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As perguntas sobre Emily Dickinson não querem calar

Emily Dickinson nasceu em 10 de dezembro de 1830 e morreu em 15 de maio de 1886. E apenas depois de sua morte, aliás, a escritora Emily Dickinson surgiu, já que só então foram descobertos os 1.775 poemas que compõem a totalidade de sua obra. Atualmente, a casa onde ela viveu, “The Homestead”, é um museu aberto à visitação. E é no site do museu, aliás, que encontramos uma sessão de “perguntas frequentes”. Veja aqui algumas das dúvidas que pairam no ar:

– É verdade que Emily Dickinson sempre usava branco?
Reza a lenda que, após uma certa idade, Dickinson usava branco o tempo inteiro. Quando Thomas Higginson a conheceu, em 1870, ela estava vestida de branco e também foi enterrada de branco. Mas embora existam muitas teorias sobre a sua preferência assumida por esta cor, Dickinson nunca fez nenhuma referência a isso em qualquer uma de suas correspondências.

Selo de 1971 em homenagem a Emily Dickinson

Selo de 1971 em homenagem a Emily Dickinson

– Por que ela nunca publicou, exceto anonimamente, durante a vida?
Tal como acontece com tantas perguntas sobre Emily Dickinson, a resposta é desconhecida. Seus comentários sobre a publicação tendem a ser negativas (“A publicação é o leilão da mente”), mas ela nunca manifestou qualquer objeção grave à inclusão de alguns de seus poemas em jornais. Dada a natureza reclusa Dickinson, a ideia de se tornar famosa talvez não a agradasse.

– Onde se encontram, atualmente, os manuscritos de Emily Dickinson?
A maior parte destes manuscritos está em dois locais: nos arquivos de coleções especiais do Amherst College e na Biblioteca Houghton da Universidade de Harvard.

– Por que na sua lápide está escrito “Called Back” (Chamado de volta)?
Este é o nome de uma popular novela escrita por Hugh Conway (o nome verdadeiro de John Frederick Fargus). Em uma carta de janeiro de 1885, Dickinson disse que tal livro era uma “história de assombração… ‘realmente impressionante pra mim’”. Além disso, essas duas palavras “Called Back”, são as únicas presentes em sua última carta conhecida, escrita para seus primos em maio de 1886. Sua lápide original tinha apenas suas iniciais, EED. Essa lápide foi substituída por sua sobrinha, Martha Dickinson Bianchi, que incluiu a data de nascimento da escritora e a dita frase.

A lápide de Emily Dickinson, localizada no West Cemetery, no centro de Amherst

A Coleção L&PM Pocket publica, Poemas Escolhidos, de Emily Dickinson, em edição bilingue e com tradução de Ivo Bender.

Tesouros de Emily Dickinson online

Harvard acaba de lançar um site com todo o acervo de Emily Dickinson

Harvard acaba de lançar um site com todo o acervo de Emily Dickinson

Emily Dickinson sempre relutou em publicar seu trabalho. Os poucos poemas que chegaram ao público, foram publicados anonimamente em jornais.

A partir de agora, Harvard vai mostrar tudo que a escritora tentou esconder durante a vida. A universidade acaba de lançar o “Dickinson Eletronic Archive“, um arquivo digital que reúne, pela primeira vez em um só lugar, todos os documentos da poeta como manuscritos autografados e cartas, além de transcrições contemporâneas de seus poemas.

O desenvolvimento deste acervo digital não aconteceu sem solavancos e ressentimentos – muitos deles enraizados nos conflitos pela posse da obra de Dickinson, datada do final do século 19 e que refletem o fervor profundo e duradouro que o seu trabalho inspira.

O projeto teve início há quase dois anos, quando outra universidade, a Amherst College, também grande depositária dos manuscritos de Dickinson, se aproximou de Harvard. Depois de um prolongado vai-e-vem, durante o qual Harvard iniciou o planejamento do projeto digital, Amherst concordou em compartilhar sua coleção no site que, segundo ela defende, abrange 40% do Dickinson Eletronic Archive.

O que os representantes de Amherst reclamam agora é que eles quase não foram consultados e que o site faz pouca menção às suas contribuições. Segundo o diretor de arquivos e coleção especiais da Amherst College, Mike Kelly, não ficou claro que este é um projeto comum. O porta-voz de Harvard, Colin Manning, recusou-se a tecer comentários sobre a polêmica, limitando-se a dizer que o que importa é que “pela primeira vez, a maioria dos manuscritos originais de Emily Dickinson estará disponível para acesso aberto em um único local.”

