Por Marina Ferreira*
A primeira vez que eu ouvi falar de desenhos japoneses (os animes) foi quando eu era criança. Devia ter uns 6 ou 7 anos de idade. Uma amiga me convidou para brincar de Cavaleiros do Zodíaco – e eu lá nem sabia o que eram estes cavaleiros, mas resolvi brincar mesmo assim. Apesar de não entender bulhufas da brincadeira, fiquei curiosa. Decidi assistir ao desenho, que passava na (agora extinta) Rede Manchete.
Foi amor à primeira vista. Um amor que cresceu e se expandiu nos anos que se seguiram, apesar da recessão de animes e mangás que o Brasil sofreu no final da década de 90.
Uma agradável surpresa foi descobrir que a L&PM pretendia publicar seus próprios mangás. A minha paixão, que havia diminuído de intensidade nos últimos anos, voltou a crescer à medida que eu assistia o processo de produção dos livrinhos, a confusão com a leitura invertida, a transformação dos símbolos nipônicos em palavras que eu podia entender.
Dos títulos lançados, o que mais gostei foi o Solanin de Inio Asano. O mangá, publicado em dois volumes, conta a história do casal de namorados Meiko e Tanada, que decidem largar a segurança de uma vida estável, mas aborrecida para correr atrás de um sonho. Embora aconteça no Japão, os conflitos apresentados em Solanin são universais; qualquer pessoa que um dia se sentiu sem rumo e pensou em arriscar tudo por um sonho poderá se enxergar entre seus personagens, partilhando de seus sorrisos e suas lágrimas.
O belo e limpo traço de Asano conta uma história realista, pungente e surpreendentemente humana. É por isso que, para mim, Solanin pode ser considerado um grande livro, disfarçado de quadrinho, capaz de agradar até aqueles que nunca quiseram saber dos tais dos Cavaleiros do Zodíaco…
* Toda semana, a Série “Relembrando um grande livro” traz um texto assinado em que grandes livros são (re)lembrados. Livros imperdíveis e inesquecíveis.