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Nikolai Gogol, o escritor que deu origem à moderna literatura russa

No ministério de… Não, é melhor não dizer seu nome. Ninguém é mais suscetível do que funcionários, empregados de repartições e gente da esfera pública. Nos dias que correm, todo sujeito acredita que, se nós atingimos a sua pessoa, toda a sociedade foi ofendida.

Não, o trecho acima não faz parte de alguma crônica recente publicada no jornal mais próximo. Ele foi escrito em 1842 e dá início a O Capote, conto de Nikolai Gogol. “Todos nós viemos de O Capote” proclamou Dostoiévski referindo-se ao mais célebre texto de Gogol e dando força à teoria de que foi a partir dele que a literatura moderna russa surgiu. A história de Akaki Akakiévitch, personagem de O Capote, seria trágica, não fosse cômica. Sua narrativa traz o burocrata em sua forma mais pura, sendo que a maior ambição de Akaki é comprar um capote novo.

Gogol

Nascido em 01 de abril de 1809 (20 de março pelo calendário Juliano), o ucraniano Nikolai Gogol criou textos que orbitam entre o fantástico e o real e deu vida a personagens que perdem tudo – o nariz, a razão, o sentido, o juízo, a identidade – e que parecem flertar, ao mesmo tempo, com Deus e o diabo. Criado sob forte influência religiosa e muito ligado à mãe, Gogol jamais teve um amor na vida, conforme atestam seus biógrafos.

Mas se Gogol foi incapaz de amar, ele conseguiu despertar em muitos leitores, paixões nunca antes experimentadas. Seu estilo, seu jogo de palavras, seu ritmo e sonoridade, permanecem tão fascinantes e modernos quanto na época em que vieram ao mundo.

“O Capote” está na Coleção L&PM Pocket

Mas assim como outros artistas brilhantes, Gogol foi uma alma perturbada. No início de fevereiro de 1852, num momento de delírio, queimou na lareira de seu quarto todos os seus manuscritos inéditos – incluindo o fim da segunda parte de Almas Mortas, o romance que estava escrevendo. Almas Mortas é uma belíssima e irônica ficção sobre a corrupção de uma classe decadente que domina o povo ignorante e escravo do Estado. Mas essa obra nunca chegou a ser concluída.

Em 4 de março de 1852 (21 de fevereiro pelo calendário Juliano), deprimido e fatigado pelos jejuns, Nikolau Vasilievich Gogol morreu em Moscou. Seu corpo embalsamado seguiu insepulto por mais de um dia, carregado pelos estudantes que lhe ofereceram homenagens acaloradas. Está enterrado no Cemitério Novodevichy.

Cinderela proibida de entrar na prisão

Clive Stafford Smith, diretor da instituição Reprieve – que trabalha para promover justiça e salvar vidas no corredor da morte da prisão da Baía de Guantánamo – publicou um artigo no jornal britânico The Guardian, onde fala sobre a censura a livros nesta penitenciária. Entre as obras proibidas pelos militares censores estão contos de fadas como Cinderela, O Gato de Botas e João e o Pé de Feijão. “Talvez os militares temam que depois de ler João e o Pé de Feijão os presos escapem através do plantio de sementes mágicas” escreveu Smith. Na lista de livros proibidos ainda aparece Crime e Castigo de Dostoievski e O mercador de Veneza de Shakespeare.

Guantánamo é uma prisão militar de propriedade dos EUA e, segundo a Cruz Vermelha Internacional, os presos são vítimas de tortura, em desrespeito aos direitos humanos e à convenção de Genebra. É nessas horas que a gente pensa que poderiam existir fadas madrinhas de verdade.

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Depois do almoço, Dostoiévski

Por José Antonio Pinheiro Machado*

Conheci Dostoiévski em Xangrilá, depois do almoço. É uma das tantas dívidas que o Ivan e eu temos com nosso pai: na base do centralismo democrático stalinista, ligeiramente tropicalizado, o pai nos impôs um programa obrigatório de leituras. Longe da cidade que é hoje, a Xangrilá da nossa adolescência era um descampado, o Nordestão desenhando cômoros no areal entre as poucas casas. Não havia muito o que fazer: depois do banho de mar, o almoço demorado e, a partir daquele dia, a tarde começava com duas horas de Dostoiévski.

O livro escolhido para minha iniciação, nos dias de hoje, talvez provocasse a intervenção do Conselho Tutelar ou do Juizado da Infância e da Juventude: Crime e Castigo! Abri contrafeito o pesado volume encadernado em couro e, logo depois de ler os primeiros parágrafos, ainda me recordo do impacto inesperado. Anos se passaram, e Jorge Luis Borges, na escuridão de sua cegueira, iluminaria, em duas frases, aquela minha perplexidade juvenil: “Como a descoberta do amor, como a descoberta do mar, a descoberta de Dostoiévski marca uma data memorável de nossa vida. Em geral, corresponde à adolescência; a maturidade busca e descobre escritores serenos”.

