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Visite a rua de Bukowski de onde você estiver!

Em 2008, foi determinado que a primeira casa de Charles Bukowski, localizada na Avenida De Longpre, tornaria-se um monumento municipal de Los Angeles, Califórnia. A decisão, assim, impediria qualquer construção no terreno onde ele produziu seu primeiro livro Cartas na rua. O local onde Hank viveu por 9 anos continua intocável, e resiste aos novos e luxuosos prédios construídos em seu entorno.

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Que tal conhecer a humilde casa e a rua do Velho Safado? Clique aqui!

 

Parabéns a John Fante, o mestre de Bukowski

E hoje tem mais aniversário para comemorar. O escritor John Fante nasceu em 8 de abril de 1909 e foi, segundo Charles Bukowski, o seu “salvador”. Isso porque, quando o velho Buk ainda era o jovem Buk, ele encontrou uma velha edição de Pergunte ao pó, de Fante, na Biblioteca Pública de Los Angeles. Segundo suas próprias palavras, foi “ouro no lixo”. Bukowski apaixonou-se pelo personagem de Fante, Arturo Bandini, um aspirante a escritor sem recursos que mora em motéis baratos, passa fome e se embebeda sempre que pode. Foi a inspiração que faltava para Bukowski seguir o caminho de uma literatura visceral, de humor ácido e carregada de passagens autobiográficas. No livro Cartas na rua (que tem previsão de lançamento para julho pela L&PM), Bukowski diz que Fante é seu autor preferido. E no artigo “Eu conheço o mestre”, que está em Pedaços de um caderno manchado de vinho, ele conta como descobriu “John Bante” (assim mesmo, com “B”, numa escrachada brincadeira): “Eu tinha um cartão da biblioteca e tirei John Bante de lá. Levei-o comigo de volta para meu quarto e comecei a ler do início. Ele chegava a ser engraçado às vezes, mas era um tipo estranho e calmo de humor, como um homem queimado até a morte que ainda assim acena com um piscar de olhos para o primeiro homem que ateou as chamas…”.

John Fante era filho de imigrantes italianos pobres e toda a sua literatura estava ligada às suas origens. Mas assim como Bandini, Fante não teve o devido reconhecimento em vida e trabalhou durante 40 anos como roteirista em Hollywood. Sua trajetória só começaria a mudar a partir dos anos 1980, quando a Black Sparrow Press, editora dos livros de Bukowski, tirou Pergunte ao pó do limbo. Foi a vez do discípulo salvar o mestre. Fante morreria em 1983, já cego devido ao diabetes.

1933 foi um ano ruim e Sonhos de Bunker Hill são os livros de John Fante na Coleção L&PM POCKET.

Bukowski no novo livro de David Coimbra

Neste sábado, 2 de novembro às 19h, David Coimbra autografa na Feira do Livro de Porto Alegre. As velhinhas de Copacabana e outras 49 crônicas que gostei de escrever, seu novo livro, traz textos que oferecem a experiência genuína, gratificante e insubstituível do prazer da leitura. Entre o mais variados temas das crônicas, até Bukowski está presente:

O velho Buk

Lembro bem quando me caiu nas mãos o meu primeiro Bukowski.

Cartas na rua.

Li aquilo e fiquei pensando: então alguém escreve assim! Alguém que faz a história escorrer página abaixo e faz com que ela penetre aravés dos poros dos dedos do leitor e logo a história já se lhe infiltra nas veias e lhe toma o corpo e a mente e o leitor é tomado, como se lhe atacasse a Bolha Assassina.

Ah, o Velho Buk não era como aqueles estilistas nacionais, chatos para parecer profundos.

Como há desses por aqui, Deus! No colégio, uma vez eles me vieram com O tronco do ipê.

Cara, foi uma dor ler O tronco do ipê.

Todas aquelas mocinhas que enrubesciam ao ver os rapagões cofiando os bigodes.

Passei a odiar personagens que cofiam.

Um personagem simplesmente não pode cofiar.

Sobre o que se trata O tronco do ipê? Quem é mesmo o maldito autor de O tronco do ipê? Não faço ideia.

Só sei que nunca mais quero ler O tronco do ipê, nem nada que seja remotamente parecido.

Mas o velho Buk não tinha nada disso.

