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Os escritores e suas modalidades olímpicas

As Olimpíadas seguem a mil pelo Japão. Enquanto isso, entramos no clima e apresentamos algumas modalidades nas quais alguns autores do nosso catálogo eram campeões.

Modalidade levantamento de copo. Jack Kerouac foi atleta de verdade e fazia parte do time de futebol americano da sua universidade. Mas  por problemas no joelho acabou tendo que largar a vida esportiva. Costumava ser bom em levantamento de copo e corrida na estrada sem obstáculos.

Modalidade levantamento de copo

Modalidade lançamento de livro à distância. Agatha Christie chegou a surfar no Havaí, mas acabou percebendo que se dava melhor com os papéis do que com as pranchas. Tornou-se uma das maiores lançadoras e vendedoras de livro do planeta e foi traduzida para 45 línguas.

Modalidade lançamento de livro à distância

Modalidade revezamento de personalidade. Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Bernando Soares. Ninguém praticava revezamento de heterônimos com tanta habilidade como Fernando Pessoa. Ele não era um escritor, era uma equipe completa.

Modalidade revezamento de personalidade

Modalidade agarramento de mulheres. Charles Bukowski era um excelente levantador de copos e empinador de garrafas – provavelmente melhor do que Kerouac – mas dizem que ele também era um exímio atleta sexual e campeão de agarramento de mulheres.

Modalidade salto sobre mulheres

O tema geral da cerimônia de abertura será a história do povo brasileiro.

Eles chegaram antes em e-book

Cinco títulos da Série 64 Páginas e mais dois da Coleção L&PM Pocket (Agatha Christie e Simenon) que breve estarão nas livrarias, já podem ser lidos em e-book. Isso porque a L&PM lançou antes a versão digital. Confira aqui estes lançamentos. Lembrando que a Série 64 Páginas em e-book custa apenas R$ 3,00:

Lançamentos Coleção 64 páginas e-book:

O curioso caso de Benjamin Button, F. S. Fitzgerald
Sonetos de amor e desamor, Camões, Olavo Bilac, Castro Alves, Augusto dos Anjos, Florbela Espanca
Piadas para sempre, Visconde da Casa Verde
O método de interpretação dos sonhos, Sigmund Freud
124 Fábulas de Esopo

"O curioso caso de Benjamin Button", de Fitzgerald, que inspirou o filme com Brad Pitt, já pode ser lido em e-book em nova tradução

“O curioso caso de Benjamin Button”, de Fitzgerald, que inspirou o filme com Brad Pitt, já pode ser lido em e-book em nova tradução

Lançamentos Coleção L&PM Pocket e-book:

Morte nas nuvens, Agatha Christie
Uma confidência de Maigret, Georges Simenon

Um novo título de Agatha Christie que já chegou em e-book

Um novo título de Agatha Christie que já chegou em e-book

Lembrando ainda que a L&PM está lançando, em e-book, todas as tirinhas de Rango, de Edgar Vasques.

Clique aqui e conheça todo o catálogo e-book L&PM que já passa dos 500 títulos.

110 anos do nascimento de Georges Simenon

Georges Joseph Christian Simenon nasceu nas primeiras horas do dia 13 de fevereiro de 1903, uma sexta-feira, na cidade de Liège na Bélgica. Mas por serem superticiosos, seu pais, Desiré e Henriette, não gostaram da ideia de ter o primogênito nascido numa sexta-feira 13 e registraram seu filho como nascido às 23 horas e 30 minutos do dia 12 de fevereiro. Se foi isso que deu sorte à carreira literária de Georges Simenon, não se sabe. Mas que seu principal personagem, o comissário Maigret, até hoje é um sucesso, isso não se discute.

Simenon lançou seu primeiro romance, Au pont des arches, em 1921 com o pseudônimo de Georges Sim. Em meados dessa década, ele mudou-se para Paris, foi estudar Belas-Artes, casou-se pela primeira vez, foi trabalhar como secretário particular e conheceu o marquês Raymond d’Estutt de Tracy, dono de Paray-le-Frésil, propriedade que depois tornou-se, na ficção, Saint-Fiacre, local de nascimento do comissário Maigret.

