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Próxima parada: a biografia de Antonio Bivar em peça

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Dois autores de destaque nos anos 70. Jovens autores premiados que deixaram voluntariamente o país durante a ditadura militar e que foram representantes do movimento da contracultura. Esse é o ponto de partida do projeto “Próxima Parada”, fruto de uma pesquisa em torno de textos teatrais, biografias e outras obras dos dramaturgos José Vicente (1945-2007) e Antonio Bivar.

No ano em que o Brasil comemora 30 anos do fim do regime militar, o ineditismo do projeto “Próxima Parada” vem do foco no percurso de ambos os autores e de personagens de suas obras, entrelaçando histórias reais e ficcionais, dados históricos e políticos, e depoimentos recolhidos através das cartas que José Vicente e Antonio Bivar trocaram ao longo de anos de amizade e de viagens feitas pela Europa e América Latina, atingindo a dramaturgia, a interpretação, a cenografia e demais elementos cênicos.

O projeto “Próxima Parada” nasceu em 2013, durante ateliê realizado no Centro Cultural Calouste Goulbenkian, ministrado por Cesar Augusto e Marcelo Valle, ambos membros fundadores da Cia dos Atores, renomado grupo teatral carioca. Em seguida, durante oficina no Teatro Ipanema, foram pesquisadas as obras “Hoje é dia de rock”, de José Vicente, que teve montagem histórica neste mesmo teatro, e “Verdes vales do fim do mundo”, de Bivar. E, por fim, no próprio Espaço SESC , teve continuidade a pesquisa por técnicas e experimentos voltados para o desenvolvimento do trabalho autoral dos atores.

No final do ano de 2014, Cesar Augusto se encontra com Antonio Bivar em São Paulo para debater suas obras teatrais, como “Cordélia Brasil”, “O cão siamês ou Alzira Power”, “Longe daqui, aqui mesmo”; livros como “O que é punk”, em que o autor revela o movimento que sacudiu o fim dos anos 70; e suas autobiografias “Verdes vales do fim do mundo” (1985), “Longe daqui, aqui mesmo” (1995) e “Mundo adentro, mundo afora”, estes três lançados pela L&PM Editores.

SERVIÇO

Local: Teatro Café Pequeno (Rua Ataulfo de Paiva, 269, Leblon)

Datas: de 08 a 31 de maio de 2015

Horários: sexta a domingo, 20h

Bilheteria: (21) 2294-4480

Ingressos: R$ 30,00 (inteira) / R$ 15,00 (meia) / R$ 10,00 (estudantes de Artes Cênicas apresentando comprovação de matrícula)

Classificação etária: 16 anos

Duração: 70 minutos

 

Mundo adentro, vida afora e Bivar na Revista Carta Capital

A Revista Carta Capital de maio, que chega às bancas nessa quarta-feira, dia 6, traz uma matéria de duas páginas sobre Antonio Bivar e seu mais recente livro, Mundo adentro, vida afora – Autobiografia do berço aos trinta, publicado pela L&PM. E se você ainda não leu o livro, não sabe o que está perdendo. Ele não é apenas a saga de um dramaturgo, escritor, beat, ícone da contracultura ou seja lá como se possa definir o grande Bivar. Em suas páginas, o leitor encontra histórias curiosas e divertidas sobre os bastidores do teatro brasileiro nos anos 60 e 70. “Esqueça os Beatles e leia tudo sobre Antonio Bivar. Ele também toma LSD” publicou O Jornal da Tarde em 1970. Outras frase boa – e que dá título à matéria de Alvaro Machado – é “Enquanto estamos lutando pelo arroz e feijão, lá vem o Bivar com a sobremesa”, bordão repetido pelo também dramaturgo Plínio Marcos para definir o colega.

