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David Bowie cantou Andy Warhol

David Bowie partiu para as estrelas. Foi encontrar Ziggy Stardust. E nós, reles mortais, ficamos aqui, a olhar para o céu, enquanto entoamos suas canções.

No seu álbum Hunky Dory, de 1971, época de um psicodélico e andrógino Bowie, ele lançou uma canção chamada “Andy Warhol” (Andy Wahaal, segundo defendia sua pronúncia). Ela começa justamente com uma conversa de estúdio em que Bowie explica para o produtor Ken Scott a forma correta de dizer “Warhol”. A música tornou-se memorável com início em estilo flamenco e o violão acústico que segue pela melodia afora. Depois de fazer sua versão da letra, que originalmente foi escrita por Dana Gillespie, Bowie tocou-a para Warhol antes de gravá-la. Quando a música terminou, os dois teriam se olhado e permanecido em silêncio por um tempo. Até que Warhol disse “I like your shoes”. Em seguida, a dupla teria tido uma conversa sobre sapatos.

David Bowie é uma das tantas personalidades que está citada no livro “Diários de Andy Warhol“.

 

Papai Noel é pop

Essa é pra voltar a acreditar que Papai Noel existe: Andy Warhol vestido de bom velhinho ao lado de Truman Capote. Com direito a pirulito e cachorrinho… A foto faz parte do material de making off da sessão feita em 1979 pelo badalado fotógrafo Mick Rock. Warhol e Capote eram amigos e se falavam com frequência. Em Diários de Andy Warhol, publicado em dois volumes na Coleção L&PM POCKET, o autor de À sangue frio, Bonequinha de Luxo e Os cães ladram, aparece com frequência.

Sábado, 2 de junho, 1979. Truman telefonou e está furioso com Lee Radziwill por ter deposto contra ele no processo de Gore Vidal. Foi assustador. Disse que ela vai “cagar giletes” depois que ele aparecer no The Stanley Siegel Show de terça-feira para “dizer umas verdades sobre ela”. E ficou dizendo, “E aí, você não concorda? Você não concorda? Qual o problema, você não está dizendo nada”. Foi realmente horrível. Eu disse, “Olhe Truman, ela está tão fraca agora que pode até se suicidar”. E ele disse: “Tanto pior”. E, “Se eu contasse a você todas as coisas que ela disse sobre você…” Eu disse que não me importava, que nunca pensei nela como uma amiga. ( Trecho de Diários de Andy Warhol)

O bolo de aniversário de Andy Warhol

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Segunda-feira, 6 de agosto, 1979. Meu aniversário. Quando cheguei ao escritório fui logo cortar o bolo para não ter que fazer isso na frente de todo mundo. Gosto horrível. Brigid encomendou daquela mulher de Nova Jersey. Eu pedi que ela se certificasse de que seria um bolo de noiva. Tinha três andares. Mas no final não era grande o suficiente. Todo dia as pessoas ficaram entrando e saindo e comendo o bolo. Normalmente eu ignoro meu aniversário e dou ordem para todo mundo não mencionar o fato, mas neste ano eu estava com espírito de festa e não queria ir contra. Na realidade eu mesmo organizei a festa e convidei as pessoas.  (Trecho de Diários de Andy Warhol Vol. 1 – Coleção L&PM Pocket).

Adrew Warhola nasceu em 6 de agosto de 1928 sob o signo de leão e, ainda jovem virou Andy Warhol, o papa da pop arte. Apesar de não gostar de comemorar aniversários, ele adorava bolos. Para comer e para desenhar:

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Quer saber mais sobre o célebre artista pop? A L&PM publica Andy Warhol na Série Biografias; Diários de Andy Warhol em dois volumes e América, livro com fotos feitas por ele.

