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Teatro de bolso

Teatro do Absurdo, da Crueldade, de Revista, de Rua, do Oprimido, Elisabetano, Épico, Japonês, Invisível, Grego… estes são só alguns (nem a metade!) dos tipos listados no Dicionário de Teatro, de Luiz Paulo Vasconcellos (Coleção L&PM Pocket). E por falar nisso, 28 de março é o Dia Mundial do Teatro, de todos estes teatros, que em sua essência têm o mesmo objetivo: tocar o público, fazer rir ou fazer chorar.

A santíssima trindade do teatro grego – Ésquilo, Sófocles e Eurípedes – fazia o público chorar como ninguém. As tragédias escritas por eles há mais de dois mil anos como Édipo Rei, Sete contra tebas e Antígona são reencenadas ainda hoje em todo o mundo e a dramaturgia contemporânea ainda se alimenta de personagens como Édipo, Medeia, Helena de Troia, Antígona e Electra.

Cena de “Antígona”, de Sófocles.

No volume Tragédias gregas, da série Encyclopaedia, você pode conhecer em detalhes a biografia dos principais autores trágicos e o contexto de sua obra. Já se o assunto for comédia, o maior representante foi Aristófanes, autor de Lisístrata –  A greve do sexo.

Avançando mais de um milênio, em plena Londres do século 16, eram exibidas as primeiras peças de um tal William Shakespeare, que veio a se tornar um dos autores mais encenados de todos os tempos. Textos como Hamlet, MacbethSonho de uma noite de verão inspiraram adaptações, paródias e versões para cinema e TV. São cerca de 20 títulos do autor na Coleção L&PM Pocket e um volume inteiro dedicado ao dramaturgo inglês na série Ouro: Shakespeare – Obras escolhidas.

Confira a lista completa de textos teatrais publicados pela L&PM, que contém entre outros autores os brasileiros Millôr Fernandes e Martins Pena, os russos Anton Tchekhov e Máximo Gorki e o francês Molière.

Shakespeare no cinema

Enquanto a capital paranaense se prepara para o início do Festival de Teatro de Curitiba 2014 (de 25/3 a 13/4), o Museu da Imagem e do Som do Paraná realiza a mostra “Tragédias de Shakespeare no cinema”, com sessões gratuitas sempre às 19h30 no Auditório Basílio Itiberê.

Confira a programação:

19/3 – Hamlet de Laurence Olivier

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20/3 – Otelo de Orson Welles

Othello

21/3 – Macbeth de Roman Polanski

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Nos 450 anos de Shakespeare, artistas apontam quem foi influenciado por ele

A Folha de S. Paulo de hoje, 16 de janeiro, propôs a algumas pessoas do meio artístico que identificassem quais criações contemporâneas estão impregnadas pela obra de William Shakespeare, 450 anos depois do nascimento do autor inglês, – a serem  comemorados em 23 de abril deste ano.

Veja o resultado da brincadeira:

No vale a pena ver de novo

Walcyr Carrasco, escritor e autor de novelas, conta que criou os protagonistas da novela “O Cravo e a Rosa” a partir de uma releitura de “A megera domada”, comédia de Shakespeare. Os nomes dos personagens são iguais aos do original: Catarina, uma mulher que não se deixa subjugar pelos homens, e seu par romântico, Petruchio.

Na voz de Neil Young

O diretor Gerald Thomas cita Neil Young como uma possível versão de Hamlet, o príncipe dinamarquês que, reagindo à morte do pai, expõe a podridão por trás do mundo que o cerca. “Young é um grunge antes dos grunges e se mantém fiel aos seus princípios”, diz Thomas. A música Keep on Rockin’ in the Free World, para ele, quer dizer “não se intimidem, lutem por suas convicções”. Thomas lembra ainda que o filme “Ran”, de Akira Kurosawa (1910-98), tem como base a peça “Rei Lear”, sobre um rei dividindo suas terras entre as filhas.

Nos seriados americanos

Claire Underwood (atriz Robin Wright), mulher do protagonista no seriado “House of Cards”, é uma espécie de Lady Macbeth, sempre influenciando o marido inescrupuloso em suas decisões profissionais, considera o dramaturgo Sérgio Roveri. “Ela trama tudo para o marido conquistar o poder”, explica.