Abaixo, a matéria completa. Para ler, basta clicar sobre as imagens para ampliá-las:

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Peça com a qual Antonio Bivar ganhou Molière tinha Maria Della Costa no papel principal

Uma das damas do teatro brasileiro, a bela e talentosa Maria Della Costa faleceu no sábado, 24 de janeiro, aos 89 anos. A atriz é citada livro Mundo adentro vida afora, de Antonio Bivar, quando ele conta detalhes da peça que lhe rendeu o Molière, “Abre a janela e deixa entrar o ar puro e o sol da manhã”, com direção de Fauzi Arap, e que tinha Maria em um dos papéis principais.

A beleza de Maria Della Costa

A beleza de Maria Della Costa

“Ao ler a peça até onde eu a escrevera, Fauzi se viu, segundo suas próprias palavras, diante de “uma pequena obra-prima”. Na crista da onda como diretor depois de dirigir Tônia em Navalha da carne, de Plínio Marcos, Fauzi fora convidado pelo produtor Sandro Polloni para dirigir em São Paulo o próximo espetáculo de sua mulher, a bela e consagrada Maria Della Costa. Fauzi viu em Heloneida o papel perfeito para Maria.” (Trecho de Mundo adentro vida afora)

Maria Della Costa em primeiro plano e a atriz Thelma Reston em segundo, atuando na peça de Antonio Bivar, "Abre a janela..."

Maria Della Costa em primeiro plano e a atriz Thelma Reston em segundo, atuando na peça de Antonio Bivar, “Abre a janela…”

“Grande intérprete, estrela mor do teatro brasileiro, com sua atuação na minha segunda peça, Abre a janela e deixa entrar o ar puro e o sol da manhã, em 1968, recebi o prêmio Molière de melhor autor do ano, em São Paulo. E assim morre uma verdadeira diva brasileira. Atuou no cinema e na televisão, mas seu lugar verdadeiro era o palco. Grande amiga, querida Maria. Com certeza seu brilho agora será no palco ilimitado do espaço sideral.” Escreveu Bivar em sua perfil no Facebook.

Coluna de Antonio Bivar na Revista Joyce Pascowitch traz haicais de Jack Kerouac

Este mês, a coluna “De conversa em conversa” de Antonio Bivar na glamurosa revista Joyce Pascowitch, é sobre Haicais. O destaque fica por conta dos poemas produzidos por Jack Kerouac que chegaram ao Brasil pela L&PM com tradução de Claudio Willer. Escritor, tradutor e um verdadeiro beat brasileiro, Bivar declara seu gosto pela poesia japonesa e convida os leitores a mergulharem neste maravilhoso mundo de três versos. Clique sobre as páginas para ler.

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Brasileiros nos Diários de Andy Warhol

O escritor Antonio Bivar leu os Diários de Andy Warhol e fez, para a revista Joyce Pascowitch, uma seleção dos brasileiros (entre outros) que passaram pela vida do pai da pop art e seus comentários a respeito deles. O texto foi publicado em duas partes, nas edições de janeiro e fevereiro, e você pode ler as duas clicando na imagem abaixo:

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(clique para ler as matérias)

 

Diários de Andy Warhol, parte II

Por Antonio Bivar*

No número passado da J.P [revista Joyce Pascowitch] esta coluna deu, com o título “Brasileiros nos Diários de Andy Warhol”, os dias em que Andy comentava seus encontros com brasileiros nas festas nova-iorquinas na década de 1970 e primeiros anos dos 80s. Pelé era o mais citado, mas bem citados também eram Elizinha Gonçalves, Florinda Bolkan, Santos [Dumont] (o relógio de pulso da Cartier) e outros. São pérolas como de resto todo o au jour le jour warholiano. Segundo o jornal inglês The Guardian, “os Diários são sua última grande obra de arte”. E são mesmo. Todas as manhãs, religiosamente Andy Warhol por telefone ditava à Pat Hackett o que rolara na véspera. Hackett gravava e depois editava. Warhol morreu em 1987 e com sua morte o diário parou. Dois anos depois, em 1989, os Diários de Andy Warhol saíram num único volume de mais de mil páginas. No Brasil foi publicado no mesmo ano, pela L&PM, traduzido por Celso Loureiro Chaves. Em 2012, 23 anos depois, a editora lançou os Diários em dois volumes populares L&PM Pocket. Mês passado aqui na revista compilei preciosidades do primeiro volume e agora passo aos do Volume II, que pegam os dias de 1982 a 1987. Não preciso dizer mais sobre os dias agora compilados porque o au jour le jour de Andy Warhol vai direto ao ponto. Gênio. Têm todo o charme de “antigamente a vida era assim”. Vintage.