Diários de Andy Warhol, parte II

Por Antonio Bivar*

No número passado da J.P [revista Joyce Pascowitch] esta coluna deu, com o título “Brasileiros nos Diários de Andy Warhol”, os dias em que Andy comentava seus encontros com brasileiros nas festas nova-iorquinas na década de 1970 e primeiros anos dos 80s. Pelé era o mais citado, mas bem citados também eram Elizinha Gonçalves, Florinda Bolkan, Santos [Dumont] (o relógio de pulso da Cartier) e outros. São pérolas como de resto todo o au jour le jour warholiano. Segundo o jornal inglês The Guardian, “os Diários são sua última grande obra de arte”. E são mesmo. Todas as manhãs, religiosamente Andy Warhol por telefone ditava à Pat Hackett o que rolara na véspera. Hackett gravava e depois editava. Warhol morreu em 1987 e com sua morte o diário parou. Dois anos depois, em 1989, os Diários de Andy Warhol saíram num único volume de mais de mil páginas. No Brasil foi publicado no mesmo ano, pela L&PM, traduzido por Celso Loureiro Chaves. Em 2012, 23 anos depois, a editora lançou os Diários em dois volumes populares L&PM Pocket. Mês passado aqui na revista compilei preciosidades do primeiro volume e agora passo aos do Volume II, que pegam os dias de 1982 a 1987. Não preciso dizer mais sobre os dias agora compilados porque o au jour le jour de Andy Warhol vai direto ao ponto. Gênio. Têm todo o charme de “antigamente a vida era assim”. Vintage.

Quarta-feira, 17 de março, 1982. Jon veio me buscar às 8 da noite e fomos para a casa de Diane von Furstenberg, que estava dando uma festa sem motivo específico, mas acho que talvez fosse para alguém rico da Indonésia.

Domingo, 4 de abril, 1982. Havia um coquetel que Henry estava dando na casa de Anna Wintour, onde ela mora com aquele Michael Stone. Estou começando a achar que talvez Henry não saiba o que seja uma festa elegante, que talvez não tenha ido a muitas. Porque esta festa – quer dizer, nem serviram comida. Era das 6h30 às 8h30 e só serviram bolachinhas. Havia três empregadas, mas e daí? Não tinha comida!

Sábado, 11 de setembro, 1982. Decidi fazer um livro fotográfico de verdade de apartamentos de verdade. Não casas fotográficas como a Architectural Digest faz, mas só mostrando como as pessoas realmente moram. Não é uma boa ideia? Bianca acaba de conseguir um apartamento de dez quartos no El Dorado. Parece um lugar tipo Barbra Streisand.

Segunda-feira, 20 de setembro, 1982. Saí mais cedo para chegar a tempo de ver Lana Turner na Bloomingdale’s. Comprei um de seus livros. E ela disse, “Não sei se quero falar com você, tirei você das minhas orações, você disse que eu era melhor quando não tinha encontrado Deus”. Fiquei num estado de nervos terrível, disse “Ah, não, Lana, você tem que rezar por mim, por favor me coloque de volta nas suas orações!” Finalmente ela autografou o livro e escreveu “Para um amigo?”, com um ponto de interrogação. Lana, seu cabelereiro bicha e eu estávamos todos com o mesmo penteado.

Quarta-feira, 27 de setembro, 1983. Bianca ligou e me convidou para o almoço para o ministro de cultura sandinista da Nicarágua. Era uma mulher. Quer dizer, e aí ela ficou dizendo que a revolução verdadeira está vencendo, que “está chegando a hora do povo”. E, sei lá, é tudo tão abstrato, mas aí aquela noite na festa dos Heinz com todos aqueles ricaços republicanos também fiquei com uma sensação de medo. É como qualquer pessoa que tem poder, não vai querer que ninguém mais tenha.

Domingo, 4 de dezembro, 1983. Depois fomos para o Four Seasons. Apertei a mão de Jackie O., ela nunca mais me convidou para sua festa de natal, é uma cretina. E agora eu nem iria se me convidasse. Eu a mandaria cuidar de seu nariz. Quer dizer, temos a mesma idade, portanto posso dizer-lhe algumas verdades. Embora eu ache que ela seja mais velha do que eu. Mas, aí, acho que todo mundo é mais velho que eu.

Quarta-feira, 2 de maio, 1984. Estou com nojo da maneira como tenho vivido, de todo esse lixo, de levar sempre mais coisas para casa. Tudo o que quero são só paredes brancas e um chão limpo. Não ter nada é a única coisa chique. Quer dizer, por que é que as pessoas possuem coisas? É realmente idiota.

Segunda-feira, 4 de junho, 1984. Tinha que embarcar a “Marilyn”, foi um pouco deprimente. Para aquele tal Saatchi na Inglaterra. Vai ajudar no nosso pagamento da hipoteca e coisas assim, mas não sei se foi uma boa ideia vender.

Domingo, 24 de junho, 1984. Comprei maquiagem na Patricia Field (maquiagem $28,70, táxi $7.50). Comprei vermelho japonês. Mas gosto daquelas coisas da Fiorucci que são apenas uma mancha que dá aos lábios da gente um marrom natural. Porque meus lábios eram tão carnudos e agora não são, desapareceram. Para onde terão ido?

