Grenoble, França 1783 – † Paris, França, 1842
Pseudônimo de Marie-Henri Beyle, desde cedo manifestou tendências republicanas e anticlericais, em dissonância com o meio em que vivia. Devido a essas tendências, participou da campanha de Napoleão, na Itália, como integrante do Regimento de Dragões. Depois disso, abandonou o exército para dedicar-se à literatura, mas a ele retornou por necessidades financeiras. Com a queda do Império Napoleônico, mudou-se para Milão, vindo a exercer outras funções e cargos públicos na Itália e na França. Autor de um estilo sóbrio, criou personagens de grande complexidade psicológica, que se debatiam entre a conduta racional e o comportamento sensual. Embora tenha escrito seus romances em pleno Romantismo, a isenção de sentimentalismo e as profundas análises de personagens caracterizam sua obra como representativa do Realismo francês.
OBRAS PRINCIPAIS: O vermelho e o negro, 1830; A cartuxa de Parma, 1839
STENDHAL por Carlos Jorge Appel
Celebrizado sob o pseudônimo de Stendhal, Henri Beyle viria universalizar o conceito de beylismo, que postula a valorização da felicidade como fator vital para a consecução da plenitude humana. Em Racine e Shakespeare (1823), um dos mais vigorosos manifestos românticos, incompreendido até mesmo por Victor Hugo, Stendhal revela uma lucidez anti-sentimental que rompe com os postulados românticos vigentes até então na Europa. Balzac o saúda como um gênio, em 1840, e diz que ele escrevia “para seus contemporâneos de inteligência já realista”. Convém lembrar que sua infância e adolescência transcorreram em meio às profundas transformações históricas da Revolução Francesa e ao advento da Era Napoleônica. Em dissonância com o meio em que vivia, com sérios problemas de relacionamento familiar, cedo manifestou tendências anticlericais e republicanas, visíveis em suas crônicas, ensaios e romances. Participou da campanha de Napoleão na Itália como ajudante-de-campo do general Michaud, viajou e conheceu de perto a cultura italiana, seus pintores, escultores, músicos e escritores e elegeu Milão como sua cidade preferida. Essa vivência foi fundamental para seus ensaios A vida de Napoleão, Do amor, A batalha de Waterloo e o romance A cartuxa de Parma.
Forjou a palavra “egotismo” para designar a psicose romântica de palavroso subjetivismo sentimental e contrapôs-lhe uma arte de ser individualmente feliz, sem ilusões, à base do conhecimento possível dos homens, das circunstâncias que os modelam e do progresso social inevitável. Contrapôs a objetividade da tradição iluminista à histeria sentimentalista, ao sonho medievalista ou fantasmagórico. Graças ao seu domínio intelectual, Stendhal se tornaria o mestre do melhor realismo já encartado na segunda metade do século XIX. Seu estilo é a consumação perfeita de um pensamento e de uma funda experiência que se exprimem, sobretudo, em seus romances O vermelho e o negro, A cartuxa de Parma e Lucien Leuwen, romance incompleto e editado em 1901, que Otto Maria Carpeaux considera o melhor de sua obra. Dele diria Nietzsche: “Stendhal, esse notável precursor que, qual Napoleão, percorreu a sua Europa, os vários séculos de alma européia, iluminando-a e descobrindo-a; foram necessárias duas gerações para com preendê-lo, para adivinhar alguns dos enigmas que o exaltavam, a ele, epicurista admirável e curioso indagador, que foi o último grande psicólogo da França”.
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