O conflito reflete uma antiga disputa entre Harvard e Amherst sobre quem é mais “dono” de Emily Dickinson. Quando a escritora morreu, sua irmã, Lavinia, descobriu quase dois mil poemas. Lavinia se aproximou da cunhada, Susan Dickinson, para saber como editar os poemas. Como Susan estava demorando muito para tomar alguma atitude, Lavinia procurou Mabel Loomis Todd, esposa de um professor de Amherst e amante do irmão de Emily Dickinson. Todd contou com a ajuda de Thomas Wentworth Higginson e os dois editaram os poemas – mudando a pontuação, alterando o texto original e adicionando títulos. Eles publicaram três volumes da obra de Dickinson, a última em 1896. Dois anos depois, surgiu uma disputa entre Todd e os Dickinsons.

Todd disse que o irmão de Emily Dickinson tinha prometido a ela um pedaço de terra e, como ela não recebeu o prometido, negou-se a devolver os originais. Em 1956, a filha de Todd doou a coleção – cerca de 850 poemas e fragmentos e mais 350 cartas – para a Amherst College, instituição da qual o avô de Dickinson foi um dos fundadores e seu pai e irmão serviram como tesoureiros. Enquanto isso, os manuscritos que permaneceram na família Dickinson – cerca de 700 poemas e 300 cartas – acabaram sendo vendidos para Gilbert Montague, um primo distante de Dickinson, que em 1950 havia doado tudo para Harvard.

Desde então, existe a disputa entre as duas uniersidades. Algumas décadas atrás, Harvard sugeriu que Amherst não tem a propriedade legítima da coleção porque “Mabel nunca devolveu o que pegou aos Dickinsons”.

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O “Dickinson Eletronic Archives” já está no ar

A Coleção L&PM Pocket publica Poemas escolhidos de Emily Dickinson em edição bilíngue e com tradução de Ivo Bender.

É ou não é Emily Dickinson?

Emily Dickinson nasceu em 10 de dezembro de 1830. Poeta reclusa, produziu muito e publicou pouco. Na verdade, nunca lançou um livro em vida. Para completar o surgimento do “mito Dickinson”, apenas uma foto sua é considerada autêntica até hoje. É uma imagem datada de 1847, quando Emily Dickinson tinha 16 anos e mostra uma jovem séria, de cabelo preso e vestido preto.

Este ano, no entanto, a revelação da existência de um novo daguerreótipo colocou os fãs da escritora em polvorosa. Especula-se que esta nova imagem seja da escritora perto dos trinta anos, pois provavelmente foi feita entre 1859 e 1860. Segundo o Museu Emily Dickinson, a imagem ainda está sendo analisada, mas há muitas evidências “físicas” que levam a crer que dessa vez a foto é mesmo de Dickinson. O daguerreótipo mostra duas mulheres, sendo que a moça da esquerda seria a poeta. Já a mulher da direita teria sido identificada como Kate Scott Turner, amiga da família Dickinson. “É fascinante, pois o período mais produtivo de Dickinson ocorreu justamente quando ela estava na casa dos trinta anos e ver a mulher que poderia ser Emily Dickinson na fase adulta remodela o pensamento de cada um.” disse Jane Wald, diretora do Museu.

As características físicas também serviram como ponto de partida para identificar a mulher à esquerda da fotografia. Famosos oftalmologistas examinaram cuidadosamente os olhos da nova imagem e compararam com o retrato de 1847, onde se nota um reconhecível astigmatismo em um dos olhos. Depois de ampliar e comparar, eles acreditam tratar-se da mesma pessoa. Outra característica facial analisada foi a posição da sua orelha direita e a configuração da área entre o nariz e o lábio superior (veja aqui o relatório completo).

As roupas usadas também oferecem pistas adicionais, pois há uma acentuada semelhança no estilo do vestido usado na imagem de 1847 com esta nova. Além disso, uma amostra de tecido azul-xadrez nas coleções do Museu de Emily Dickinson é semelhante no padrão e brilho encontrado na figura da esquerda no daguerreótipo.