Domingo, 5 de agosto, 1984. Enfim, Jean Michel [Basquiat] queria que eu fosse ver suas pinturas na Great Jones Street, então fomos lá e é um chiqueiro. O amigo dele, Shenge, o negro, mora com ele e deveria estar tomando conta daquilo, mas é um chiqueiro. E tudo cheira a maconha. Me deu algumas pinturas para eu trabalhar. Fui embora (táxi $8).

Terça-feira, 9 de outubro, 1984. Aniversário de Sean Lennon. E fomos para o Dakota. Vigília na frente do prédio porque o dia 9 é aniversário de Sean e de John. Yoko correu para chamar Sean. Fomos para o quarto de Sean – havia um garoto lá instalando o computador Apple que Sean ganhou de presente, o modelo MacIntosh. Eu disse que uma vez alguém tinha me ligado querendo me dar um, mas eu nunca liguei de volta, e aí o garoto me olhou e disse, “Claro, era eu, sou Steve Jobs”. E tem um ar tão jovem, como um universitário. Ele disse que ainda quer me dar um computador. E que vai me ensinar a desenhar com ele. Ainda vem apenas em preto e branco, mas logo vão fazer a cores.

Sábado, 23 de março, 1985. E fiquei seguindo [Greta] Garbo pelas ruas. Tirei fotos dela. Tenho certeza de que era ela. Estava de óculos escuros, um casaco enorme, calças compridas e aquela boca, e ela entrou na loja Trade Horn para conversar com uma mulher sobre TVs. Exatamente o tipo de coisa que ela faria. Aí tirei fotos dela até achar que ela ficaria furiosa e então fui a pé para downtown. Eu também estava sozinho (risos). Sábado, 13 de julho, 1985. Vi aquela coisa, Live Aid, na TV. Jack Nicholson apresentou Bob Dylan e o chamou de “transcendental”. Só que para mim Dylan nunca foi realmente de verdade – sempre copiou pessoas de verdade e as anfetaminas fizeram com que parecesse mágico. Com as anfetaminas ele conseguia copiar todas as palavras certas e fazê-las parecer verdadeiras. Mas aquele garoto nunca sentiu absolutamente nada – (risos) a mim ele nunca enganou.

Segunda-feira, 22 de julho, 1985. Fui à pré-estreia de Beijo da Mulher Aranha (táxi $5). É o filme que Jane Holzer produziu com David Weisman, aquele cara do Ciao Manhattan. Não o suporto, portanto odeio ter que dizer que gostei do filme. Acho que agora as pessoas estão querendo mais filmes de arte, ou algo assim, é a hora certa.

Sexta-feira, 16 de agosto, 1985 – Los Angeles. Foi mesmo o fim de semana mais excitante da minha vida. Fomos de limusine até Malibu e quando vimos os helicópteros lá longe desconfiamos que era por causa do casamento. Uns dez helicópteros estavam ali por cima, era igual Apocalypse Now. Olhei para Madonna bem de perto e ela é linda. E a única celebridade chata mesmo era Diane Keaton. Sean veio nos cumprimentar e a família bonita de Madonna estava lá, todos os irmãos. E dá para perceber que Madonna e Sean se amam muito, foi a coisa mais excitante do mundo. Ah, e quando estávamos indo embora não consegui acreditar: Tom Cruise pulou para o nosso carro para fugir dos fotógrafos. Tirei uma foto dele. Fred e eu achamos que o casamento de Marisa [Berenson] foi mais glamuroso, mas este foi espetacular por causa dos helicópteros.

Sábado, 17 de agosto, 1985 – Los Angeles. E Cher foi divertida. E nos contou que durante o casamento Madonna pediu a ela que lhe ensinasse a cortar o bolo. Cher disse, “Como se eu soubesse”. E aí Madonna ficou passando as fatias com a mão. Sabe, estava sendo “bem terra”.

Quarta-feira, 9 de outubro, 1985. E eu matei uma barata e foi um trauma. Um trauma enorme mesmo. Fiquei me sentindo horrível.

Sábado, 19 de outubro, 1985. Encontrei Bill Katz, que se rasgou em elogios sobre minha exposição conjunta com Jean Michel [Basquiat] na galeria de Tony Shafrazi. Encerra esta semana. Jean Michel está ganhando todos os elogios, não eu. E Tony não está muito contente, parece que não vendeu muita coisa.