Em Guimarães Rosa

Há uma relação entre “Rei Lear” e o conto “Nada e a Nossa Condição”, do escritor mineiro, diz a atriz Giulia Gam. Ambas as histórias têm como centro um personagem velho que, na iminência da morte, começa a pensar na partilha de suas propriedades entre as filhas.

Em Beckett

“Rei Lear” de novo… Muita gente já fez essa mesma relação, entre o protagonista da obra de Shakespeare e Hamm, personagem também sujeito à decrepitude e à crise diante do fim na peça “Fim de Partida”, de Beckett (1906-89), como bem lembra o autor Samir Yazbek.

Em Batman

Para Claudia Shapira, diretora do grupo Bartolomeu de Depoimentos, que investiga intersecções entre teatro e arte de rua, Batman talvez tenha uma relação hamletiana com seu pai fantasma, além de usar uma “máscara da loucura” para desvendar “algo de podre”.

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Na novela das nove

Félix, vilão da novela global “Amor à Vida”, pode muito bem ter encarnado um Iago, de “Otelo”. Ele é invejoso e “faz suas escolhas atropelando qualquer moral”, diz Marici Salomão, dramaturga e diretora da SP Escola de Teatro. Ela também vê Shakespeare nas “aterrorizantes imagens de personalidades históricas borradas de subjetividade pelas mãos de Francis Bacon”.

No movimento punk

O roqueiro Supla conta que assistiu a um show de David Bowie em 1983, na Alemanha, em que o cantor, empunhando um crânio, proferiu a frase mais conhecida do príncipe: “To be or not to be”. Também lhe vem à mente o documentário “O Lixo e a Fúria” sobre a banda Sex Pistols: em uma cena, o músico Johnny Rotten conta que contrariou um professor quando ele disse que todo mundo deveria conhecer a obra de Shakespeare.

Na melancolia russa

A diretora carioca Christiane Jatahy associa Solioni, personagem secundário da peça “As três irmãs”, de Tchékhov, a Lady Macbeth. “Ele passa a peça toda perfumando as mãos, quase como prenúncio do assassinato que vai cometer no final da peça. Assim como Lady Macbeth as lava para tirar o sangue”, compara.

Nos musicais

No teatro musical também há referências ao bardo. Duas das mais famosas: “West Side Story” é uma versão de “Romeu e Julieta”, como lembra Claudia Shapira. E “O Rei Leão”, em cartaz em São Paulo, também tem bastante da peça “Hamlet”. Mesmo sendo uma obra para crianças, não dispensa a cena de um assassinato cruel, em que o rei é vítima de seu próprio irmão, tio do personagem central.

O jogo proposto pela Folha acompanha uma onda de peças comemorativas que já estão em cartaz no Brasil:

SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO
QUANDO: sex., às 21h, sáb., às 17h e às 21h; e dom., às 17h e às 20h
ONDE: Cia. de Teatro Contemporâneo (r. Conde de Irajá, 253, Botafogo; tel.: 0/xx/21/2537-5204)
QUANTO: R$ 40
CLASSIFICAÇÃO: livre

RICARDO 3º
QUANDO: qua. a sáb., às 21h, e dom., às 19h30
ONDE: Espaço Sesc (r. Domingos Ferreira, 160, Copacabana, tel. 0/xx/21/2548-1088)
QUANTO: R$ 20
CLASSIFICAÇÃO: 12 anos

ÚLTIMA SESSÃO
QUANDO: qui., às 16h, sex. e sáb., às 21h, e dom., às 18h
ONDE: Teatro do Shopping Frei Caneca (r. Frei Caneca, 569, tel. 0/xx/11/3472-2229)
QUANTO: R$ 80
CLASSIFICAÇÃO: 12 anos

Veja aqui todas as obras publicadas na Série Shakespeare L&PM.

