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Contatos imediatos com Hilda Hilst

Um portão antigo, um gravador, microfones e Hilda Hilst. É assim que começa o documentário Hilda Hilst Pede Contato, que estreia nesta quinta-feira, 2 de agosto, nos cinemas nacionais. Com direção e roteiro de Gabriela Greeb, o filme apresenta a sensibilidade de Hilda e sua busca por inspiração no cósmico literário, utilizando um velho gravador. A escritora paulista, que foi homenageada da FLIP – Festa Literária Internacional de Paraty deste ano, apresentava um misticismo curioso ao realizar suas criações tentando se conectar com os mortos, e é retratada de forma sensível e ao mesmo tempo arrepiante.

Segundo relatos da produção, alguns eventos sobrenaturais aconteceram durante as gravações na Casa do Sol, morada de Hilda em Campinas. Objetos que se mexiam, direcionamentos da luz repentinos e ruídos estranhos compuseram o cenário de gravações que permitiram que a escritora, dessa vez, tivesse uma comunicação inversa: do mundo dos mortos para os vivos.

A Coleção L&PM Pocket está publicando o Teatro Completo de Hilda Hilst. Os dois primeiros volumes já estão nas livrarias e apresentam, cada um deles, duas peças. O volume 1 traz O Verdugo e A Noite do Patriarca e o volume 2 oferece As Aves da Noite e O Visitante. Os volumes 3 e 4 estão previstos para chegarem ainda em 2018.

Millôr onipresente na Flip

Millôr está na Praça da Matriz de Paraty: em letras gigantes que reproduzem o modo como ele próprio desenhava seu nome.

Millor praca

Millôr está na Casa de Cultura: em uma exposição que traça um paralelo entre sua vida e obra e que se divide em módulos que relembram todas as fases de seu trabalho.

Millor expo

Millôr está em todas as palestras da Tenda dos Autores: no fundo do palco, em um painel que exibe seus inconfundíveis traços.

Millor Palco

Millôr está em todas as mãos: ao longo da Flip estão sendo oferecidas edições do Daily Millôr, um jornal diário feito exclusivamente para o evento.

Daily Millor

Por fim, Millôr está nas livrarias da histórica cidade: a L&PM, por exemplo, tem diferentes títulos a oferecer.

Millor_todos

A Flip 2014 – Festa Literária Internacional de Paraty, que homenageia Millôr Fernandes, termina no domingo, 3 de agosto. Mas seguiremos festejando o guru do Méier! 🙂

 

Millôr Fernandes será o autor homenageado da Flip em 2014

Agência Estado –Por Maria Fernanda Rodrigues

São Paulo, 11 (AE) – Apesar da campanha de pesquisadores e de leitores, não deu para Lima Barreto (1881-1922). O homenageado da Festa Literária Internacional de Paraty de 2014, marcada para o período de 30 de julho a 3 de agosto, será Millôr Fernandes (1923-2012).

É a primeira vez que os organizadores do evento escolhem um autor contemporâneo para as homenagens que se espalham por diferentes espaços da Flip – estão previstos debates e exposições. “O Brasil tem uma relação cruel com seus autores. Depois que morrem, passam 10, 20 anos numa espécie de limbo até que eles começam a ser reeditados. Eu quis dar uma resposta imediata a essa morte”, justifica Paulo Werneck, curador da Flip. Millôr, que esteve na primeira edição da festa fluminense, em 2003, quando dividiu o palco com o jornalista Ruy Castro, sofreu um acidente vascular cerebral em 2011 e morreu um ano depois, aos 88.

A ideia é explorar as múltiplas faces de Millôr, colaborador do jornal O Estado de S. Paulo entre 1996 e 2000 – ele foi humorista, artista gráfico, caricaturista, cartunista, escritor, dramaturgo, jornalista. “Millôr era o mundo da Flip num homem só: traduzia Shakespeare com erudição e fazia cartum nos anos 1950, quando a forma não era reconhecida.”