Domingo, 3 de novembro, 1985. Ah, e como é que a gente se livra de ficar velho? Minha mãe tinha a idade que tenho agora quando veio para Nova York. Naquela época eu achava que ela era realmente velha. Mas aí ela chegou aos oitenta. Tinha muita energia.

Domingo, 9 de março, 1986. Dizem no Times que Imelda Marcos deixou 3 mil pares de sapatos nas Filipinas. Talvez ela fosse trash. E encontraram material pornô no quarto de Marcos. [E em 16 de março:] E os Marcos ainda estão no noticiário. Agora encontraram 3 mil calcinhas pretas. E a conta deles no Bulgari chegava a $1 milhão.

Sexta-feira, 25 de abril, 1986. Li nos jornais que Grace Jones vai me levar ao casamento Schwarzenegger-Shriver no seu avião, aí acho que Grace ligou para o seu assessor de imprensa e pediu para divulgar. Portanto acho que estamos mesmo indo. Trabalhei nos desenhos de Maria Shriver que vou dar de presente de casamento.

Sábado, 26 de abril, 1986 – Nova York-Hyannis, Massachusetts-Nova York. E apreciando aquele casamento de conto de fadas não dava para deixar de pensar em como vai ser quando chegar a hora do divórcio. Jackie comungou e por isso caminhou por toda a igreja com John-John só para se mostrar. Estava linda. A missa durou uma hora e o casamento levou quinze minutos. Uma mulher cantou “Ave Maria”.

Terça-feira, 14 de outubro, 1986. Briguei com Fred [Hughes]. Ele está ficando cada dia mais parecido com Diana Vreeland. Eu digo que Interview é uma revista pequena e ele diz não não, não é. E não me deixa dar opiniões sobre o assunto. Eu digo, “Fred, Time é uma ‘revista grande’. Eles cobram $75 mil por página. Nós cobramos 3 mil.” E ele diz, “Não, não, nós cobramos $3.1 mil”. Quer dizer, …

Domingo, 25 de janeiro, 1987. Kenny Scharf ligou tentando me convencer a comprar terras no Brasil e eu estava pronto para lhe enviar um cheque, mas daí Fred gritou comigo por causa desse assunto quando estávamos na França, insistindo que são apenas vendas de mercado negro, sem contrato algum e nenhuma prova de que a gente é realmente o dono. Mas é muito barato. E a Paige queria entrar nisso comigo e até iria lá durante uma semana para verificar as coisas. A gente ganha (risos) um coqueiro só pra gente. Mas dizem que há muitas mortes por lá e que podem tirar a terra da gente a qualquer momento. Mas, ei, é muito barato.

* Texto escrito para a edição de fevereiro de 2014 da revista Joyce Pascowitch, em breve nas bancas.

Brasileiros (entre outros) nos Diários de Andy Warhol

Por Antonio Bivar*

Num único volume de mais de mil páginas, editado por Pat Hackett, o Diários de Andy Warhol foi primeiro publicado em 1989, dois anos depois de sua morte. A tradução brasileira, por Celso Loureiro Chaves, saiu aqui no mesmo ano, pela L&PM. Daí que, 15 anos depois, passando por uma banca de revistas vi que os Diários estavam de volta, agora, para conforto do leitor, publicados em dois volumes pela L&PM Pocket (R$ 29 cada volume). Na banca só havia o primeiro volume e não resisti: comprei. Eu já tinha lido a edição americana assim que saiu e era novidade. Na releitura, 15 anos depois, sem o compromisso tipo obrigatório da novidade, o prazer é maior e com todo o L’Air du Temps de décadas já bem passadas. Ainda que grosso, esse primeiro volume (600 páginas, de 1976-1981) é um registro warholiano do turbilhão de festas, eventos, lugares e nomes coruscados na explosão do culto às celebridades, culto que teve seu primeiro surto naquela época. Todas as manhãs Andy Warhol ditava por telefone a Pat Hackett como fora o seu dia anterior, e Pat, exímia taquígrafa tudo anotava. Diário é uma espécie de sacola onde se joga tudo. De modo que, da sacola do Andy pesquei algumas pérolas, entre as quais algumas em que o diarista cita brasileiros com certa intimidade. E como estamos no ano da Copa no Brasil, vou começar pelo que Andy Warhol conta sobre Pelé. E outras pérolas, na sequência, para dar uma ideia dos gossips dos Diários de Andy. Camp as camp can.

