simples conto não é como os outros: não tem um final fechado como em muitas fábulas (tipo: “e viveram felizes para sempre”). Pelo contrário, Cachinhos se perde na floresta, entra na cabana onde come e adormece, apenas para ser acordada pelos três ursos que moram lá; apavorada, ela pula a janela e desaparece na noite. E é isso. Nós não temos indicações, seja qual for, sobre o que aconteceu com a Cachinhos depois que ela foge. Eu vi nessa história de final aberto uma verdadeira missão: eu tinha que conectar os pontos e tentar descobrir o que aconteceu com ela. Isso se tornou minha prioridade, como se minha vida dependesse disso. E foi também o começo das minhas investigações e o trampolim para meu romance.

L&PM: Animale é repleto de referências históricas da França. Sua intenção foi colocar Blonde no mundo real? Por quê?

VD: O cenário do romance e o momento histórico em que ele ocorre saíram de minhas investigações. Durante minha pesquisa, li muito sobre a fábula de Cachinhos dourados e os três ursos. Foi assim que descobri que esta história foi escrita pela primeira vez por volta de 1830, por um autor inglês chamado Robert Southney. Eu sabia que tinha que definir o meu romance na mesma época: em meados do século 19, na Europa. Todo o continente ainda estava assombrado pelas sequelas das guerras napoleônicas e também pelas sombras da Revolução Francesa. E aos poucos fui me convencendo que a fábula de Southney não tinha saído completamente de sua imaginação, mas sim inspirada em alguém que ele conheceu na vida real – um aristocrata francês que tinha emigrado para a Inglaterra durante o reinado de Napoleão, trazendo com ele um terrível segredo…

L&PM: Você é fascinado por contos de fadas e Animale 2 é inspirado em um conto de Andersen. Fale um pouco sobre isso.

VD:  Sou metade francês e metade dinamarquês de nascimento, e Andersen sempre foi um dos meus autores favoritos. Isto é parte da minha fascinação por contos de fadas – gosto tanto de contos populares (os mais antigos, transmitidos oralmente de geração para geração, e coletados por especialistas em folclore como Charles Perrault e os Irmãos Grimm) quanto de contos literários (inteiramente criados do zero pelos escritores, como os de Andersen). O que eu realmente gosto nos contos de Andersen é a poesia do Norte e uma forma de beleza trágica que para mim está diretamente ligada à antiga mitologia Viking. Isto é marcante em A rainha das neves, um conto escuro e suntuoso que tem me assombrado desde criança. Eu sempre tentava imaginar como seria o rosto da poderosa e mortal Rainha da Neve, mas nunca conseguia. Escrevi Animale 2 – A profecia da rainha das neves para tentar descobrir. Acredito que os livros podem realmente fazer este tipo de mágica: fazer você ver o invisível!

L&PM: Na sua opinião, o que não pode faltar numa história do gênero fantasy?

VD: Honestamente, acho que não há regras quando se trata de contar histórias – ou talvez se tenha apenas uma regra: manter o leitor surpreso a cada página, para que ele ou ela não possa largar o livro até terminá-lo. Para mim, o principal interesse nos códigos de gêneros é que eles podem ser dobrados para criar ainda mais surpresa, suspense e admiração. Isso é precisamente o que pretendi fazer na saga Animale: tentei misturar códigos de ficção histórica e fantasia tão completamente que se tornou impossível diferenciar um do outro. Meu objetivo é que, aquele que ler Animale não consiga mais distinguir entre história ou conto de fadas, realidade e fantasia. E que, ao fechar o livro, o leitor esteja totalmente convencido de que a Cachinhos realmente existiu…

L&PM: Qual o maior desafio ao escrever uma história para jovens?

Victor Dixen: Tenho leitores das mais variadas idades e acho que todos eles têm a mesma expectativa: serem surpreendidos. Eu mesmo, como leitor, procuro isso quando abro um romance. Quero ser transportado para outro tempo, outro lugar – ou, se é o mesmo tempo e lugar, quero vê-los através de outros olhos. Na verdade, acho que os jovens leitores têm mais vontade ainda de serem surpreendidos. E eles querem se deixar levar desde as primeiras páginas. Por isso, este é o desafio!

L&PM: Imaginamos que você tenha bastante contato com seus leitores. Qual a pergunta que eles mais fazem para você?

VD: Graças à internet, é fácil hoje em dia manter contato com leitores onde quer que eles estejam no mundo e onde quer que você esteja. O que é uma coisa conveniente porque eu sou uma espécie de globe-trotter, tendo vivido nos EUA, Irlanda, França e agora em Cingapura, em busca de inspiração. Receber um retorno dos leitores é muito precioso, pois escrever livros é um trabalho bastante solitário, e saber que seus livros são notados é muito importante para alimentar a motivação. Então eu recebo muitas perguntas sobre meus livros, que tento sempre responder. Convido os leitores brasileiros a entrarem em contato comigo, se quiserem, pelo meu Website – em inglês, francês ou espanhol, por favor – pois infelizmente meu português não existe J: www.victordixen.com/homepage/. Acho que a pergunta que mais me fazem é uma que vocês também me perguntaram no começo desta entrevista : de onde surgem suas ideias?

L&PM: E qual a sua resposta?

VD: Bem, essa é uma pergunta difícil, porque honestamente eu não sei a resposta – ou pelo menos, sei apenas algumas partes dela. Como mencionei antes, sonhos são muito importantes para mim. Talvez isso esteja ligado ao meu ritual de escrita: por ter sono muito leve, acordo todas as noites às 4 da manhã e começo a escrever imediatamente, quando os sonhos ainda estão vivos em minha mente, e enquanto o mundo todo está silencioso e escuro ao redor da minha tela de computador. Depois, têm também todos os livros que li. E, finalmente, as experiências acumuladas durante minhas viagens ao redor do mundo. Tudo isso se mistura e cria um estranho coquetel, no coração da noite.
Eu realmente aprecio a noite e todas as suas sombras cheias de possibilidades, onde a imaginação pode vagar livremente.
Este é meu momento.
É quando escrevo.
É quando minhas histórias e personagens ganham vida.
Então, se eu tivesse que resumir de forma simples a resposta para a pergunta “de onde surgem suas ideias?”, acho que responderia: “Da escuridão silenciosa da noite!”

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Clique aqui para saber mais sobre Animale – A maldição de Cachinhos Dourados, obra de Victor Dixen que recebeu o grande prêmio francês “Étonnants Voyageurs 2014”.