Você já deve ter escutado algo como: “Se por acaso você passar pela minha cidade, não deixe de me visitar”. Na maioria das vezes, é preciso concordar, esse convite feito por mera educação. Só que ao escutar isso vindo da boca do grande compositor Richard Wagner, o então jovem professor Friedrich Nietzsche fez questão de honrar o convite. E chegou insesperadamente na mansão de Wagner, na cidade suíça de Tribschen. Mas como o dono da casa estava em plena composição do terceiro ato de Siegfried, sua esposa, Cosima, propôs ao rapaz que ele voltasse outro dia. E ele realmente voltou. Não apenas uma, mas várias vezes, a ponto de se tornar amigo íntimo dos Wagner.
A relação do filósofo com o compositor é contada em Nietzsche, de Dorian Astor, o mais novo volume da Série Biografias L&PM. Abaixo, dois pequenos trechos do livro:
O fascínio de Friedrich por Wagner tem algo de alienante, e serão necessários muito tempo e energia para que possa se libertar dessa atração. Isso porque o artista, confessa ele, tem “um encanto cativante”. Tribschen e Basileia tornam-se antípodas entre as quais Nietzsche leva de certa maneira uma vida dupla: por um lado, na presença dos Wagner, deixa-se levar por arroubos artísticos e ostentações mundanas; por outro, a universidade o reconduz a ascese das bibliotecas e à monotonia do círculo de colegas.
Em Tribschen, Nietzsche gostava, não sem certa ingenuidade, de que ouvissem suas próprias composições. Wagner põe um fim nas secretas esperanças musicais do jovem amigo e volta a conduzi-lo para a esfera universitária, embora o encorajando a trilhar um caminho extremamente singular, o de uma filologia “no espírito da música”, e tal será, de fato, a expressão que define O nascimento da tragédia. Encarregado de semelhante missão espiritual, mas restrito por seu mestre aos trabalhos filológicos, Nietzsche pouco a pouco se fecha e trabalha sem descanso.
A casa de Tribschen de três andares ainda está lá e agora é o Richard Wagner Museum, onde o visitante pode conhecer móveis, pinturas e objetos que pertenceram ao compositor. É lá que também que, ao lado do busto de Wagner, está o busto de Nietzsche fortalecendo a relação eterna entre dois grandes alemães.