Para sobreviver, Simenon escreveu romances populares – histórias melosas ou relatos de aventuras – em ritmo industrial e sob os mais diversos pseudônimos: Jean du Perry, Georges Sim, Christian Brulls, Luc Dorsan, Gom Gut, Georges Martin-Georges, Georges d’Isly, Gaston Vialis, G. Vialo, Jean Dorsage, J. K. Charles, Germain d’Antibes, Jacques Dersonne.

Em 1929, o comissário Maigret fez sua primeira aparição, na história Train de nuit, ainda num papel secundário, e ainda escrito sob pseudônimo (Christian Brulls). Mas em 1930, no folhetim La maison de l’inquiétude, Maigret foi responsável por um inquérito do início ao fim. A partir daí, viriam 75 histórias com o comissário considerado o mais humano dos detetives da literatura.

Na vida pessoal, Simenon foi uma figura polêmica. Enfureceu ex-esposas, teve várias amantes e declarou em uma entrevista a Frederico Fellini que chegou a ter relações com 10.000 mulheres. Mesmo que este número não passe de fantasia, não se pode dizer que Simenon não tenha aproveitado os seus mais de 80 anos de vida.

O sedutor Georges Simenon e seu inseparável cachimbo

A Coleção L&PM Pocket publica mais de 60 títulos do comissário Maigret, assinados por Georges Simenon.

Georges Simenon, o escritor que amava as mulheres

Quantas mulheres terão chorado a morte do escritor Georges Simenon, ocorrida em 04 de setembro de 1989 aos 86 anos?  Isso porque, segundo ele mesmo revelou em uma entrevista concedida ao italiano Roberto Gervaso – publicada na íntegra pela Revista Oitenta, editada pela L&PM em 1984 –  seu número de conquistas girava em torno de dez mil:

Quantas mulheres você conheceu biblicamente?
SIMENON – Falaram em dez mil.

E você, o que diz?
SIMENON – Talvez uma a mais, ou uma a menos.

Profissionais ou amadoras?
SIMENON – Muitas jovens atrizes e bailarinas.

Georges Simenon e Betta St. John in Cannes no ano de 1957

Entre as paixões de Simenon, esteve a famosa atriz, cantora e dançarina negra Josephine Baker. Na mesma entrevista, Gervaso pergunta sobre ela:

Você esteve verdadeiramente apaixonado por Josephine Baker?
SIMENON – Eu tinha 22 anos, inexperiente, desconhecido, e ela era ultracélebre. Mas foi uma relação brevíssima.

Como acabou?
SIMENON – Num certo momento, fugi para uma ilha.

Por quê?
SIMENON – Não queria me tornar o sr. Baker.

O jovem Simenon divertindo-se com as caretas de Josephine Baker

Simenon em nada lembrava seu mais célebre personagem, o comissário Jules Maigret. Bem-comportado e fiel à sua esposa, Maigret  pulou a cerca apenas uma vez e só teria feito isso para conseguir uma informação importante de uma prostituta. Já Simenon era um infiel inveterado, como ele também contou a Gervaso:  

Quando o ciúme impede o adultério?
SIMENON – Casei em primeiras núpcias com uma mulher ciumentíssima, que, depois do primeiro dia de casados, ou da primeira noite, não recordo, ameaçou de se suicidar se algum dia eu a traísse.

E você?
SIMENON – Eu a traí escondido durante vinte anos, odiando-a.

Odiando-a?
SIMENON – Sim, porque não há nada mais humilhante, mais ofensivo à nossa dignidade do que a coerção à mentira.

Nos 23 anos da morte de Georges Simenon, vale a pena ler a entrevista na íntegra que está à disposição no site da L&PM. Clique aqui e divirta-se!

Com mais de 80 anos, Simenon continuava com cara de sedutor

A Coleção L&PM Pocket publica mais de 40 livros com histórias do comissário Maigret, criadas por Georges Simenon.