Naquele dia, por momentos o Nordestão deixou de assobiar, o céu azul do azul lavado pela chuva, do verso de Paulo Mendes Campos, perdeu sua atração irresistível, e o dia límpido e ensolarado lentamente foi substituído pela urgência da emoção nova e avassaladora daquela primeira leitura. Borges deve ter vivido algo parecido na juventude em Genebra: “Ler um livro de Dostoiévski é penetrar em uma grande cidade, que desconhecemos, ou nas sombras de uma batalha”. A história do jovem Raskolnikov é soberba, contada de forma magnífica. Estudante pobre, cheio de sonhos, divide os indivíduos entre ordinários e extraordinários e se impõe a missão de fazer algo realmente importante, ainda que seja uma violação às leis. Escolhe matar com violência uma velha agiota e, ao fugir, também assassina a irmã da vítima, que apareceu de surpresa e testemunhou o crime. Rouba algumas joias, que acaba por descartar, atormentado pela culpa. O romance brilha no relato do remorso sem remédio que persegue o personagem como uma danação. Quando um inocente é preso, Raskolnikov assume o crime e é condenado. Diversas histórias paralelas reforçam o eixo principal da narrativa, entre elas, a relação do protagonista com Sonia, que o encoraja a confessar o crime. Toda a miséria e toda a grandeza da condição humana transbordavam daquelas páginas. Mas nem todos se emocionaram tanto assim. No prefácio de uma antologia da literatura russa, Nabokov escreveu que não encontrou uma única página de Dostoiévski digna de ser incluída. Borges recusou essa afronta com uma verdade salpicada de ironia: “Isso quer dizer que Dostoiévski não deve ser julgado por páginas soltas, e sim pela soma de páginas que compõe o livro”.

* Crônica publicada originalmente na Coluna do Anonymus Gourmet, publicada no caderno Gastrô do Jornal Zero Hora em 6 de dezembro de 2013.

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Dostoiévski por Visconti

Numa iluminada noite de primavera, à beira do rio Fontanka, um jovem sonhador se depara com uma linda mulher que chora. São Petesburgo está mergulhada em mais uma de suas noites brancas, fenômeno que as faz parecerem tão claras quanto os dias e que confere à cidade a atmosfera onírica ideal para o encontro entre essas duas almas perdidas. Em apenas quatro noites, o tímido rapaz e a misteriosa Nástienhka passam a se conhecer como velhos amigos, mas algo vem atrapalhar o desenrolar romântico desse fugaz encontro…

Esta é a sinopse de “Noites Brancas“, história de Fiodor Dostoiévski que faz parte do ciclo de obras que ele criou após amargar uma forte desilusão amorosa e que foi a última escrita antes da prisão e do período de exílio na Sibéria.

Em 1957, “Noites Brancas” foi adaptada para o cinema pelo diretor italiano Luchino Visconti com Marcello Mastroianni e Maria Schell. O filme, com trilha sonora de Nino Rota, levou o Leão de Prata no festival de Veneza daquele ano. 


 
A TV brasileira também assistiu a uma adaptação da obra de Dostoiévski. “Noites Brancas” virou especial da Globo em 1973 com Francisco Cuoco e Dina Sfat nos papéis principais e a direção de Oduvaldo Viana Filho.

A invenção do amor por Sergius Gonzaga

O amor na literatura é o tema do curso que será ministrado pelo professor Sergius Gonzaga ao longo do mês de agosto na Casa de Ideias, em Porto Alegre. Serão 3 encontros + uma palestra-bônus em que o professor do Instituto de Letras da UFRGS analisa textos clássicos de Goethe, Flaubert, Dostoiévski, F. Scott Fitzgerald, Machado de Assis e outros grande autores de acordo com o cronograma a seguir:

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(clique na imagem para ampliar)

Mais informações e inscrições pelo telefone (51) 3018 7740 ou contato@casadeideias.com

Capas com amor para o Dia dos Namorados

Uma dupla de designers resolveu aproveitar o Dia dos Namorados para demonstrar seu amor pela literatura! O resultado foram 14 capas de livros sobre o amor, sempre usando corações, olha só:

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“100 anos de solidão” de Gabriel Garcia Marquez

 

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“Lolita” de Nabokov

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“O jogador” de Dostoiévski

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“Em busca do tempo perdido” de Marcel Proust

As outras 10 capas da coleção estão lá no blog deles 🙂

“Noites brancas” de Dostoiévski

Por Nanni Rios*

Não sei bem explicar o porquê, mas a música “Valsinha” de Chico Buarque sempre me remete ao livro Noites brancas, de Dostoiévski. As duas histórias não têm muito em comum além do casal apaixonado que vai para a rua viver seu sentimento, mas na falta de elementos visuais em ambos (uma música e um livro, respectivamente), criei meus próprios cenários imaginários para as duas histórias e posso garantir que os dois se parecem. E essa relação não deixou de ser um dos principais motivos que me inspirou a escrever sobre Noites brancas aqui no blog, um livro que merece ser relembrado sempre.

