Por Ivan Pinheiro Machado
Segundo a revista Veja, 99,9% dos leitores de “Cinquenta tons de cinza” são mulheres. Portanto, estou entre os 0,1% dos homens que leram o livro. Porque eu li? Primeiro por dever profissional – meu trabalho é editar livros; segundo, por curiosidade. Desta esmagadora estatística que aponta quase 100% de leitura feminina, pode-se concluir que os homens não estão muito interessados em saber no que as mulheres estão pensando. E isto pode ser um problema… Nota-se que a mulherada está ávida por este livro, a ponto de estabelecer um recorde histórico no mercado editorial: “Cinquenta tons…” vendeu em seis semanas o que o mega bestseller “O Código da Vinci” vendeu em dois anos. Ou seja, nunca na história um livro vendeu tanto em tão pouco tempo. Não vou falar sobre os méritos literários, ou a falta deles. Longe de mim falar mal de uma obra que as mulheres – segundo todos os veículos de comunicação da terra – têm devorado ansiosamente em todos os quadrantes. Não sei o que a turma da burka acha disso, mas o fenômeno de vendas é planetário. Em poucas palavras, este mega bestseller consagra as frases célebres de Nelson Rodrigues escritas há mais de 50 anos: “Mulher gosta de apanhar” e “Dinheiro compra até amor verdadeiro”. Grosso modo (!), e vendo tudo com muito bom humor, esta é a síntese perfeita do livro “Cinquenta tons de cinza”. Christian Grey, o milionário pervertido e Anastassia, a virgem submissa, protagonizam a comprovação das teses rodriguianas, meio século depois. Eu acho que nós definitivamente não sabemos nada sobre o universo feminino. Somos seres anacrônicos que mandamos flores, dizemos gracinhas, fazemos galanteios… Christian Grey, o bilionário estúpido, tornou-se, com uma torrente de grosserias e muita palmada na bunda, o herói de (quase) todas as mulheres…