O velho Buk escrevia sobre pessoas de verdade, que não falam por mesóclise.

Bem.

Tempos depois, alguém me disse, acho até que foi meu amigo Sérgio Lüdtke:

– Todas as pessoas precisam ler o John Fante!

Uau! Era importante aquilo. Fui ler o John Fante. Pergunte ao pó.

Mal abri o livro e com quem deparo na apresentação? Ele: o Velho Buk. E o Velho Buk dizia ali, sobre o John Fante, o que eu dizia sobre o Velho Buk: que John Fante escrevia com as entranhas.

Bukowski confessou ter se apaixonado de tal forma pelo personagem de Fante, um candidato a escritor chamado Arturo Bandini, que , certo dia, ao discutir com uma de suas ex-mulheres, brandou:

– Não me trate assim! Eu sou Arturo Bandini! Eu sou Arturo Bandini! Eu sou Arturo Bandini.

Gostaria de poder dizer isso.

Porque Arturo Bandini era um homem de verdade, que cedia aos seus desejos, sem ceder à sua integridade. E é disso que o mundo precisa: de pessoas que saibam aproveitar a vida sem se aproveitar das outras pessoas.

(Crônica de As velhinhas de Copacabana, de David Coimbra)

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Um carteiro chamado Bukowski

Foi no dia 25 de janeiro de 1663 que o primeiro carteiro que se tem notícia aqui no Brasil começou a trabalhar. Chamado de “Correio-mor”, ele era responsável pela troca de cartas entre as autoridades que aqui moravam e a Corte, em Portugal, buscando e levando as correspondências que chegavam de navio. Nada mais justo, portanto, que o dia 25 de janeiro fosse escolhido para ser o… Dia do Carteiro. E numa data como esta, nós não poderíamos deixar de homenagear o entregador de cartas mais ilustre da literatura: Henry Chinaski, o alter ego do escritor Charles Bukowski.

Como um bom personagem autobiográfico, Chinaski tem muito em comum com seu criador: bebia demais, teve inúmeros casos com mulheres mais jovens e passou boa parte da vida trabalhando como entregador de cartas, apesar de odiar o ofício.

É no romance Cartas na rua, escrito em 1974, que Chinaski aparece pela primeira vez. “Tudo começou como um erro”, ele anuncia já na primeira linha do texto. Este “erro” foi justamente ter se candidatado à vaga de carteiro temporário na época, há mais de uma década atrás, já que o ofício de escritor não lhe pagava nem a bebida. Quando se deu conta, já estava em seu segundo cargo no correio e carregava nas costas 14 anos de uma rotina maçante – ainda mais para um homem de meia-idade que estava sempre de ressaca.

A rotina de entregador de cartas é descrita em detalhes por Bukowski, inclusive a parte dos cães – que, todo mundo sabe, odeiam carteiros.

Era um verão quente e ele veio PULANDO de um quintal e então SALTOU, cruzando o ar. Seus dentes estalaram, errando por pouco a minha jugular.

– OH, JESUS! – gritei – OH JESUS CRISTO! ASSASSINATO! ASSASSINATO! SOCORRO! ASSASSINATO!

A fera deu meia-volta e saltou de novo. Acertei sua cabeça em cheio com a sacola, bem no meio do salto, as cartas e as revista voaram. Ele estava pronto para saltar outra vez quando dois caras, os donos, surgiram e o agarraram. Então, enquanto o cão me encarava sem parar de rosnar, eu me agachei e recolhi as cartas e as revistas que teria de reorganizar em frente à varanda da casa seguinte.

– Seus filhos da puta dementes –  eu disse aos dois homens – esse cachorro é um assassino. Livrem-se dele ou mantenham ele longe da rua!

E não eram só os cachorros os responsáveis por transformar a rotina de Henry Chinaski num inferno. Mais a frente, ele explica:

Todas as rotas tinham armadilhas e apenas os carteiros regulares as conheciam. Todo dia era a mesma merda, e você precisava estar preparado para um estupro, um assassinato, cães ou algum tipo de insanidade. Os regulares não revelavam seus segredinhos. Era a única vantagem que tinham – exceto saberem seus itinerários de cor. Era de matar para um novato, principalmente para um que bebia a noite inteira, ia para a cama à duas, levantava às quatro e meia, depois de trepar e cantar a noite toda, e quase conseguir sair ileso de tudo isso.