As primeiras edições de bolso de Maigret

Para comemorar o aniversário de 109 anos de Georges Simenon, compartilhamos aqui e agora algumas capas das primeiras edições em pocket das histórias do Comissário Maigret. Elas foram publicadas nos anos 1940 nos EUA e, hoje, continuam fazendo sucesso na Coleção L&PM Pocket. Sinal de que Simenon não envelhece nunca…

"Liberty Bar", lançado em pocket nos EUA em 28 de setembro de 1941

"Um crime na Holanda" chegou em 30 de novembro de 1941

"Maigret e os flamengos", lançado em 15 de março de 1942

"Maigret", que marca o retorno do famoso personagem de Simenon, foi lançado em 29 de novembro de 1942

66. Maigret em quadrinhos

A L&PM publica quase toda a obra de Georges Simenon no Brasil, inclusive dezenas de novelas inéditas de um dos maiores mestres da literatura de suspense no mundo. Já são mais de 50 títulos Coleção L&PM Pocket e a Série Simenon não pára de crescer. Por outro lado, também é notória a tradição da L&PM na publicação de histórias em quadrinhos, tanto que o primeiro livro lançado pela editora em 1974 foi o Rango, com as tirinhas de Edgar Vasques. Sem mais delongas, o pedacinho de história da L&PM que vamos resgatar hoje é o álbum Maigret e seu morto, que conta em formato de quadrinhos as artimanhas do Comissário Maigret para solucionar mais um caso misterioso. A quarta capa do livro explica do que se trata:

Quai des Orfèvres, uma manhã de fevereiro. O Comissário Maigret escuta distraidamente uma visitante quando é interrompido por uma ligação telefônica. Um homem apavorado diz que está sendo perseguido, pede proteção e marca um encontro num bar. Mas quando o inspetor enviado por Maigret chega no lugar combinado o desconhecido já havia partido. O homem liga novamente e marca outro ponto de encontro, mas também desta vez ele parte antes da chegada do inspetor. De madrugada, Maigret é acordado por outro telefonema: um cadáver fora encontrado na Place de la Concorde. Deslocando-se imediatamente para o local, o Comissário reconhece o misterioso interlocutor através da descrição feita pelo próprio homem ao marcar o primeiro encontro. Começa a investigação de Maigret. Quem é o homem? Por que o eliminaram daquele jeito? Por que o depositaram, depois de morto, naquele belo cenário da Place de la Concorde?

Confira um trechinho:

Toda terça-feira, resgatamos histórias que aconteceram em quase quatro décadas de L&PM. Este é o sexagésimo sexto post da Série “Era uma vez… uma editora“.

O ritual literário de Georges Simenon

Para Georges Simenon, o criador do comissário Maigret, o maior crime que se podia cometer era incomodá-lo enquanto estava trabalhando. “Não perturbe”, dizia uma plaquinha na porta de seu escritório. Outra condição sine qua non para começar a escrever um romance incluía pelo menos quatro dúzias de lápis recém apontados, um bloco novo de folhas amareladas, um envelope com nomes, idades e endereços de seus personagens e uma lista com possíveis itinerários de trem, além da máquina de escrever a postos e devidamente higienizada, as cortinas fechadas e café em boa quantidade. Cada novela levava de 8 a 11 dias para ser escrita, no ritmo de um capítulo por manhã – Simenon dava “expediente” em seu escritório das 6h30 às 9h.

Simenon em seu apartamento, em Paris

Ao todo, ele escreveu cerca de 250 mil páginas, que ligadas ponta com ponta chegariam aos 6km de extensão. Duvida? Então faça a conta, por cima: 75 histórias com o comissário Maigret, 115 novelas, 117 “roman durs” (ou “hard novels”), sem esquecer dos 249 roteiros. Tamanho currículo lhe rendeu o posto de 4º autor de língua francesa mais traduzido no mundo!

Onde nós queremos chegar com tantos números? Era só pra dizer que todos estes objetos que fizeram parte do ritual literário do grande Georges Simenon estão em exposição no Historial de la Vendée, na França, até o dia 26 de fevereiro de 2012. São 200 objetos pessoais do escritor: além dos 6km de originais manuscritos e/ou datilografados e de todo o “arsenal” envolvido em sua produção literária, é possível ver de pertinho também o inseparável chapéu de feltro e o moedor de tabaco. Já pensou que emoção?

Se você estiver pela França, não perca esta! Visite a exposição, faça umas fotos e compartilhe aqui para nos deixar morrendo de inveja 😉

53. Três gerações de amizade e parceria

Por Ivan Pinheiro Machado*

Carlos Augusto Lacerda, meu amigo, dublê de surfista e brilhante editor, foi a terceira geração na proa da editora Nova Fronteira, esta que foi uma das maiores e mais importantes do mercado brasileiro. Pois coube a ele, em 2008, a dura missão de vender o respeitado e admirado negócio familiar para o grupo Ediouro.