Quarta-feira, 17 de março, 1982. Jon veio me buscar às 8 da noite e fomos para a casa de Diane von Furstenberg, que estava dando uma festa sem motivo específico, mas acho que talvez fosse para alguém rico da Indonésia.

Domingo, 4 de abril, 1982. Havia um coquetel que Henry estava dando na casa de Anna Wintour, onde ela mora com aquele Michael Stone. Estou começando a achar que talvez Henry não saiba o que seja uma festa elegante, que talvez não tenha ido a muitas. Porque esta festa – quer dizer, nem serviram comida. Era das 6h30 às 8h30 e só serviram bolachinhas. Havia três empregadas, mas e daí? Não tinha comida!

Sábado, 11 de setembro, 1982. Decidi fazer um livro fotográfico de verdade de apartamentos de verdade. Não casas fotográficas como a Architectural Digest faz, mas só mostrando como as pessoas realmente moram. Não é uma boa ideia? Bianca acaba de conseguir um apartamento de dez quartos no El Dorado. Parece um lugar tipo Barbra Streisand.

Segunda-feira, 20 de setembro, 1982. Saí mais cedo para chegar a tempo de ver Lana Turner na Bloomingdale’s. Comprei um de seus livros. E ela disse, “Não sei se quero falar com você, tirei você das minhas orações, você disse que eu era melhor quando não tinha encontrado Deus”. Fiquei num estado de nervos terrível, disse “Ah, não, Lana, você tem que rezar por mim, por favor me coloque de volta nas suas orações!” Finalmente ela autografou o livro e escreveu “Para um amigo?”, com um ponto de interrogação. Lana, seu cabelereiro bicha e eu estávamos todos com o mesmo penteado.

Quarta-feira, 27 de setembro, 1983. Bianca ligou e me convidou para o almoço para o ministro de cultura sandinista da Nicarágua. Era uma mulher. Quer dizer, e aí ela ficou dizendo que a revolução verdadeira está vencendo, que “está chegando a hora do povo”. E, sei lá, é tudo tão abstrato, mas aí aquela noite na festa dos Heinz com todos aqueles ricaços republicanos também fiquei com uma sensação de medo. É como qualquer pessoa que tem poder, não vai querer que ninguém mais tenha.

Domingo, 4 de dezembro, 1983. Depois fomos para o Four Seasons. Apertei a mão de Jackie O., ela nunca mais me convidou para sua festa de natal, é uma cretina. E agora eu nem iria se me convidasse. Eu a mandaria cuidar de seu nariz. Quer dizer, temos a mesma idade, portanto posso dizer-lhe algumas verdades. Embora eu ache que ela seja mais velha do que eu. Mas, aí, acho que todo mundo é mais velho que eu.

Quarta-feira, 2 de maio, 1984. Estou com nojo da maneira como tenho vivido, de todo esse lixo, de levar sempre mais coisas para casa. Tudo o que quero são só paredes brancas e um chão limpo. Não ter nada é a única coisa chique. Quer dizer, por que é que as pessoas possuem coisas? É realmente idiota.

Segunda-feira, 4 de junho, 1984. Tinha que embarcar a “Marilyn”, foi um pouco deprimente. Para aquele tal Saatchi na Inglaterra. Vai ajudar no nosso pagamento da hipoteca e coisas assim, mas não sei se foi uma boa ideia vender.

Domingo, 24 de junho, 1984. Comprei maquiagem na Patricia Field (maquiagem $28,70, táxi $7.50). Comprei vermelho japonês. Mas gosto daquelas coisas da Fiorucci que são apenas uma mancha que dá aos lábios da gente um marrom natural. Porque meus lábios eram tão carnudos e agora não são, desapareceram. Para onde terão ido?