Quarta-feira, 13 de junho de 1977. De táxi até a Rockefeller Plaza para ir ao escritório da Warner Communications ver Pelé, o jogador de futebol que está sendo fotografado para a Interview. Ele é adorável, lembrou que me encontrou uma vez no Regine’s. Ele tem uma cara engraçada, mas quando sorri fica lindo.

Terça-feira, 27 de setembro de 1977. Ahmet Ertegun telefonou convidando para o jantar em homenagem a Pelé. Meu retrato de Pelé seria apresentado, o pai e a mãe de Pelé estavam lá e eles são uma graça, e a mulher dele é branca, mas todo mundo é de uma cor diferente na América do Sul – os pais dele também são de cores diferentes.

Sexta-feira, 6 de janeiro de 1978. Richard Weisman telefonou e disse que Pelé estava indo à Coe Kerr Gallery e então tive que ir lá autografar (táxi $ 5). Pelé é gentil, me convidou para ir ao Rio como seu hóspede (táxi para casa $ 4).

Segunda-feira, 29 de maio de 1978. Caminhamos até o One Fifth para almoçar e no caminho vi Patti Smith de chapéu coco comprando comida para o gato dela. Convidei-a achando que recusaria, mas ela disse “Que bom!”. Patti não queria comer muito e por isso comeu metade do meu almoço. Não parecia feia – se se lavasse e vestisse melhor.

Segunda-feira, 5 de junho de 1978. Jerry Hall estava com o mesmo vestido verde Oscar de la Renta com o qual estava na última vez que saí com ela, e quando entramos no elevador notei que ela cheira no sovaco, que não tomou banho antes de se vestir. Portanto acho que Mick [Jagger] deve gostar do cheiro.

Sexta-feira, 1 de dezembro de 1978. Coquetel no escritório antes do jantar para Elizinha Gonçalves no 65 Irving. E fui convidado para a festa de Natal de Jackie O., mais uma vez.

Domingo, 4 de março de 1979. Fomos ao Laurent onde [Salvador] Dalí tinha nos convidado a jantar, havia umas quarenta pessoas lá. Então os garotos quiseram ir à festa da Xenon para Pelé. Nova York está tão cheia de brasileiros que parece que aqui é o carnaval.

Quarta-feira, 14 de março de 1979. Festa da Cartier que Ralph Destino estava oferecendo em comemoração ao aniversário do relógio de pulso de Santos Dumont. Bob ajudou a contatar celebridades (Paulette Goddard, Truman Capote…). E Monique Van Vooren estava lá, disse que Nureyev iria: “Se é para ganhar relógio de graça ele virá.” E naquele momento ele entrou. O relógio de pulso foi inventado a partir da ideia de Santos Dumont, que era piloto.

Quinta-feira, 5 de abril de 1979. Busquei Catherine [Guinness] e fomos para o Regine’s. Paloma Picasso estava lá com o marido e o namorado. Neil Sedaka chegou com a família. Paloma apaixonou-se perdidamente por Neil. Disse que quando tinha dez anos de idade, na Argentina, costumava cantar “Sweet Sixteen” em português e espanhol, e aí cantou para Neil nessas línguas e ele adorou, ficou muito impressionado com ela.

Quarta-feira, 31 de outubro de 1979. Fiquei uptown toda manhã e aí fui encontrar Elizinha Gonçalves e Bob [Colacello] na Mayfair House e caminhamos até o Maxwell’s Plum. Nosso atraso foi conveniente, porque todos estavam esperando para nos ver. Estava cheio, tivemos que fazer força para entrar.

Segunda-feira, 8 de setembro de 1980, Miami. Acho que lugares quentes enlouquecem as pessoas. Fritam o cérebro da gente. No avião, de volta a NY uma senhora sentada na poltrona à minha frente pediu um autógrafo e eu autografei um saquinho de enjoo para ela.

Sexta-feira, 5 de dezembro de 1980. E será que contei que Florinda Bolkan veio para ser retratada? Ela não queria fazer nada sem que Marina Cicogna dissesse ok – nem mexer a cabeça. E [a Condessa] Marina parece uma motorista de caminhão, empurra todo mundo, e se isso é amor, então acho que isso é que é amor.

Domingo, 26 de abril de 1981. Jantar no Da Silvano. E Anna Wintour estava lá. De início não consegui lembrar o nome dela, mas por fim lembrei. Acaba de ser contratada pela revista New York, para ser editora de moda. Queria trabalhar na Interview mas não a contratamos. Talvez devêssemos tê-la contratado. Mas não acho que ela sabe se vestir, na realidade se veste muito mal.

