Por Carlos Urbim*
Comecei a ler Atado de Ervas, não parei mais. Queria desvendar o ramo de histórias e perceber que Ana Mariano é autora de um dos melhores livros desta 57ª Feira do Livro. (…)
Num panorama literário de varões assinalados, que vêm reconstituindo a história do Rio Grande, Ana se aventura pela mesma vertente. E deixa os leitores apaixonados pela forma como junta a vida simples das estâncias gaúchas ao que vai acontecendo no mundo. Tudo registrado, de tanto em tanto, naqueles velhos calendários da Editora Globo. Lá longe há batalhas, no Rio doutor Getúlio assume o poder, vira ditador, depois se mata, seus sucessores hão de ser Jango e Brizola. Aqui na fazenda missioneira é preciso registrar que trouxeram as encomendas, o gado está vacinado, uma ovelha foi carneada, houve outro casamento e mais um funeral.
É delicioso, com aromas de jujos, percorrer a trajetória de famílias a partir dos campos de São Borja, passando por Santa Maria e Porto Alegre, no tempo em que todo mundo viajava de trem. Numa entrevista, a escritora declara que quer apenas apresentar uma narrativa bem urdida por quem está dominando o ofício de contar. Consegue e faz mais do que isso. Traz para a gente o Brasil da primeira metade do século 20 pelo olhar feminino. É um privilégio desatar as ervas de Ana.
* Carlos Urbim é jornalista e escritor e, em 2009, foi patrono da Feira do Livro de Porto Alegre. Este texto foi originalmente publicado na pg. 32 do Jornal Zero Hora do dia 29 de outubro de 2011.