Domingo, 5 de agosto, 1984. Enfim, Jean Michel [Basquiat] queria que eu fosse ver suas pinturas na Great Jones Street, então fomos lá e é um chiqueiro. O amigo dele, Shenge, o negro, mora com ele e deveria estar tomando conta daquilo, mas é um chiqueiro. E tudo cheira a maconha. Me deu algumas pinturas para eu trabalhar. Fui embora (táxi $8).

Terça-feira, 9 de outubro, 1984. Aniversário de Sean Lennon. E fomos para o Dakota. Vigília na frente do prédio porque o dia 9 é aniversário de Sean e de John. Yoko correu para chamar Sean. Fomos para o quarto de Sean – havia um garoto lá instalando o computador Apple que Sean ganhou de presente, o modelo MacIntosh. Eu disse que uma vez alguém tinha me ligado querendo me dar um, mas eu nunca liguei de volta, e aí o garoto me olhou e disse, “Claro, era eu, sou Steve Jobs”. E tem um ar tão jovem, como um universitário. Ele disse que ainda quer me dar um computador. E que vai me ensinar a desenhar com ele. Ainda vem apenas em preto e branco, mas logo vão fazer a cores.

Sábado, 23 de março, 1985. E fiquei seguindo [Greta] Garbo pelas ruas. Tirei fotos dela. Tenho certeza de que era ela. Estava de óculos escuros, um casaco enorme, calças compridas e aquela boca, e ela entrou na loja Trade Horn para conversar com uma mulher sobre TVs. Exatamente o tipo de coisa que ela faria. Aí tirei fotos dela até achar que ela ficaria furiosa e então fui a pé para downtown. Eu também estava sozinho (risos). Sábado, 13 de julho, 1985. Vi aquela coisa, Live Aid, na TV. Jack Nicholson apresentou Bob Dylan e o chamou de “transcendental”. Só que para mim Dylan nunca foi realmente de verdade – sempre copiou pessoas de verdade e as anfetaminas fizeram com que parecesse mágico. Com as anfetaminas ele conseguia copiar todas as palavras certas e fazê-las parecer verdadeiras. Mas aquele garoto nunca sentiu absolutamente nada – (risos) a mim ele nunca enganou.

Segunda-feira, 22 de julho, 1985. Fui à pré-estreia de Beijo da Mulher Aranha (táxi $5). É o filme que Jane Holzer produziu com David Weisman, aquele cara do Ciao Manhattan. Não o suporto, portanto odeio ter que dizer que gostei do filme. Acho que agora as pessoas estão querendo mais filmes de arte, ou algo assim, é a hora certa.

Sexta-feira, 16 de agosto, 1985 – Los Angeles. Foi mesmo o fim de semana mais excitante da minha vida. Fomos de limusine até Malibu e quando vimos os helicópteros lá longe desconfiamos que era por causa do casamento. Uns dez helicópteros estavam ali por cima, era igual Apocalypse Now. Olhei para Madonna bem de perto e ela é linda. E a única celebridade chata mesmo era Diane Keaton. Sean veio nos cumprimentar e a família bonita de Madonna estava lá, todos os irmãos. E dá para perceber que Madonna e Sean se amam muito, foi a coisa mais excitante do mundo. Ah, e quando estávamos indo embora não consegui acreditar: Tom Cruise pulou para o nosso carro para fugir dos fotógrafos. Tirei uma foto dele. Fred e eu achamos que o casamento de Marisa [Berenson] foi mais glamuroso, mas este foi espetacular por causa dos helicópteros.

Sábado, 17 de agosto, 1985 – Los Angeles. E Cher foi divertida. E nos contou que durante o casamento Madonna pediu a ela que lhe ensinasse a cortar o bolo. Cher disse, “Como se eu soubesse”. E aí Madonna ficou passando as fatias com a mão. Sabe, estava sendo “bem terra”.

Quarta-feira, 9 de outubro, 1985. E eu matei uma barata e foi um trauma. Um trauma enorme mesmo. Fiquei me sentindo horrível.