Com a homenagem, novos livros devem ser lançados e edições antigas podem ganhar cara nova. A agente literária Lucia Riff, que representa a obra do autor, diz que L&PM e Nova Fronteira continuam com os direitos da obra dele, mas adianta que outras edições estão sendo preparadas por novas casas editoriais. Com a morte do escritor, seu acervo foi doado para o Instituto Moreira Salles pelo filho Ivan, e daqueles 7 mil itens pode sair muito material.

Nos planos da L&PM estão “Millôr 3 em 1”, previsto para breve com “ê, Millôr Definitivo” e “Liberdade, Liberdade”, e ainda reedições, no formato convencional, das peças já publicadas em edições de bolso.

OUTROS HOMENAGEADOS

A Flip já celebrou, de 2013 para trás, Graciliano Ramos, Carlos Drummond de Andrade, Oswald de Andrade, Gilberto Freire, Manuel Bandeira, Machado de Assis, Nelson Rodrigues, Jorge Amado, Clarice Lispector, Guimarães Rosa e Vinicius de Moraes.

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Clique aqui e conheça todos os títulos de Millôr publicados pela L&PM.

Na Flip, crianças criam mil e uma histórias para “As mil e uma noites”

Durante a Flip (Festa Internacional de Paraty) deste ano, o Marca RJ – um projeto do Governo do Rio de Janeiro que valoriza a cultura e as pessoas – está exibindo vídeos em que crianças olham as capas de livros clássicos e imaginam sobre o que são aquelas histórias.

Aqui, por exemplo, você pode ver o que as crianças imaginam a respeito de “As mil e uma noites” depois de olharem a edição da L&PM que faz parte da Série Clássicos da Literatura em Quadrinhos.

 

Paraty é uma cidade poética

Paraty é a soma de casas históricas, pedras irregulares, cores vibrantes, águas calmas. E se isso não bastasse para dar vontade de versejar, há ainda um príncipe (D. João de Orleans e Bragança – descendente de D. Pedro) que ali vive cercado de uma natureza abençoada que cheira a cachaça dourada, coco maduro e peixe fresco. Em época de Flip – a festa literária – quando o movimento deixa as ruas congestionadas de gente, a cidadezinha fica mais internacional e pulsante do que nunca. Para os que vivem do turismo, é um prato cheio. Já para os que só estão por lá em busca de sossego, é uma espécie de pesadelo. O evento não dura muito, somente cinco dias, mas o suficiente para que a literatura penetre por todos os poros das pedras polidas nas ruelas. Este ano, na décima edição da Flip, novamente grandes escritores do mundo, autores de diferentes etnias e sotaques, ali se reuniram como numa grande fraternidade. O colombiano Juan Gabriel Vásquez, autor de Os informantes e História Secreta de Costaguana (editados pela L&PM), foi um dos convidados. E assim como seus colegas de letras, ele apaixonou-se por Paraty. Paraty, que tem um pé em Paradise, Paradies, Paradis, Paradijs e todas as outras formas e idiomas de se chegar ao “paraíso”. (Paula Taitelbaum)

As águas de Paraty

O céu de Paraty

Árvore de livros em Paraty

Painéis da Flip com Millôr Fernandes em primeiro plano

A conferência com a participação de Juan Gabriel Vásquez (no centro e no telão)

Fotos: Nanni Rios

Ficção, história, frases e Flip

Por Paula Taitelbaum*

Empolgante, esclarecedora, engraçada. Se eu precisasse resumir em três adjetivos o encontro que reuniu os escritores de língua espanhola Juan Gabriel Vásquez e Javier Cercas, talvez escolhesse estes. Mas, pensando bem, eles não fariam jus a tudo o que se ouviu na Tenda dos Autores da Flip na quinta-feira à tarde. Com o tema “Ficção e História” e a mediação de Angel Gurría-Quintana, a conferência começou com a leitura de trechos de livros de ambos os escritores. Com seu espanhol claríssimo e deliciosamente sonoro, Vásquez leu um trecho de “História Secreta de Costaguana” (L&PM Editores), seguido de Cerca que leu um trecho de seu livro.