Quarta-feira, 10 de junho de 1981. Bem, minha filosofia de vida é: a vida não é digna de ser vivida sem saúde e saúde é riqueza – é melhor que dinheiro e amizade e amor e qualquer outra coisa.

* Texto escrito para a edição de janeiro de 2014 da revista Joyce Pascowitch, em breve nas bancas.

Exposição de pop art em SP exibe quadros de Andy Warhol

A partir de janeiro de 2014, o Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo vai ser tomado por uma avalanche de arte pop, com obras dos americanos Andy Warhol, Jean-Michel Basquiat, Jasper Johns, Roy Lichtenstein e Robert Rauschenberg – os líderes do movimento que estourou nos anos 1960 – e estrelas contemporâneas, como o alemão Gerhard Richter.

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Tela sem título pintada em 1984 por Warhol e Basquiat

Nos Diários de Andy Warhol, o nome mais famoso da pop art revela a relação que tinha com os amigos artistas, fala das exposições que visitaram juntos, das festas e até dos affairs no grupo.

Domingo, 16 de outubro, 1977. David Whitney telefonou sobre irmos juntos ao vernissage de Jasper Johns esta noite no Whitney. (…) De táxi até o Whitney ($2). Bob Rauschenberg me atirou um beijo no elevador e mais tarde veio dizer que era ridículo atirar um beijo e aí me beijou. Jasper estava bebendo Jack Daniel’s. Era uma festa pequena, só para os que emprestaram obras, gente velha. Corru até o andar de baico para conseguir um catálogo e depois fiquei procurando Jasper para que desse um autógrafo, mas não consegui encontrá-lo e aí pedi que Rauschenberg autografasse, e depois encontrei Jasper e ele apagou a assinatura de Rauschenberg e autografou ‘A um emprestador’.”

A exposição reúne 74 obras da coleção do casal alemão Peter e Irene Ludwig, que juntos acumularam por volta de 20 mil peças hoje espalhadas por 12 museus mundo afora. Só a seleção que vem a São Paulo está avaliada em cerca de R$ 500 milhões, e a mostra, orçada em R$ 4 milhões, vai exigir malabarismo logístico semelhante às últimas megaexposições no CCBB. A exposição abre no dia 25 de janeiro e fica até dia 7 de abril, com visitação das 9h às 21h.

via Folha Ilustrada

Lady Warhol está em São Paulo

Por Vitor Hugo Xavier*

Andy Warhol está como uma Lady no Brasil. Isso mesmo, “O” homem da cultura pop foi eternizado com traços femininos por um de seus grandes amigos, o fotógrafo de moda e publicidade Christopher Makos. Sabemos bem que a arte do século XX não seria a mesma sem a contribuição de Warhol. Um dos nomes mais célebres de seu tempo, ele é praticamente sinônimo de arte pop, estilo que revolucionou a história da arte ao mergulhar na cultura de massa e na sociedade do consumo.

Nas fotos que estão expostas no Museu de Arte Moderna de São Paulo até o dia 23 de junho, Warhol não está como artista, mas como modelo. O que enxergamos nestas imagens, na realidade, é uma personagem, Lady Warhol, talvez o lado feminino dele. Aqui, Warhol não seduz com suas famosas latas de sopa, garrafas de refrigerante e fotos de astros do cinema, mas sim com sua própria imagem em uma mistura de elementos masculinos e femininos, que acabam dialogando entre si e discutindo as margens tão tênues entre os gêneros e a sexualidade. O fotógrafo, Christopher Makos, só conseguiria capturar a naturalidade impressa nestas imagens com muita intimidade – o que não foi difícil: os Diários de Andy Warhol, escritos religiosamente até os últimos dias de vida do artista, organizados e editados por Pat Hackett e lançados pela L&PM, mostram essa relação íntima entre os dois.

Quando conheceu Makos, Warhol o achou uma “gracinha”. Depois de alguns encontros já eram grandes amigos e Warhol realmente gostava do trabalho do fotógrafo. Tiveram, então, na década de 80, a ideia de tirar estas fotos. Lembrando que foi nesta mesma década que aconteceu o “boom” das possibilidades de transformação do corpo (cirurgias estéticas, academias, medicamentos etc), difundindo a ideia de que a identidade é algo que se constrói.