Sábado, 19 de outubro, 1985. Encontrei Bill Katz, que se rasgou em elogios sobre minha exposição conjunta com Jean Michel [Basquiat] na galeria de Tony Shafrazi. Encerra esta semana. Jean Michel está ganhando todos os elogios, não eu. E Tony não está muito contente, parece que não vendeu muita coisa.

Domingo, 3 de novembro, 1985. Ah, e como é que a gente se livra de ficar velho? Minha mãe tinha a idade que tenho agora quando veio para Nova York. Naquela época eu achava que ela era realmente velha. Mas aí ela chegou aos oitenta. Tinha muita energia.

Domingo, 9 de março, 1986. Dizem no Times que Imelda Marcos deixou 3 mil pares de sapatos nas Filipinas. Talvez ela fosse trash. E encontraram material pornô no quarto de Marcos. [E em 16 de março:] E os Marcos ainda estão no noticiário. Agora encontraram 3 mil calcinhas pretas. E a conta deles no Bulgari chegava a $1 milhão.

Sexta-feira, 25 de abril, 1986. Li nos jornais que Grace Jones vai me levar ao casamento Schwarzenegger-Shriver no seu avião, aí acho que Grace ligou para o seu assessor de imprensa e pediu para divulgar. Portanto acho que estamos mesmo indo. Trabalhei nos desenhos de Maria Shriver que vou dar de presente de casamento.

Sábado, 26 de abril, 1986 – Nova York-Hyannis, Massachusetts-Nova York. E apreciando aquele casamento de conto de fadas não dava para deixar de pensar em como vai ser quando chegar a hora do divórcio. Jackie comungou e por isso caminhou por toda a igreja com John-John só para se mostrar. Estava linda. A missa durou uma hora e o casamento levou quinze minutos. Uma mulher cantou “Ave Maria”.

Terça-feira, 14 de outubro, 1986. Briguei com Fred [Hughes]. Ele está ficando cada dia mais parecido com Diana Vreeland. Eu digo que Interview é uma revista pequena e ele diz não não, não é. E não me deixa dar opiniões sobre o assunto. Eu digo, “Fred, Time é uma ‘revista grande’. Eles cobram $75 mil por página. Nós cobramos 3 mil.” E ele diz, “Não, não, nós cobramos $3.1 mil”. Quer dizer, …

Domingo, 25 de janeiro, 1987. Kenny Scharf ligou tentando me convencer a comprar terras no Brasil e eu estava pronto para lhe enviar um cheque, mas daí Fred gritou comigo por causa desse assunto quando estávamos na França, insistindo que são apenas vendas de mercado negro, sem contrato algum e nenhuma prova de que a gente é realmente o dono. Mas é muito barato. E a Paige queria entrar nisso comigo e até iria lá durante uma semana para verificar as coisas. A gente ganha (risos) um coqueiro só pra gente. Mas dizem que há muitas mortes por lá e que podem tirar a terra da gente a qualquer momento. Mas, ei, é muito barato.

* Texto escrito para a edição de fevereiro de 2014 da revista Joyce Pascowitch, em breve nas bancas.

Brasileiros (entre outros) nos Diários de Andy Warhol

Por Antonio Bivar*

Num único volume de mais de mil páginas, editado por Pat Hackett, o Diários de Andy Warhol foi primeiro publicado em 1989, dois anos depois de sua morte. A tradução brasileira, por Celso Loureiro Chaves, saiu aqui no mesmo ano, pela L&PM. Daí que, 15 anos depois, passando por uma banca de revistas vi que os Diários estavam de volta, agora, para conforto do leitor, publicados em dois volumes pela L&PM Pocket (R$ 29 cada volume). Na banca só havia o primeiro volume e não resisti: comprei. Eu já tinha lido a edição americana assim que saiu e era novidade. Na releitura, 15 anos depois, sem o compromisso tipo obrigatório da novidade, o prazer é maior e com todo o L’Air du Temps de décadas já bem passadas. Ainda que grosso, esse primeiro volume (600 páginas, de 1976-1981) é um registro warholiano do turbilhão de festas, eventos, lugares e nomes coruscados na explosão do culto às celebridades, culto que teve seu primeiro surto naquela época. Todas as manhãs Andy Warhol ditava por telefone a Pat Hackett como fora o seu dia anterior, e Pat, exímia taquígrafa tudo anotava. Diário é uma espécie de sacola onde se joga tudo. De modo que, da sacola do Andy pesquei algumas pérolas, entre as quais algumas em que o diarista cita brasileiros com certa intimidade. E como estamos no ano da Copa no Brasil, vou começar pelo que Andy Warhol conta sobre Pelé. E outras pérolas, na sequência, para dar uma ideia dos gossips dos Diários de Andy. Camp as camp can.