Depois de tudo isso, fica mais do que merecida a nossa homenagem a todos os carteiros! E se quiser ler outras peripécias do grande Henry Chinaski, elas estão contadas em vários outros romances como Mulheres, Misto-Quente, Factótum e Hollywood.

Retrospectiva: os destaques L&PM de 2011

2011 está na porta de saída. E como não poderia deixar de ser, a despedida do ano que termina vem com olhares para trás. A retrospectiva, afinal, faz parte do adeus e uma lista de “melhores do ano” acaba sendo tão tradicional quanto preparar o champanhe, a roupa branca e os fogos de artifício para o réveillon. Ao pensarmos no ano que chega ao fim (e em tudo que lançamos ao longo dele), fica bem difícil escolhermos os 10 livros mais marcantes. Porque foram vários e todos eles especiais. Acabamos levando em conta os títulos que tiveram mais destaque nas redes sociais e na mídia. E aqui estão eles no nosso “Top Ten L&PM 2011”.

A entrevista de Millôr Fernandes – Lançado em fevereiro de 2011, o livro apresentou aos leitores a mais longa e reveladora entrevista do grande Millôr, realizada no início dos anos 80 para a Revista Oitenta, então editada pela L&PM. É um intenso e bem-humorado depoimento que revela todas as faces de um dos maiores intelectuais do Brasil.

Biografia de Marilyn Monroe – Em março, Marilyn Monroe chegou à série Biografias L&PM. Um livro que revelou ser como sua personagem: a partir da primeira linha, impossível tirar os olhos dele. A família, os amores, os filmes, os dramas, tudo está aqui em frases que soam como o sussurro de uma diva.

Mulheres – Depois de anos esgotado no Brasil, Mulheres, um dos livros mais cultuados de Charles Bukowski, chegou à Coleção L&PM Pocket em meados de 2011. Também não dá para deixar de citar Cartas na Rua, o primeiro romance escrito por Bukowski e que, lançado em setembro, fez com que todos os romances do velho Buk agora estejam aqui. 

Os Smurfs – Aqui não vale a pena citar apenas um título dos Smurfs, mas dois: “O Smurf Repórter” e “O bebê Smurf” que, lançados em álbuns coloridos e em versão pocket, smurfaram por todas as livrarias e bancas do país. Lançados na mesma época do filme, fizeram tanto sucesso que ganharam até uma fan page especial no Facebook.  

Caixa Russa – Este não é exatamente um livro, mas uma caixa inteira. Mas é impossível não dar destaque para ela, pois além de ter chamado atenção, virou objeto de desejo de muita gente, com seus sete títulos que juntam duas obras de Gogol, duas de Tolstói, duas de Tchékhov e uma de Dostoiévski.

Feliz por nada – Apesar do título do livro de Martha Medeiros, motivos para ficar feliz não faltaram com as crônicas de Feliz por nada. Lançado em julho de 2011, ele logo foi parar na lista de mais vendidos de Veja, Época e O Globo e fecha o ano como um dos maiores sucessos literários do Brasil em 2011.

Atado de Ervas – O primeiro romance escrito por Ana Mariano foi a revelação do ano. Sucesso de público e crítica, ele levou a autora a concorrer ao Prêmio Fato Literário, promovido durante a Feira do Livro de Porto Alegre em 2011. Em suas 400 páginas, o livro monta um grande mosaico da vida no interior do Rio Grande do Sul.

Enciclopédia dos Quadrinhos – Revisada, atualizada e ampliada, a nova edição da Enciclopédia dos Quadrinhos, organizada e escrita por Goida e André Kleinert, foi lançada em outubro para alegria dos fãs de HQs. Ela traz referências inéditas a pesquisadores, fanzineiros e editores da área.

A vida segundo Peanuts – O destaque aqui poderia ser para o volume 4 de Peanuts completo, lançado em março. Ou para o belo O Natal de Charlie Brown. Mas A vida segundo Peanuts, que chegou em novembro, merece estar aqui por sua simplicidade e por ser um “gift book” muito fofo, livro perfeito para virar presente (até porque custa apenas 15 reais!).