Na história de Dostoiévski, a jovem Nástienhka se ilude com a promessa de um homem que partiu um ano antes prometendo voltar para casar-se com ela: ao chegar no local e dia combinados para o reecontro, nada do rapaz aparecer. É neste momento de fragilidade que a vida dela se cruza com a de um jovem (o protagonista da história), que estava no lugar certo na hora certa. Em apenas quatro noites, o tímido rapaz e a misteriosa Nástienhka passam a se conhecer como velhos amigos e se apaixonam.

Na música do Chico, a história parece ser rodada ao contrário: um casal que vivia uma relação já desgastada se reapaixona e resolve contar isso para o mundo – como fazem os casais apaixonados, afinal:

E então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça, foram para a praça e começaram a se abraçar

Em Noites brancas, como não podia deixar de ser, algo vem atrapalhar o desenrolar romântico daquele fugaz encontro. Se o final é triste ou feliz? Recomendo ler o livro e tirar suas próprias conclusões – e isso não é uma isca barata, pois o julgamento realmente cabe a quem lê.

A L&PM publica Noites brancas na série Pocket Plus da Coleção L&PM Pocket. E para ouvir a “Valsinha”, clique aqui.

* Toda semana, a Série “Relembrando um grande livro” traz um texto assinado em que grandes livros são (re)lembrados. Livros imperdíveis e inesquecíveis.

Balzac, Dickens e Dostoiévski nas cartas de Kerouac e Ginsberg

Jack Kerouac e Allen Ginsberg nutriram uma intensa amizade durante mais de 20 anos por meio de cartas. Os assuntos eram os mais variados, desde assuntos pessoais até o gosto em comum por autores como Balzac, Dickens e Dostoiévski e estes registros estão no livro As cartas que acaba de chegar ao Brasil pela L&PM.

Leia uma das cartas, em que Kerouac fala do “espírito de Natal” e termina desejando “Feliz ano novo” ao amigo Allen Ginsberg:

(clique na imagem para ampliar)

“Crime e castigo” para diminuir a pena dos detentos de Santa Catarina

Sábado, 24 de novembro, foi uma data especial para os presos de Joaçaba, no Oeste de Santa Catarina. Na manhã deste dia, os apenados receberam um livro Crime e Castigo, acompanhado de um dicionário. 

O presente faz parte de um projeto da Vara Criminal de Joaçaba que prevê a redução de até quatro dias na pena de detentos que lerem obras clássicas, como Crime e Castigo, de Dostoiévski. A proposta, chamada ‘Reeducação do Imaginário’, é coordenada pelo juiz Márcio Umberto Bragaglia. 

Edição de "Crime e Castigo" da Coleção L&PM Pocket foi entregue para os apenados de SC

Após lerem os livros, magistrado e assessores vão realizar entrevistas com os leitores. “Os participantes que demonstrarem compreensão do conteúdo, respeitada a capacidade intelectual de cada apenado, poderão ser beneficiados com a remição de quatro dias de suas respectivas penas”, explica o TJ. 

 “O projeto visa a reeducação do imaginário dos apenados pela leitura de obras que apresentam experiências humanas sobre a responsabilidade pessoal, a percepção da imortalidade da alma, a superação das situações difíceis pela busca de um sentido na vida, os valores morais e religiosos tradicionais e a redenção pelo arrependimento sincero e pela melhora progressiva da personalidade, o que a educação pela leitura dos clássicos fomenta”, explicou o juiz Bragaglia. Ainda segundo ele, a inspiração veio do filósofo Olavo de Carvalho.  

O primeiro módulo prevê a leitura de Crime e Castigo. No segundo módulo, os apenados devem ler O Coração das Trevas, de Joseph Conrad. Depois, estão previstas obras de autores como William Shakespeare, Charles Dickens, Walter Scott, Camilo Castelo Branco, entre outros. Os livros serão adquiridos em edições de bolso, com verbas de transação penal destinadas ao Conselho da Comunidade.

As avaliações estão previstas para ocorrer após 30 dias. Ainda conforme o TJ, o projeto tem o apoio do Ministério Público de Santa Catarina.

Pequeno momento nostálgico

Era um pequeno pedaço de papel estampado, geralmente quadrado ou retangular, com picotes em todos os seus vértices. Pássavamos cola em seu verso – outras vezes, num ato de paixão, era a língua que, como um pincel, liberava sua goma – e assim o colávamos nos envelopes e cartões postais. Cuidadosamente desenhado, com figuras variadas, o minúsculo papel tinha diferentes valores. Cada desenho ou cor continha em si uma espécie de tributo. Impossível atravessar uma fronteira sem ele. Muitos eram os colecionadores. Os caçadores de raridades. Os que iam em busca de carimbos distantes. Hoje, os selos continuam sendo impressos, mas se distanciam cada vez mais das palavras. Uma pena… (Paula Taitelbaum) 

Separamos alguns selos com estampas de escritores. Quem sabe você não se empolga e começa uma nova coleção? Aqui estão Edgar Allan Poe, Tolstói, Dostoiévski, Machado de Assis, Alexandre Dumas, Shakespeare, Rimbaud, Balzac, Kafka, Émile Zola, Allen Ginsberg, Jack London, Kerouak, Stefan Sweig, Tennessee Williams, Sir Arthur Conan Doyle e Agatha Christie.