Quarta-feira, 13 de junho de 1977. De táxi até a Rockefeller Plaza para ir ao escritório da Warner Communications ver Pelé, o jogador de futebol que está sendo fotografado para a Interview. Ele é adorável, lembrou que me encontrou uma vez no Regine’s. Ele tem uma cara engraçada, mas quando sorri fica lindo.

Terça-feira, 27 de setembro de 1977. Ahmet Ertegun telefonou convidando para o jantar em homenagem a Pelé. Meu retrato de Pelé seria apresentado, o pai e a mãe de Pelé estavam lá e eles são uma graça, e a mulher dele é branca, mas todo mundo é de uma cor diferente na América do Sul – os pais dele também são de cores diferentes.

Sexta-feira, 6 de janeiro de 1978. Richard Weisman telefonou e disse que Pelé estava indo à Coe Kerr Gallery e então tive que ir lá autografar (táxi $ 5). Pelé é gentil, me convidou para ir ao Rio como seu hóspede (táxi para casa $ 4).

Segunda-feira, 29 de maio de 1978. Caminhamos até o One Fifth para almoçar e no caminho vi Patti Smith de chapéu coco comprando comida para o gato dela. Convidei-a achando que recusaria, mas ela disse “Que bom!”. Patti não queria comer muito e por isso comeu metade do meu almoço. Não parecia feia – se se lavasse e vestisse melhor.

Segunda-feira, 5 de junho de 1978. Jerry Hall estava com o mesmo vestido verde Oscar de la Renta com o qual estava na última vez que saí com ela, e quando entramos no elevador notei que ela cheira no sovaco, que não tomou banho antes de se vestir. Portanto acho que Mick [Jagger] deve gostar do cheiro.

Sexta-feira, 1 de dezembro de 1978. Coquetel no escritório antes do jantar para Elizinha Gonçalves no 65 Irving. E fui convidado para a festa de Natal de Jackie O., mais uma vez.

Domingo, 4 de março de 1979. Fomos ao Laurent onde [Salvador] Dalí tinha nos convidado a jantar, havia umas quarenta pessoas lá. Então os garotos quiseram ir à festa da Xenon para Pelé. Nova York está tão cheia de brasileiros que parece que aqui é o carnaval.

Quarta-feira, 14 de março de 1979. Festa da Cartier que Ralph Destino estava oferecendo em comemoração ao aniversário do relógio de pulso de Santos Dumont. Bob ajudou a contatar celebridades (Paulette Goddard, Truman Capote…). E Monique Van Vooren estava lá, disse que Nureyev iria: “Se é para ganhar relógio de graça ele virá.” E naquele momento ele entrou. O relógio de pulso foi inventado a partir da ideia de Santos Dumont, que era piloto.

Quinta-feira, 5 de abril de 1979. Busquei Catherine [Guinness] e fomos para o Regine’s. Paloma Picasso estava lá com o marido e o namorado. Neil Sedaka chegou com a família. Paloma apaixonou-se perdidamente por Neil. Disse que quando tinha dez anos de idade, na Argentina, costumava cantar “Sweet Sixteen” em português e espanhol, e aí cantou para Neil nessas línguas e ele adorou, ficou muito impressionado com ela.