Os escritores Javier Cercas, Juan Gabriel Vásquez (ao centro e no telão) e o mediador Angel Gurría-Quintana

A partir de então, totalmente entrosados, os dois autores presentearam a plateia com ótimas frases. Anotei algumas de Juan Gabriel para compartilhar aqui no blog:

“Toda novela é a construção de uma voz, mas algumas dessas vozes são mais parecidas com a nossa”

“A voz de ‘Os informantes’ é mais parecida com a minha, já ‘História Secreta de Constaguana’ é um capricho, uma reflexão de como, por que e o que se passa quando escrevemos uma história”

“Temos que evitar a tentação de nos embasarmos no que as pessoas já conhecem. A novela como gênero, diferente do romance histórico, deve criar uma nova realidade, reinventar o mundo. A novela conta as coisas como poderiam ter sido e não exatamente como se passaram. Há a liberdade de distorcer.”

“Minha novela é uma espécie de metáfora histórica”

“A verdade histórica é factual e concreta. A verdade literária é abstrata, universal, fala do que ocorre com os homens em qualquer lugar. Há aqueles que misturam os dois e buscam a verdade literária e histórica”

“W. Somerset Maugham já dizia que há três regras para escrever novelas, o problema é que ninguém sabe quais são elas.”

“Já disse E. Doktorou: o romancista histórico é aquele que finge que existem mais documentos históricos do que realmente existe”

“Tudo é mais complicado. O novelista quer iluminar o que não sabemos”

“A literatura é como um fósforo no meio do campo escuro. Ele não serve para iluminar, mas para mostrar o quanto de escuridão existe”

“Toda novela é uma crítica à novela que a precede” (Referindo-se a suas próprias novelas)

“O passado não passa nunca, ele nem sequer passou” (Citando William Faulkner)

Juan Gabriel Vásquez na Flip!

Só hoje a gente pode contar a novidade, pois precisávamos esperar a coletiva de imprensa oficial da Flip – Festa Literária Internacional de Paraty. A programação do evento, que este ano completa uma década, foi divulgada esta manhã. E a novidade é que, em 2012, um autor aqui da casa estará participando da Flip. O escritor colombiano Juan Gabriel Vásquez, autor de História Secreta da Constaguana (que chegará da gráfica no início da semana que vem e breve estará nas livrarias) participa de uma mesa sobre “Ficção e História” no dia 5 de julho às 17h15min. Ele estará ao lado de Javier Cercas e a conversa será mediada por Ángel Gurría-Quintana. Veja aqui a programação completa.

De Vásquez, a L&PM lançou em 2010 o excelente Os informantes e agora traz para o Brasil História Secreta da Costaguana, um romance se passa em um país que não pode ser encontrado no mapa, Costaguana, localidade que pertence à literatura, à imaginação do escritor Joseph Conrad. A partir do encontro entre dois viajantes, José Altamirano e Joseph Conrad, Vásquez narra a história do que seria um dos grandes roubos da literatura: a apropriação indevida de Conrad da vida de Altamirano – e como o grande romancista transformou a história pessoal desse ambíguo personagem. O romance tem como pano de fundo a heróica saga da construção do Canal do Panamá.

 

Flp, Flp, Flp, flip, fliiip, fliiip, FLOOOOP!!

Marcos e Rachel Ribas moram há anos em Paraty e são donos do Teatro Espaço. Com exclusividade para o Blog da L&PM, Marcos escreveu um texto sobre a Festa Literária Internacional de Paraty, evento que ele acompanha (como morador da cidade) desde antes da primeira edição.