Estudos ainda mais aprofundados ainda estão sendo feitos e os envolvidos no processo de pesquisa estão eufóricos. Veja você mesmo, compare e dê a sua opinião. É ou não é Emily Dickinson?

Será Emily Dickinson à esquerda da foto? Estudiosos dizem que sim. (clique na imagem para ampliá-la)

Se quiser comparar com a imagem de Emily Dickinson aos 16 anos, aqui está ela


A Coleção L&PM Pocket publica Poemas escolhidos de Emily Dickinson em edição bilingue e com tradução de Ivo Bender.

À noite, como deve sentir-se solitário o vento
Quando todos apagam a luz
E quem possui um abrigo
Fecha a janela e vai dormir.

Ao meio-dia, como deve sentir-se impotente o vento
Ao pisar em incorpórea música,
Corrigindo erros do firmamento
E limpando a cena.

Pela manhã, como deve sentir-se poderoso o vento
Ao se deter em mil auroras,
Desposando cada um, rejeitando todas
E voando para seu esguio templo, depois.

De Emily Dickinson, Poemas escolhidos – Edição bilingue

As salas onde nasceram os clássicos

Se olhasse pela janela entre uma página e outra de seu O som e a fúria, que paisagem Faulkner veria? E o que mais dividia espaço com os originais de Moby Dick na mesa de trabalho de Melville? Afinal, quais ambientes inspiraram estes e outros autores a criar as grandes obras da literatura mundial? O livro American Writers at Home tenta saciar parte desta curiosidade trazendo fotos do interior da casa de 21 escritores americanos, entre eles William Faulkner e Herman Melville. A autoria das imagens é da fotógrafa novaiorquina Erica Lennard.

Provavelmente, algumas das obras mais famosas de Faulkner foram concebidas sob influência da paisagem desta janela, na casa onde o escritor morou em Oxford, Mississipi.

Ernest Hemingway, autor do famoso Por Quem os Sinos Dobram, criava suas histórias nesta sala bem iluminada em sua casa na ilha de Key West, Florida.

Eugene O’Neill trabalhava e recebia visitas numa ampla sala na cidade de Danville, Califórnia. Alguns dos prêmios Pulitzer conquistados pelo dramaturgo provavelmente foram concebidos lá.

Huckleberry Finn, escrito por Mark Twain e considerado por Faulkner a melhor obra da literatura moderna americana, e As aventuras de Tom Sawyer podem ter sido criados em meio a bagunça desta mesa:

Além destes, é possível conhecer um pouco da intimidade de outros grandes nomes da literatura mundial como Louisa May Alcott, Kate Chopin, Emily Dickinson, Frederick Douglass, Ralph Waldo Emerson, Robert Frost, Nathaniel Hawthorne, Washington Irving, Robinson Jeffers, Sarah Orne Jewett, Henry Wadsworth Longfellow, Edna St. Vincent Millay, Flannery O’Connor, Eudora Welty, Edith Wharton e Walt Whitman.

As bonecas da aniversariante Emily Dickinson

Hoje é aniversário de Emily Dickinson. Nascida em 10 de dezembro de 1830, em uma casa chamada The Homestead, seus 1.775 poemas só foram descobertos depois de sua morte, em 1886. Aproveitamos a data comemorativa para mostrar aqui algumas bonecas da escritora que estão à venda no Ebay, o site onde é possível comprar de tudo no mundo.

Da famosa Madame Alexander, essa Emily vem com um livrinho e é vendida no Ebay por preços que variam de U$ 65 e U$ 95

Fofa, de pano, e custa apenas U$ 9,99

A boneca Emily que é um pote e vem com certificado é vendida por U$ 14,99

 Se no lugar de bonecas, você prefere mesmo literatura, a L&PM publica, na coleção POCKET Plus, Emily Dickinson, poemas escolhidos, em edição bilingue e com tradução de Ivo Bender.