Novos territórios em mangás

Por Alexandre Boide*

Em novembro de 2008, começou a circular na imprensa internacional a notícia de que uma adaptação em mangá de O capital, de Karl Marx, seria lançada por uma editora japonesa, a East Press, e com a expectativa de que se tornasse um best-seller. A justificativa: o Japão estava mergulhado em uma recessão profunda, o Partido Comunista local vivia um ressurgimento e a literatura anticapitalista vinha em alta no país. Uma indicação clara nesse sentido era a de que o campeão de vendas da coleção em que Das Kapital seria publicado era Kanikōsen, que narra o sofrimento da tripulação de um barco de pesca de caranguejos sob a exploração implacável da indústria capitalista. Faltou dizer, porém, que a coleção incluía também adaptações de obras muito anteriores à própria existência do capitalismo (como Rei Lear e A divina comédia) e escritos de cunho político que de forma nenhuma se identificavam com a literatura de esquerda (como o manual de conduta marcial Bushidō: A alma do Japão e Mein Kampf, o manifesto nazista de Adolf Hitler). Portanto, era de se esperar que houvesse outras razões por trás do esperado sucesso do lançamento que viria (sucesso, aliás, que acabou se confirmando e gerando uma pequena corrida pelo licenciamento dos títulos em diversos países e idiomas).

De fato, a coleção Manga de Dokuha (em uma adaptação livre, algo com o sentido de “Aprendendo em mangá”) tem características bastante peculiares. A primeira delas é ser uma empreitada coletiva, centrada na figura de seu editor, Kasuke Maruo. É ele quem supervisiona um a um os roteiros (que já ultrapassaram a marca das cem HQs lançadas), que mais tarde são encaminhados para um estúdio terceirizado (Variety Artworks), que faz todo o trabalho de arte. É por isso que os títulos não trazem créditos de roteirista e desenhista responsáveis pela adaptação, apenas o nome do autor do original — a propriedade intelectual de todos os mangás é da East Press. Por outro lado, isso não significa de maneira nenhuma menos liberdade artística. Como toda adaptação que se preze, os mangás da coleção são obras com identidade própria — ainda que derivadas —, e portanto devem ser lidas e compreendidas de acordo com seus próprios termos, e não como simples espelhos do original. Assim, o milenar manual de estratégia militar A arte da guerra se torna a história de uma grande guerra entre os Sete Reinos da China medieval, em que o general Sun Tzu vai elaborando suas táticas geniais à medida que a ação acontece. O Manifesto do Partido Comunista, por sua vez, se transforma na saga de um grupo de trabalhadores que tenta se livrar da exploração patronal, o que serve como pano de fundo para expor a teoria e os fatos por trás da proposta ideológica de Marx e Engels. Em Assim falou Zaratustra, de Friedrich Nietzsche, o protagonista vive no século XIX, e é criado dentro dos preceitos cristãos antes de sair propagando a ideia de que Deus está morto. E nem mesmo as obras de ficção precisam se limitar aos elementos contidos no original: em A metamorfose, por exemplo, passagens da biografia do autor, Franz Kafka, são incorporadas à história do personagem Gregor Samsa.

Se de fato cada contato com uma grande obra abre novos territórios e horizontes mentais para os leitores, os mangás desta coleção são uma prova do quanto essas incursões podem ser variadas. Alguns deles são como um voo panorâmico, que delineia os contornos gerais e as paisagens do local que está sendo visitado. Outros são como expedições noturnas lideradas por um guia, em que o facho de luz se concentra com mais ênfase em determinados aspectos, e a impressão que se tem do todo é inevitavelmente filtrada pelos olhos de quem segura a lanterna. Outros, ainda, são como picadas abertas a golpes de faca ao rés-do-chão — só depois de muito explorar é possível ter uma visão aproximada do todo. Seja como for, mesmo com toda sua pluralidade de abordagens, os mangás da East Press nunca deixam de se guiar por um preceito fundamental a qualquer coleção que se pretenda verdadeiramente universal: a livre exploração de pensamentos e ideias.

* Alexandre Boide é tradutor e responsável pela preparação dos títulos dos Clássicos em Mangás (da East Press) que estão sendo publicados na Coleção L&PM Pocket.

A arte da guerra, Hamlet, O grande Gatsby e Assim falou Zaratustra em mangá já chegaram. Os próximos títulos a serem lançados são O contrato social, A metamorfose, Manifesto do partido comunista, Em busca do tempo perdido e Ulisses.

