Os tempos mudaram. Sherlock Holmes agora não vive sem seu smartphone e manda torpedos para os jornalistas quando quer chamar a atenção. Seu fiel companheiro, Dr. Watson, serviu na Guerra do Afeganistão e trouxe alguns traumas de lá. Seu irmão, Mycroft, é o chefão da inteligência britânica e tudo indica que ninguém tem mais poder sobre a Rainha do que ele. Cachimbo? Nem pensar… Seria antiquado demais para ele.
Tanta modernidade, no entanto, não significa que o maior detetive que a literatura já lançou não siga sendo essencialmente ele mesmo em “Sherlock”, a mais assistida série da BBC dos últimos dez anos. Holmes continua morando na Baker Street 221B, onde cultiva seus vícios e esquisitices. Londres não deixou de ser personagem de suas aventuras. E a personalidade, percepção e ironia fina do personagem não mudaram. Se bem que tenho a impressão de que ele ficou mais alto.
Ontem, vendo o último episódio da terceira temporada, fiquei pensando que não importa a época em que Sherlock Holmes viva, ele sempre será envolvente para nós. Simplesmente porque, em meio à solidão e à depressão que a vida nos impõe, ele sinaliza que é possível ser competente e se destacar na multidão. E quem não quer algo assim para elevar a auto-estima?
Sir Arthur Conan Doyle foi um dos primeiros a mostrar que a ciência poderia ajudar o mundo a se defender de seus malfeitores. Mas também fez questão de colocar a percepção de um homem imperfeito como a grande heroína da história. E isso segue presente na série da BBC. Só não tenho certeza sobre o que Conan Doyle pensaria a respeito de Mary Watson. No episódio de ontem (e se você pretende assistir não leia o que vem a partir daqui), a amada esposa do Dr. Watson revela-se uma assassina profissional que traz incontáveis cadáveres nas costas e que, mesmo assim, acaba perdoada pelo marido – e esperando um filho seu. Hmmm… Não sei não…
Vale lembrar ainda que “Sherlock”, da BBC, não é a única série moderna que explora os vícios e virtudes do detetive de Conan Doyle. “Elementary”, exibida no canal Universal, também se passa nos dias atuais e, para modernizar ainda mais, resolveu transformar Watson em mulher(ão) na pele de Lucy Liu. Mas essa eu não assisti ainda. Até porque resolvi desligar a TV e ler as histórias originais. Só a L&PM tem mais de uma dúzia de livros de Sherlock. Oba! (Paula Taitelbaum)