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Todo mundo quer tirar uma casquinha da carta perdida de Neal Cassady a Jack Kerouac

O assunto está rendendo. A carta escrita em 17 de dezembro de 1950 por Neal Cassady e enviada para o amigo Jack Kerouac ficou perdida por mais de 40 anos e acaba de desencadear um conflito entre herdeiros. A carta está com Jean Spinosa que a encontrou entre os pertences de seu falecido pai. Jean havia agendado o leilão para o dia 17 de dezembro deste ano.

Mas eis que os herdeiros de Jack Kerouac conseguiram bloquear o leilão com a alegação de que essa carta não pertence a Spinosa. “A carta pertence ao espólio de Kerouac” disse John Sampas, irmão da terceira mulher de Kerouac, Stella, e executor literário do espólio de Kerouac. O pai de Jean encontrou a carta entre os papéis de uma editora que estava sendo fechada e da qual ele era vizinho.

Pra completar, os herdeiros de Neal Cassady reivindicam os direitos autorais da carta. “Nós nunca chamamos de ‘carta’. É um ‘manuscrito’ passível de publicação”, disse Jami Cassady, filho do meio de Neal e Carolyn Cassady.

Um monte de dinheiro pode estar em jogo, já que essa carta teria inspirado o estilo de escrita do manuscrito original de On the Road que, em 2001, foi vendido por U$ 2,4 milhões.

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Jean Spinosa na segunda-feira, 01 de dezembro, no único dia em que a carta foi exibida aos jornalistas. Foto: Brant Ward / The Chronicle

Encontrada a carta perdida que inspirou o estilo de “On the Road”

Foi a partir de uma carta que recebeu de seu amigo Neal Cassady, em 1957, que Jack Kerouac mudou seu estilo de escrita e produziu On the road em uma espécie de fluxo de consciência. Conhecida como “Carta de Joan Anderson”,  nela Cassady descreveu, em 18 páginas, a mulher com que ele passara um final de semana nos anos 1950.

Considerada perdida pelo próprio Kerouac, que havia contado em uma entrevista ao The Paris Review, em 1968, que a ela havia sido emprestada a Allen Ginsberg que, por sua vez, teria deixado com um amigo que morava em uma casa flutuante no norte da Califórnia. Kerouac disse na entrevista que esse amigo havia caído no mar com a carta e que lamentava muito que isso tivesse acontecido, já que era uma das coisas mais impressionantes que ele já havia lido. O que Kerouac não sabia era que a “Carta de Joan Anderson” tinha sido enviada por Ginsberg a uma editora independente chamada Golden Goose, mas que jamais abriu o envelope e nunca a devolveu. A sorte foi que, quando a editora fechou, um operador de áudio que ocupava o mesmo escritório, guardou alguns papéis, entre eles, a valiosa carta de Cassady.

Foi a filha desse operador que resgatou a preciosidade: “Meu pai não sabia quem era Allen Ginsberg e nem quem era Neal Cassady, nem fazia parte da cena beat, mas ele amava poesia e por isso guardou essa carta” disse em Los Angeles a atriz Jean Spinosa que encontrou a carta ao limpar a casa do pai, após a morte dele há dois anos. “Ele não entendia como alguém poderia querer jogar as palavras de outra pessoa no lixo” por isso a guardou.

Especialistas em cultura beat dizem que essa carta possui um valor inestimável, pois se não fosse ela, Kerouac provavelmente não teria tido o “estalo” de escrever o manuscrito original de On the road.

A carta será leiloada no dia 17 de dezembro.

Os amigos Neal Cassady e Jack Kerouac

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