Mangás – Aqui o destaque é para uma série. Quando os mangás chegaram à Coleção L&PM Pocket, em novembro, o alvoroço foi grande, pois os fãs do gênero não deixaram de se manifestar positivamente. Primeiro vieram Solanin 1, de Inio Asano, e Aventuras de Menino, de Mitsuru Adachi. Em dezembro, foi lançado Solanin 2.

As mulheres de Bukowski estão em casa

A capa de "Mulheres" que breve estará na Coleção L&PM POCKET

“Mulheres” e “Cartas na rua” são dois clássicos de Charles Bukowski (1920 – 1994) que foram contratados pela L&PM depois de vários anos de tentativas. Livros mais antigos, já publicados por outros editores, às vezes caem num “limbo” onde, por questões legais, deixam de ser publicados. Ou seja: por melhores e mais vendáveis que eles sejam, acabam não sendo recontratados porque envolvem filhos, netos, sobrinhos, mulheres, ex-mulheres… E por aqui não foi diferente. Mas finalmente conseguimos e, para completar os 16 títulos de Bukowski já publicados nesta casa, o romance “Mulheres” chegará em junho e “Cartas na rua” entre julho e agosto.  

Charles Bukowski representa o lado sombrio do “sonho americano”. Filho de pai americano de origem alemã e de mãe alemã, sua infância foi marcada pela violenta repressão familiar. Em 1923, o casal Bukowski estabeleceu-se nos EUA. Charles cresceu tímido, anti-social e complexado devido à acne que devastou seu rosto. Na adolescência, descobriu que o álcool fazia com que se comunicasse com o mundo. Mais tarde ele escreveria que a origem de seu alcoolismo era de que “ele havia descoberto no álcool uma forma de suportar a vida”. Curiosamente, antes de ser famoso nos EUA, foi best seller na Itália. Sua editora italiana, SugarCo, lançava os livros ao mesmo tempo em que saiam nos EUA.  Bukowski escreveu muito – mais de 50 livros – e por toda a vida foi fiel a sua editora Black Sparrow que acabou sendo vendida para a gigante Harper Collins.

Transgressor nato, poeta e ficcionista de enorme talento, seus livros são verdadeiros clássicos da contra-cultura. Sua prosa espanta, paradoxalmente, pelo lirismo e pela violência. Mais do que um autor pós beat, Bukowski é único e sua obra é um longo e poderoso grito de dor. O romance “Mulheres” foi lançado originalmente em 1978 e, depois de ser publicado pela primeira vez no Brasil em 1984, ficou décadas fora do mercado. Felizmente, agora ele está de volta.

Conheça aqui outras “Mulheres” de Bukowski que estão (ou estiveram) espalhadas pelo mundo:

A primeira edição, publicada pela Black Sparrow

Uma das edições da Itália, país que sempre acolheu Bukowski

A edição francesa manteve o nome original

Aprenda: "Kobiety" quer dizer "Mulheres" em polonês

A Alemanha mudou o nome para algo como "A vida amorosa de Hyäne"

"Mujeres" também fez sucesso na Espanha

O imortal Bukowski

Apesar do estilo intenso de Bukowski levar a vida – tinha o álcool como fiel companheiro e não raro estava metido com drogas e orgias –  foi a leucemia que, em 9 de março de 1994, deu fim à vida de Henry Charles Bukowski Jr. – ou Hank para os íntimos.

“Don’t try” é o recado que ficou na lápide de seu túmulo, em Los Angeles. Parece que nem mesmo ele acreditava que chegaria tão longe, pois sempre que o assunto era morte, o tom era de conformismo, beirando a ironia:

“Sei que vou morrer logo e isso me parece estranho. Sou egoísta, gostaria de continuar a escrever mais palavras. Isso me dá um brilho, me joga no ar dourado. Mas, na verdade, por quanto tempo posso continuar ainda? Não é certo continuar. Diabos, de qualquer forma, a morte é gasolina no tanque. Nós precisamos dela. Eu preciso. Você precisa. Nós emporcalhamos o lugar se demorarmos demais.” (em O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio)

No site oficial do escritor, encontramos estas duas fotos em que ele simula seu próprio enterro:

Mas se depender da L&PM, o velho Hank jamais morrerá. Prova disso são os livros da série Bukowski.