Hoje, Carlos Augusto segue com o mesmo entusiasmo à frente da Editora Lexikon, especializada em livros de referência e dicionários em geral, com a autoridade do know how adquirido como editor do célebre Aurélio. Foi na editora Nova Fronteira que o mais famoso dicionário brasileiro adquiriu o respeito e a celebridade que goza até hoje.

Carlos Lacerda

A história da L&PM, em mais de 30 anos, se entrelaça ocasional e sistematicamente com a história dos editores Lacerda. Em 1974, Lima e eu chegávamos ao Rio de Janeiro com pouco mais de 20 anos para procurar um distribuidor para nossa recém fundada editora, que possuía apenas três livros em seu catálogo. Tínhamos uma carta de recomendação do jornalista e intelectual Mario de Almeida Lima (pai de Paulo Lima, o “L” da L&PM) ao seu amigo Carlos Lacerda, ex-governador do Rio de Janeiro, protagonista da cena política brasileira durante mais de três décadas. Nós queríamos que a Nova Fronteira distribuísse nossos livros no Rio. Lembro bem quando o Lima e eu chegamos no casarão de Botafogo, sede da editora, para a esperada entrevista com Carlos Lacerda. Defenestrado pela ditadura militar de quem se tornara inimigo, longe da linha de frente da política, Lacerda dedicava-se à sua editora e à pintura. Estávamos no jardim do casarão, quando vimos um homem grande atravessando o pátio e carregando, com uma certa dificuldade, uma grande tela de pintura. Ele parou e ficou nos olhando. Estávamos imobilizados diante daquela figura histórica. Afinal, era raro o dia em que não aparecia, estampado nos jornais, a sua foto de dedo em riste ou sua caricatura desenhada por algum dos grandes cartunistas do país.

Carlos Lacerda não agiu como o exuberante orador que conhecíamos pela imprensa. Muito pelo contrário. Mansamente, perguntou o que queríamos. O Lima identificou-se e ele abriu um sorriso ao ouvir o nome do seu amigo Mario de Almeida Lima. E a partir de então, naquele distante 1974, a Nova Fronteira passou a distribuiu nossos livros. Alguns anos depois, estabelecemos um contrato de exclusividade com um distribuidor e encerramos nossas relações comerciais.

Uma década mais tarde, tornei-me amigo de Sérgio, filho de Carlos Lacerda, que assumia com seu irmão Sebastião, o comando da empresa familiar. Foram muitas lembranças divertidas e agradáveis em conversas, jantares e churrascos pelo Rio Grande, Rio, Lisboa, Paris e principalmente Frankfurt, onde convivíamos todos os anos. Sérgio morreu aos 52 anos deixando-nos carentes de sua amizade e de sua liderança. Coube a ele comandar o grande salto da Nova Fronteira na década de 80. Ele trouxe para sua editora os principais autores brasileiros, recém saídos da então agonizante editora José Olympio. O seu ótimo catálogo foi então reforçado por Cecília Meirelles, Clarice Lispector, Jorge de Lima, Josué Montello, Guimarães Rosa, Manuel Bandeira, João Cabral de Mello Neto entre outros.

É aí que entra o nosso amigo Carlos Augusto Lacerda, terceira geração de editores, filho de Sérgio. Com ele firmamos as parcerias entre Nova Fronteira e L&PM POCKET, publicando Agatha Christie e Georges Simenon na nossa coleção de bolso. No final da década de 2010, ao sair da NF, Carlos Augusto fundou a Lexikon e nós retomamos – como velhos amigos – a nossa parceria. Deste vez com o prestigiado dicionário Caldas Aulete (“Aulete de bolso”) e outros livros de referência como “Dicionário de dificuldades da língua portuguesa” de Domingos Paschoal Cegalla, e “Gramática do português contemporâneo” de Celso Cunha.

