No dia 2 de dezembro de 1814, exatamente dez anos depois de Napoleão ter sido coroado imperador, morria o Marquês de Sade. De seus 74 anos de vida libertina, 29 foram passados em prisões e asilos para doentes mentais. Sade foi encarcerado pela monarquia, pelos revolucionários e pelo império. E também foi até o limite do prazer. Na literatura e na vida. Seus livros descrevem a satisfação de torturar e de humilhar o parceiro em nome do prazer. Quando não estava preso, vivia em alvocas, prostíbulos e apartamentos alugados para onde levava prostitutas que era apresentadas a uma coleção de chicotes, cinturões de couro e correntes. Antes de Sade, não existia o sadismo. Seus escritos chocaram, causaram revolta, foram chamados de grotescos. Mas as mulheres amaram o Marquês. E ele amou as mulheres. Tanto que criou a personagem Justine. Renné de Sade, sua primeira esposa, era habitué nas orgias do marido – a mais célebre delas com a participação de todas as criadas da casa. Em 1801, já velho e separado da mulher, Sade mais uma vez foi preso, dessa vez no Hospício de Charenton, onde encantou-se pela jovem filha de uma carcereira (essa história é narrada em “Contos proibidos do Marquês de Sade”, filme dirigido por Philip Kaufman). Sedutor, Sade planejava produzir peças pornográficas quando saísse do manicômio. Não teve tempo para isso. Morreu em sua cela, numa França regida por Napoleão, obeso e bem menos sedutor do que nos áureos tempos das orgias. Foi enterrado no cemitério de Chareton em uma cova sem nenhuma inscrição, mas que mesmo assim recebeu uma cruz.
Do Marquês de Sade, a L&PM publica Os crimes do amor e O marido complacente.