Marcos Ribas

A nave mãe baixa finalmente sobre o Areião do Pontal, ao lado da Santa Casa da Misericórdia, o hospital da cidade.
Vai começar a Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), provavelmente o maior evento literário do mundo com este formato.
Lembro de quando, em 2002, Liz Calder e Louis Baum (seu marido) convidaram Rachel e eu para jantar e para falar sobre o plano que ela tinha de fazer um evento literário em Paraty, num formato que ela conheceu numa cidade pequena da Inglaterra.
Confesso que achei a ideia meio maluca. Imaginei alguns autores estrangeiros lendo seus textos literários, que eram reproduzidos em tradução simultânea por pessoas sem muita formação na área, e me lembrei da expressão italiana “traduttore, traditore”. Mas ouvi com atenção. Afinal, aquela mulher (muito simpática, diga-se de passagem) era a co-fundadora da Bloomsbury Publishing, a editora do Harry Potter.
Perguntei se eles tinham já o principal que, naturalmente, era o dinheiro para o evento. Ela me disse que não. Que estava em contato com uma editora de São Paulo, mas que se dispunha a investir uns US$ 50.000,00 de dinheiro dela. Pensei “que maluquice”, mas educadamente disse: “Que legal, que bom para Paraty. Vai em frente, faz aí.”
E seguimos comendo da boa comida que ela servia, tomando do bom vinho e proseando sobre outros assuntos divertidos, como sempre acontecia nas nossas visitas daquela época.
Caramba, como aquilo deu certo! Como cresceu!
De cima da ponte, olho para a nave mãe de um lado do Rio Perequê-açu e para as duas enormes tendas do outro lado e fico totalmente pasmado. Que coisa enorme que é a Flip. Perto das duas tendas grandes, a Flipinha colore e transforma a Praça da Matriz, que praticamente desaparece no meio do colorido, dos bonecos gigantes, dos livros pendurados nas árvores, e das muitas atividades oficiais e penetras. A Flip é um fenômeno, um enorme fenômeno muito maior do que Paraty…
Mas vamos voltar para a Liz Calder, a criadora da Festa, a inventora da Flip. Engraçado este nome, não é? Flip. To flip em inglês quer dizer fazer dar voltas. Palavra muito usada na expressão to flip the coin que significa literalmente jogar a moeda para cima, ou jogar cara ou coroa.
Já faz algum tempo que a gente não se encontra com calma para jantar e conversar fiado, como se dizia na minha cidade natal lá do norte de Minas. E fico pensando como é que a Liz, que já não tem mais casa em Paraty, que circula pelo evento mais como uma rainha mãe, se sente sobre tudo isto agora, oito Flips depois, fliping um orçamento de 6,3 milhões de reais in the air. Quite a lot of coins, I would say.
Se a festa faz bem para a cidade? Acredito que sim, mas no começo pensava: “como será que Paraty vai digerir a Flip?”  Hoje penso: “como será que a Flip vai digerir Paraty?” O futuro dirá.
No presente, não tenho do que me queixar. No Teatro Espaço, nosso espetáculo está cheio. Lotado, mesmo na noite do show de abertura, que é na Praça, quase aberto para o público e sempre com grandes nomes como Caetano, Gilberto Gil, este ano com Edu Lobo e (veja você) Fernando Henrique Cardoso.
Só é chato a história de não poder comer fora sem fazer fila, e a mania que o povo tem de me confundir com o Paulo Coelho…(hehe) Mas que fazer, não é?
A Flip tem seus prós e tem seus contras, é assim mesmo, é natural. Quero ver a conferência do Robert Crumb e do Gilbert Shelton (Fritz the Cat x Freak Brothers), o horário só me permite assistir uma parte antes do nosso espetáculo e só consegui um ingresso. Tudo bem, fazer o que? A confusão dos ingressos é o problema maior que eles têm. Mesmo para nós moradores.
Eu não falo nada. Fico quieto, só no meu canto, mineiramente esperando. Olhando aquele mundão de gente e esperando até que flooop, fliiip, fliip, fliip, flip, flip, flip, vupt! A nave mãe foi embora. Ufa! Paz de novo em Paraty…