Quarta-feira, 31 de outubro de 1979. Fiquei uptown toda manhã e aí fui encontrar Elizinha Gonçalves e Bob [Colacello] na Mayfair House e caminhamos até o Maxwell’s Plum. Nosso atraso foi conveniente, porque todos estavam esperando para nos ver. Estava cheio, tivemos que fazer força para entrar.

Segunda-feira, 8 de setembro de 1980, Miami. Acho que lugares quentes enlouquecem as pessoas. Fritam o cérebro da gente. No avião, de volta a NY uma senhora sentada na poltrona à minha frente pediu um autógrafo e eu autografei um saquinho de enjoo para ela.

Sexta-feira, 5 de dezembro de 1980. E será que contei que Florinda Bolkan veio para ser retratada? Ela não queria fazer nada sem que Marina Cicogna dissesse ok – nem mexer a cabeça. E [a Condessa] Marina parece uma motorista de caminhão, empurra todo mundo, e se isso é amor, então acho que isso é que é amor.

Domingo, 26 de abril de 1981. Jantar no Da Silvano. E Anna Wintour estava lá. De início não consegui lembrar o nome dela, mas por fim lembrei. Acaba de ser contratada pela revista New York, para ser editora de moda. Queria trabalhar na Interview mas não a contratamos. Talvez devêssemos tê-la contratado. Mas não acho que ela sabe se vestir, na realidade se veste muito mal.

Quarta-feira, 10 de junho de 1981. Bem, minha filosofia de vida é: a vida não é digna de ser vivida sem saúde e saúde é riqueza – é melhor que dinheiro e amizade e amor e qualquer outra coisa.

* Texto escrito para a edição de janeiro de 2014 da revista Joyce Pascowitch, em breve nas bancas.

50. Quando a L&PM foi parar no “Olho da Rua”

Em outubro, como já anunciado, a Série “Era uma vez… uma editora” ficou um pouco diferente. Este mês, como o editor Ivan Pinheiro Machado* estava na Feira de Frankfurt, ficou decidido que os posts seriam dedicados a livros que deixaram saudades. Hoje, no entanto, no lugar de um título, resolvemos falar de uma coleção inteira. A ideia de contar a história da Coleção “Olho da Rua” surgiu de uma conversa com o escritor Eduardo Bueno (que alguns chamam de Peninha) que, nos anos 80, criou esta série de livros marginais, como ele mesmo definiu.

A Coleção “Olho da Rua” começou quando Eduardo convidou Antonio Bivar para (re)publicar o seu livro Verdes Vales do Fim do Mundo, que já estava há tempo fora de catálogo. Bivar era co-tradutor, junto com Bueno, da primeira versão da tradução de On the Road. O plano era, a partir deste livro, dar início a uma versão brasileira da Coleção “Rebeldes e Malditos”, criada por Ivan Pinheiro Machado e que, em 1984, já publicava, entre outros, Cartas a Théo de Van Gogh, De Profundis, de Oscar Wilde, Paraísos Artificiais, de Charles de Baudelaire e A correspondência de Arthur Rimbaud.

A edição de "Verdes Vales do Fim do Mundo" de 1984, depois relançada na Coleção L&PM POCKET

“A seguir, convidei Jorge Mautner, Roberto Piva, Pepe Escobar, Reinaldo Moraes e outros malucos para se juntarem ao bando. Precisávamos de um nome para a coleção, que soasse rebelde e maldito o suficiente. Da conversa com o Bivar surgiu o nome “Olho da Rua”, já que vários deles tinham a vivência plena das calçadas e das sarjetas, nunca foram de circular muito pelas avenidas principais e já haviam sido orgulhosamente postos no olho da rua várias vezes. Além de tudo, o “olhar” deles era o olhar típico dos escritores que não produziam seus livros “de pantufas no gabinete, com a lareira acesa e um gato ronronando”. Aí, eu e Ivan achamos o nome não apenas adequado como ótimo. E a coleção saiu. Ela era quase uma “resposta” à Cantadas Literárias, lançada pouco antes pela editora Brasiliense. Resposta não é bem o caso: era complementar a ela e seguia a tendência de editar “marginais”, que a L&PM já fazia tanto na “Rebeldes e Malditos” como na Coleção “Alma Beat”. Era o inicio dos anos 80, o país vivia grande efervescência, todo mundo ansiava pela abertura e pela volta das “liberdades democráticas” e então a “Olho da Rua” veio para resgatar textos já publicados e/ou censurados e também livros inéditos (como “Speedball” de Pepe Escobar e “Abacaxi”, de Reinaldo Moraes).” Conta Eduardo Bueno.