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(clique na foto para ver a galeria)

Nas fotos, encaramos o processo de transformação de Warhol em um personagem feminino. Suas características masculinas estão lá, suas “roupas de homem” (camisa, gravata e jeans) também, mas elas dialogam com as perucas em diversas cores e tamanhos, com os cílios grossos, com a maquiagem pesada e, claro, com os trejeitos leves do artista/modelo na hora dos cliques. Essa atitude delicada de Warhol, inclusive, é a maior responsável pelo ar feminino do que os objetos. Makos afirmou que “as fotos falam sobre identidade, sobre mudança de identidade, elas não são exatamente as de uma drag, nem mesmo de Andy Warhol, e sim o registro de uma colaboração entre nós, a colaboração entre modelo e fotógrafo”.

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(clique na foto para ver a galeria)

É importante lembrar que muita gente até conhece e sabe quem é Andy Warhol, mas nunca o viu. Essa é a primeira exposição que chega ao Brasil em que a imagem física dele é a obra exposta. Não poderia ser da melhor maneira esse primeiro contato.

Serviço:
O que: exposição “Lady Warhol” com fotos de Christopher Makos
Onde: MAM – Museu de Arte Moderna de São Paulo
Quando: até 23 de junho

*Vitor Hugo Xavier é jornalista e apresentador do Programa Gay, que vai ao ar todas as terças, na Ipanema FM, da meia-noite às 2h.

Maquiagem inspirada em Andy Warhol chega ao Brasil

A edição limitada de maquiagens da marca NARS, criada em homenagem a Andy Warhol, chegou ao Brasil este mês, via Sephora.  A linha, feita em colaboração com a fundação Andy Warhol, é um sonho de consumo para as amantes do make-up. Não apenas pelas cores super moderna, mas também pelo design das embalagens.

Algumas sombras, por exemplo, não apenas possuem uma palheta de cores igual a de alguns quadros de Andy Warhol como reproduzem as flores e um auto-retrato do artista. Além delass, há batons, delineadores, blush, iluminador e mais esmaltes em tonalidades que refletem o universo pop de Warhol.

A linha já está à venda no e-commerce brasileiro da Sephora e na loja da rede no Rio de Janeiro, com lançamento em São Paulo previsto para a última semana de janeiro.

Neste vídeo, o criador da linha conta que é fã da obra de Andy Warhol:

Para os que querem conhecer mais sobre o artista que eternizou a frase “Um dia todos terão direito a quinze minutos de fama”, a L&PM publica Andy Warhol na Série Biografias, Diários de Andy Warhol em dois volumes e América, livro que traz fotos feitas por ele.

Retrospectiva: os destaques de 2012

E lá se foi 2012. Deixando boas lembranças e ótimos livros no catálogo L&PM. Foram muitos os lançamentos em formato convencional e pocket. Aqui, destacamos um para cada mês do ano que está terminando, de dezembro até até janeiro.

DEZEMBRO – Não tenho inimigos, desconheço o ódio, de Liu Xiaobo. Por que é destaque: o chinês Liu Xiaobo é um escritor, intelectual, ativista e professor que foi condenado a 11 anos de prisão por suas ideias. Prêmio Nobel da Paz 2010, pela primeira vez seus textos foram reunidos e publicados no Brasil, apresentando uma China que o ocidente ainda não conhece.

NOVEMBRO – Allen Ginsberg e Jack Kerouac: as cartas. Por que é destaque: o livro reúne a correspondência trocada entre os dois escritores beats durante mais de 20 anos. As quase 500 páginas que separarm a primeira da última carta oferecem “uma das mais frutíferas fusões de vida e obra da literatura do século 20” conforme disse a Folha de S. Paulo.

OUTUBRO – Um lugar na janela, de Martha Medeiros. Porque é destaque: a autora de Feliz por nada compartilha com seus leitores as mais afetuosas memórias de viagens feitas em várias épocas da vida, aos vinte e poucos anos e sem grana, depois, já mais estruturada, mas com o mesmo espírito aventureiro.

SETEMBRO – A interpretação dos sonhos, de Sigmund Freud. Por que é destaque: pela primeira vez no Brasil traduzida direto do alemão, a obra maior de Freud chegou à coleção L&PM Pocket em dois volumes coordenados por psicanalistas e professores de renome e que incluindo notas e comentários que Freud adicionou ao longo da vida, mais exclusivo índice de sonhos, nomes e símbolos.

AGOSTO – Guerra e Paz, de Tolstói, na Série Clássicos da Literatura em Quadrinhos. Por que é destaque: no caso de Guerra e Paz, uma obra bastante extensa, a adaptação para HQ é muito impressionante. “Coleciono HQs, de forma intensa, desde 1958. Nunca, nesses anos todos, vi ou ouvi falar de Guerra e Paz no formato de quadrinhos. Qualquer roteirista, mesmo com experiência e capacidade, deve ter sonhado com essa aventura louca.” disse Goida a respeito do livro.