10. Bukowski levanta o tapete e mostra a sujeira

Por Ivan Pinheiro Machado*

Charles Bukowski é publicado pela L&PM há quase três décadas. É por isso que o velho safado é super-identificado com a editora que publicou até agora quinze livros seus, incluindo “Delírios Cotidianos”, a bela adaptação de seus contos para HQ feita pelo desenhista alemão Mathias Schultheiss. Nesse ano de 2011, vamos publicar finalmente os seus primeiros romances, “Cartas na rua” e o incensado “Mulheres”. Aí teremos em nosso catálogo todos os seus romances, os principais livros de contos, alguns de suas melhores obras de poemas e o antológico “diário” publicado postumamente: “O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio”. Bukowski conquistou a admiração dos jovens de várias gerações; daqueles que são jovens há muito tempo e daqueles que são jovens recentemente. Esta permanência no coração dos leitores se deve a uma obra descarnada, sobre a qual paira a irresistível aura de transgressão. Há malucos que se tornam santos com o passar do tempo como Van Gogh, Rimbaud, Baudelaire, Artaud, Thoureau, Kerouac, Bukowski, entre dezenas de outros. E esta maravilhosa capacidade da juventude de cultuar aqueles que descarrilham dos trilhos do sistema transforma artistas marginalizados em clássicos. Desde que morreu, em 1994, a obra de Heinrich Karl Bukowski, dito Charles Bukowski, tem corrido o mundo. O bêbado inconveniente capaz de performances desastrosas, completamente embriagado em frente às câmeras da TV, passou a ser respeitado.

O lado sombrio do sonho americano

Nasceu na Alemanha e criou-se nos EUA, filho de um militar de origem alemã que lhe aplicava surras terríveis. Sua prosa e seus poemas “cortam como aço de navalha” e sua obra sistematicamente é o contraponto brutal ao “american way of life”. Foi 1982 que ouvimos falar de Charles Bukowski aqui na L&PM. Curiosamente, ele começava a fazer sucesso na Itália e a agente literária Ana Maria Santeiro, que representava a agência Carmen Balcells no Brasil, me passou um exemplar do livro “Erections, ejaculations, exhibitions and general tales of ordinary madness”. Fiquei perplexo com o título e fascinado com a violência dos contos. Na mesma época, o cineasta italiano Marco Ferreri fez um filme baseado no livro que chamava-se “Crônica de um amor louco”(em italiano “Storie di Ordinaria Folia”), com Ben Gazzara e a maravilhosa Ornella Muti que fazia o papel da “mulher mais linda da cidade”, um dos contos do livro. Rapidamente, a fama do filme espalhou-se e ele virou um verdadeiro “cult” da contra-cultura. Nós compramos os direitos do livro para o Brasil e o publicamos em dois volumes; o primeiro com o título do filme “Crônica de um amor louco” e no segundo adaptamos o título original para “Fabulário geral do delírio cotidiano”. Até hoje publicamos estes livros, agora na Coleção Pocket.

Em 1986, eu estava na Feira Internacional de Frankfurt com o dublê de jornalista e historiador Eduardo Bueno (que na época trabalhava na L&PM) quando conhecemos John Martin, o dono da legendária Black Sparrow, que publicou todos livros do velho Buk, com exceção de “Erections, ejaculations…” que saiu pela editora e livraria City Lights de San Francisco, pertencente até hoje ao poeta beat Lawrence Ferlinghetti. Martin era um grande editor. Foi ele que percebeu o talento de Bukowski e estimulou-o a largar o emprego nos correios e dedicar-se a literatura. Hoje, quase todos os seus livros estão na Coleção L&PM POCKET e o baixo preço é um apelo a mais para que os jovens o leiam. Bukowski não perdoa, não alivia. É sempre violento, irreverente, não tem nenhuma ilusão. É bom que os jovens o leiam. Ele é uma alternativa ao mundo idealizado que virou moda depois da vitória final da civilização do dinheiro e da globalização. Bukowski escancara o lado sombrio da nossa sociedade. Ele levanta o tapete e mostra a sujeira. É a voz dos desvalidos, dos perdedores, dos desempregados, dos doentes, dos falidos, dos feios, das putas, dos bêbados. Não tem nenhum charme, mas a violência que jorra das suas páginas é tão verdadeira que não tem como ficar indiferente.

Para ler o próximo post da série “Era uma vez uma editora…” clique aqui.