A “Olho da Rua” acabou não ficando só nos brasileiros. Foi nela que, pela primeira vez, Sam Shepard foi publicado no Brasil com o livro Louco para Amar. E também Gasolina e Lady Vestal, de Gregory Corso, De repente, acidentes de Carl Solomon, 7 Dias na Nicarágua Libre, de Lawrence Ferlinghetti, A queda da América, de Allen Ginsberg, Luna Caliente de Mempo Giardinelli e Isadora – fragmentos autobiográficos, de Isadora Duncan.

Alguns dos livros que inicialmente sairam na “Olho da Rua” acabaram sendo relançados na Coleção L&PM POCKET. Como Verdes Vales do Fim do Mundo, por exemplo.

* Toda terça-feira, o editor Ivan Pinheiro Machado resgata histórias que aconteceram em mais de três décadas de L&PM. Este é o quinquagésimo post da Série “Era uma vez… uma editora“.

48. Com os beats na alma


Alma Beat foi o trabalho mais completo editado sobre a Geração Beat no Brasil. Um painel apaixonado e preciso sobre o que eram e o que fizeram os beats. Em suas páginas, eram oferecidos textos escritos por poetas, jornalistas e escritores brasileiros que, de uma forma ou de outra, tiveram suas vidas e suas obras influenciadas pelo movimento. Além de textos inéditos dos próprios beats – como um poema de Kerouac sobre Rimbaud, um texto de Gary Snyder sobre o Brasil e um poema de Ginsberg para Che Guevara! –, Alma Beat trazia artigos de Eduardo Bueno, Antonio Bivar, Roberto Muggiati, Cláudio Willer, Leonardo Fróes, Pepe Escobar e Reinaldo Moraes sobre a ligação dos beats com o jazz, com as drogas, com o zen, com a estrada, com os autores malditos e com a tradição romântica. O livro era ainda complementado pelas autobiografias de Allen Ginsberg, Jack Kerouac, William Burroughs, Gregory Corso, Neal Cassady, Gary Snyder, Peter Orlovsky e Lawrence Ferlinghetti. E tinha também trechos de cartas e entrevistas, além de fotos que naquela época nunca haviam sido vistas no Brasil (lembre-se que em 1984 não dava para pesquisar imagens no Google).

Para completar, Alma Beat mexia com temas considerados explosivos como punk, revolução, sexo, dinheiro e drogas, além de oferecer uma ampla bibliografia. Ou seja, era uma fonte primordial para entender a história e a obra deste grupo de escritores que, mais do que qualquer outro, provocou as maiores e mais significativas mudanças no comportamento dos jovens do mundo inteiro.

Vale dizer que Alma Beat não foi apenas o nome de um livro, mas de uma Coleção criada por Eduardo Bueno que, em 1984, já oferecia Uivo, de Allen Ginsberg, Cartas do Yage, de William Burroughs e Ginsberg, Uma Coney Island da Mente, de Lawrence Ferlinghetti, O livro dos sonhos, de Jack Kerouac, Gasolina e a Lady Virgem, de Gregory Corso, Como nos velhos tempos, De Gary Snyder, O primeiro terço, de Neal Cassady e Crônicas de Motel, de Sam Shepard. Depois, claro, vieram muitos outros. Alguns dos títulos da saudosa “Coleção Alma Beat” estão na Série Beat da Coleção L&PM POCKET. É realmente um mergulho no espírito de Kerouac e sua turma. Vale a pena!

* Toda terça-feira, o editor Ivan Pinheiro Machado resgata histórias que aconteceram em mais de três décadas de L&PM. Este é o quadragésimo oitavo post da Série “Era uma vez… uma editora“.