JULHO – Os filhos dos dias, de Eduardo Galeano. Por que é destaque: inspirado na sabedoria dos maias, Galeano escreveu um livro que se situa como uma espécie de calendário histórico, onde de cada dia nasce uma nova história. Provocante, intenso e sensível como toda obra do escritor, os textos formam uma colcha de retalhos costurada com poesia, emoção e concisão.

JUNHO – Uma breve história da filosofia, de Nigel Warburton. Por que é destaque: a filósofa e escritora Sarah Bakewell definiu este livro como um “manual de existência humana em que poucas vezes a filosofia pareceu tão lúcida, tão importante, tão válida e tão fácil de nela se aventurar”. Partindo da tradição iniciada com Sócrates, o autor traz dados interessantes sobre a vida e o pensamento de alguns dos mais instigantes filósofos de todos os tempos.

MAIO – História secreta de Costaguana, de Juan Gabriel Vásquez. Por que é destaque: Juan Gabriel Vásquez foi um dos convidados da Flip 2012 – Festa Literária Internacional de Paraty. Misturando fatos históricos e ficção, Vásquez cria uma história em que o escritor Joseph Conrad é um dos personagens e que tem como pano de fundo a construção do Canal do Panamá.

ABRIL – Simon’s Cat, de Simon Tofield. Por que é destaque: em abril, Simon’s Cat foi publicado pela primeira vez no Brasil. O gato que não tem nome definido é o mais famoso felino do Youtube. Depois de Simon’s Cat – As aventuras de um gato travesso e comilão, em novembro deste ano foi lançado o segundo volume da série: Simon’s Cat – Em busca de aventura.

MARÇO – Erma Jaguar, de Alex Varenne. Por que é destaque: esta HQ luxo traz todas as aventuras de Erma Jaguar, personagem criada pelo notável ilustrador Alex Varenne. Erma é uma espécie de “madame” moderna que à noite, vestindo seu corpete preto e dirigindo seu carro, vai satisfazer todas as suas fantasias. Insaciável, ela enlouquece homens e mulheres de todos os tipos.

FEVEREIRO – Diários de Andy Warhol. Por que é destaque: esta nova edição dos Diários do artista pop Andy Warhol, dividida em dois volumes em formato de bolso (e reunidos em uma caixa especial), marcou a entrada da Coleção L&PM Pocket na casa dos 1.000 títulos. Um dos mais reveladores retratos culturais do século XX, Diários de Andy Warhol soma mais de mil páginas de glamour, fofocas e culto às celebridades.

JANEIRO – 1961 – O golpe derrotado, de Flávio Tavares. Por que é destaque: este livro conta como um movimento de rebelião popular paralisou e derrotou o golpe de Estado dos ministros do Exército, Marinha e Aeronáutica e evitou a guerra­ civil. Escrito por um jornalista que testemunhou e participou do Movimento da Legalidade junto a Leonel Brizola,­ então governador­ do Rio Grande do Sul.

O dia em que Elvis virou um sofá

Todo mundo sabe que Elvis não morreu. Mesmo assim, a data oficial da sua partida para o além é 16 de agosto de 1977. Elvis continua vivo: em música, fotos, pinturas e souvenirs. Andy Warhol foi um dos que eternizou o rei do rock em valiosos quadros que até hoje fazem a festa dos leiloeiros. Em 1965, Warhol presenteou Bob Dylan com um de seus Elvis, o prateado. Dylan, no entanto, acabou trocando a obra por um sofá. Ao que parece, no entanto, a ficha de artista pop demorou a cair, como demonstra um trecho de Diários de Andy Warhol:

Quinta-feira, 11 de maio de 1978. (…) Robbie disse que me conhecia dos tempos de Dylan. Eu perguntei a ele o que aconteceu com a pintura “Elvis” que dei a Dylan, porque toda vez que eu encontro o empresário de Dylan, Albert Grossman, ele diz que é ele quem a tem e Robbie disse que em alguma época Dylan trocou-a com Grossman por um sofá! (risos) Ele achou que estava precisando de um sofazinho e deu o “Elvis” em troca. Deve ter sido na época de drogas dele. Então foi um sofá caro, aquele. (…)

Andy, Elvis e Dylan em 1965