As últimas palavras dos escritores

O site do jornal britânico The Guardian publicou uma matéria bem legal sobre as últimas palavras de célebres escritores. Selecionamos algumas delas (em tradução livre):

The Guardian publicou uma seleção de “últimas palavras” / Reprodução

Mark Twain: Death, the only immortal, who treats us alike, whose peace and refuge are for all. The soiled and the pure, the rich and the poor, the loved and the unloved. (“Morte, a única imortal, que nos trata da mesma forma, para a qual paz e refúgio são para todos. O sujo e o puro, o rico e o pobre, o amado e o não-amado.”)
Essa nota foi encontrada no leito de morte do autor de Tom Sawyer e publicada em uma coletânea de 1935. Depois de sofrer um ataque cardíaco em Bermudas, Twain voltou para sua casa em Connecticut para se recuperar. Previu em 1909 que iria “sair de cena” com o cometa Halley – que tinha aparecido no ano de seu nascimento. E morreu um dia depois da maior aproximação do astro com a Terra. De acordo com seu biógrafo, ele disse: “’Adeus’, e o Dr. Quintard, que estava perto, achou que ele tinha acrescentado: ‘Se nós nos encontrarmos’ – mas as palavras foram muito fracas.”

Emily Dickinson: I must go in, the fog is rising. (“Eu devo ir, o nevoeiro está aumentando.”)
A saúde de Dickinson piorou consideravelmente nos últimos anos de sua vida, até que ela finalmente ficou presa à cama, limitando-se a escrever pequenas notas. Seu médico considerou como causa da morte a doença de Bright, um mal renal agora chamado de nefrite.

Robert Louis Stevenson: What’s that? Do I look strange? (“O que é isso? Eu pareço estranho?”)
Com a saúde debilitada desde 1880 (ele morreu em 1894), o autor de O médico e o monstro mudou-se para Samoa na tentativa de uma recuperação. Stevenson provavelmente morreu de hemorragia cerebral. De acordo com sua biógrafa, “no fim da tarde, ele desceu as escadas falando sobre um tour de palestras na América que estava ansioso por fazer, já que estava ‘se sentindo tão bem’… de repente ele colocou as duas mãos sobre a cabeça e gritou: ‘o que é isso?’ Aí ele perguntou logo depois: ‘eu pareço estranho?’” E logo que fez isso caiu de joelhos ao lado dela.

Anton Tchékhov: It’s a long time since I drank champagne. (“Fazia muito tempo que eu não bebia champanhe.”)
Já doente terminal, foi com a esposa Olga para Badenweiler, no interior da Alemanha. Mais tarde, ela recordou seus últimos momentos: “Anton sentou-se estranhamente reto e disse alta e claramente (embora não soubesse quase nada de alemão): ‘Ich sterbe’ (estou morrendo). O doutor o acalmou, pegou uma seringa, aplicou uma injeção e pediu champagne. Anton pegou uma taça cheia, examinou-a, olhou pra mim e disse: ‘Fazia muito tempo que eu não bebia champagne’. Aí ele bebeu tudo, colocou a taça do seu lado esquerdo sem fazer barulho e eu só tive tempo de correr até ele, me inclinar sobre a cama e chamá-lo, mas ele tinha parado de respirar e estava dormindo tranquilamente como uma criança.”

Franz Kafka: Dearest Max, my last request: Everything I leave behind me … in the way of diaries, manuscripts, letters (my own and others’), sketches, and so on, (is) to be burned unread. (“Querido Max, meu último pedido: tudo que eu deixo pra trás… diários, manuscritos, cartas (minhas próprias e de outros), sketches, e assim por diante, deve ser queimado antes que possa ser lido.”)
O bilhete foi deixado por Kafka pouco antes de morrer de tuberculose em um sanatório perto de Viena. Como se sabe, Max Brod não cumpriu o último pedido do amigo, o que resultou agora, em 2010, numa grande disputa judicial pelos direitos do material deixado por Kafka.

Virgínia Woolf: I feel certain that I’m going mad again… (“Tenho certeza de que estou enlouquecendo de novo…”)
Temendo que estivesse a beira de mais uma crise, Woolf suicidou-se enchendo seus bolsos de pedras e afongando-se no Rio Ouse. O corpo só foi encontrado vinte dias depois. O bilhete que deixou para o marido dizia: “Tenho certeza de que estou enlouquecendo de novo… Eu sinto que não podemos passar novamente por outro daqueles tempos terríveis. E não acho que vou me recuperar dessa vez. Comecei a ouvir vozes e não consigo me concentrar. Então estou fazendo o que parece ser o melhor a fazer… Eu não posso continuar a estragar a sua vida por mais tempo. Eu não acho que duas pessoas poderiam ter sido mais felizes do que nós fomos.”

Leia a íntegra da matéria aqui.