Aulete de bolso, o dicionário que é uma parceria com a Lexikon, editora de Carlos Augusto Lacerda

Nós aqui na L&PM, que tivemos o privilégio de conviver com estas três gerações de editores, nos sentimos gratificados, pois fomos testemunhas da formação de uma das grandes editoras brasileiras. Uma família que soube conduzi-la por quatro décadas e deixou mais do que um grande acervo editorial, um exemplo de correção profissional, talento editorial e generosidade no trato e na relação com seus amigos.

* Toda terça-feira, o editor Ivan Pinheiro Machado resgata histórias que aconteceram em mais de três décadas de L&PM. Este é o quinquagésimo terceiro post da Série “Era uma vez… uma editora“.

Frankfurt começa em clima frio

A gelada Islândia (Iceland!) é o país homenageado deste ano na Feira Internacional do Livro de Frankfurt (Frankfurter Buchmesse 2011 em alemão ou Frankfurt Book Fair em inglês), que começou ontem, 12 de outubro, e vai até domingo, 16 de outubro. Ironicamente, as coisas parecem andar meio frias pelos corredores dos pavilhões alemães. Segundo informações quentinhas que acabam de chegar, vindas de nossos editores que se encontram por lá – Ivan Pinheiro Machado, Caroline Chang e Janine Mogendorff – a crise européia parece ter respingado sobre as páginas e pelos corredores da Feira. Este ano, há menos gente circulando e, provavelmente menos negócios a serem fechados. Dezenas de agentes e editores europeus andam desanimados e um deles inclusive anda dizendo pelos quatro cantos dos estandes que, se não fossem os turcos e os brasileiros, o encontro literário deste ano estaria fadado ao fracasso. Ou seja: a Feira de Frankfurt 2011 reflete a Europa deprimida.

Mas obviamente, nem tudo é depressão e há excelentes livros a serem negociados e trazidos por nossos editores. Ontem, entre um encontro e outro, um senhor de cabeça raspada e boné estava conversando com Caroline e Janine quando Ivan se aproximou. O homem, bastante simpático, elogiou as edições de Simenon da Coleção L&PM POCKET e entregou o seu cartão de visitas. Só depois, Ivan (que precisou colocar os óculos para ler o nome do sujeito) percebeu que o cartão trazia o nome de John Simenon. Ninguém menos do que o filho do criador do comissário Maigret.

É por essas e por outras que, com crise ou sem crise, a Feira do Livro de Frankfurt segue sendo um programa imperdível para as editoras do mundo.

Este ano, os corredores mais vazios da Feira de Frankfurt refletem a Europa economicamente deprimida

“Maigret e os flamengos” (não confunda com os flamenguistas)

Você sabe o que é “Flamengo”? Se respondeu que é o time que tem a maior torcida do mundo, errou. Flamengos eram chamados aqueles que, originalmente, nasciam na região de Flandres, no norte da Bélgica, território que historicamente fazia parte dos Países Baixos – e que até hoje fala neerlandês (idioma oficial da Holanda e que também é conhecido como língua… flamenga). Com o tempo, todos aqueles que falavam neerlandês acabaram sendo chamados de “flamengos” (a Praia do Flamengo, onde nasceu o time rubro negro, foi assim batizada porque lá morava um holandês).

Em amarelo, colada à Holanda, a região de origem dos flamengos, no norte da Bélgica

Os flamengos acabaram se tornando maioria na Bélgica, mas por terem sido incorporados ao país mais tarde e por não falarem o francês, sofreram discriminação. Prova disso é que somente em 1930 a Universidade de Gent começou a dar aulas de neerlandês e só em 1967 a constituição belga foi traduzida para este idioma.

Em Maigret e os flamengos, mais recente lançamento da Série Simenon (inédito no Brasil), Georges Simenon faz uma espécie de resgate histórico do preconceito aos flamengos belgas, mostrando um grupo fechado de comerciantes do norte da Bélgica que vive em Givet, na França, e que é suspeito de estar envolvido em um crime. Extra-oficialmente, o comissário Maigret vai à Givet investigar o caso:

“Era preciso falar muito alto, devido à barulheira do vento. Em Givet, a quinhentos metros, era apenas um conjunto de luzes. A casa dos flamengos se desenhava sobre um céu de tormenta e mostrava janelas amareladas por luzes suaves.

– De onde eles vêm?

– Do Norte da Bélgica… O pai Peeters nasceu logo acima de Limburgo, na fronteira holandesa…”