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Os clássicos em mangás que já estão disponíveis

Quatro cidades, quatro peças a ver com livros

Em Porto Alegre 

Biografias Colecionáveis
Peça inspirada nas vidas das escritoras e irmãs Charlotte Brontë (Jane Eyre) e Emily Brontë (O Morro dos Ventos Uivantes). A peça costura fragmentos das vidas das Brontë com a vida das atrizes Natália Karam e Gabriela Steinhaus – que encarnam as irmãs – mais fatos inventados. No Teatro de Arena às 20h.

As irmãs Brontë viraram tema de peça em Porto Alegre

As irmãs Brontë viraram tema de peça em Porto Alegre

Em São Paulo

Dama da Noite
Monólogo com texto de Caio Fernando Abreu. O ator Luiz Fernando Almeida encarna a personagem e as angústias de um homem que se sente fora do mundo em que vive. O espetáculo tem entrada Catraca Livre. Até 29 de junho no Espaço Cultural Pinho de Riga, sexta às 21h30 e sábados às 21h.

Texto de Caio Fernando Abreu em cartaz em São Paulo

Texto de Caio Fernando Abreu em cartaz em São Paulo

Em Belo Horizonte

Hamlet
Montagem que tem Thiago Lacerda no papel principal da peça de Shakespeare. São 15 atores para encenar a tragédia sobre o fantasma que clama ao filho por vingança. Em cartaz no Sesc Palladium. Nesta sexta-feira e sábado, às 21h; domingo, às 19h.

Thiago Lacerda encarna Hamlet em Belo Horizonte

Thiago Lacerda encarna Hamlet em Belo Horizonte

Em Brasília

Peter Pan
Uma versão para adultos do clássico menino que não quer crescer e vive na Terra do Nunca.
Com trilha sonora original e ao vivo Peter, Wendy e seus irmãos voam para a ilha onde tudo pode acontecer. Até dia 21 de abril no Teatro Garagem (SESC 913 Sul) às 20h com entrada franca.

Peter Pan para adultos em Brasília

Peter Pan para adultos em Brasília

Shakespeare na boca do povo

Shakespeare é pop. Muito pop. Não só porque suas histórias são conhecidas no mundo inteiro – e porque Romeu e Julieta virou nome de queijo com goiabada -, mas também pelo fato de que muitas das expressões que estão na boca do povo foram inventadas por ele. “Isso parece grego pra mim”, “Mais pra lá do que pra cá”, “Sem pregar o olho”, “Dias melhores virão”, “O próprio diabo encarnado” são expressões shakespearianas ditas por seus personagens. Sem contar aquelas que são o próprio nome de livros como “Medida por medida” e “Bem está o que bem acaba”. Não bastasse isso, ele criou 1.700 novas palavras que hoje fazem parte do vocabulário mundial. Alguns exemplos são Advertising (Publicidade), Bandit (Bandido), Champion (Campeão), Generous (Generoso), Obscene (Obsceno), Torture (Tortura) e Zany (Bobo). 

Veja aqui alguns exemplos de expressões criadas por Shakespeare e descubra em que livros elas estão:

Meu reino por um cavalo! (Ricardo III)

Nem tudo o que reluz é ouro. (O mercador de Veneza)

Há mais coisa entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia. (Hamlet)

O resto é silêncio… (Hamlet)

O que não tem remédio, remediado está. (Otelo)

Prudência! Quem mais corre, mais tropeça! (Trabalhos de amor perdidos)

Há algo de podre no reino da Dinamarca. (Hamlet)

A mulher é um prato para os deuses, quando não é o demônio que a prepara. (Antonio e Cleópatra)

Morrer…dormir… talvez sonhar. (Hamlet)

O bem que os homens fazem quase sempre é enterrado com seus ossos… (Julio César)

Colocar o carro na frente dos bois. (Ricardo III)

O ciúmes é um monstro de olhos verdes. (Otelo)

Você pode conhecer mais citações de Shakespeare no livro Shakespeare de A a Z. A Coleção L&PM Pocket publica 22 peças assinadas por ele e com traduções primorosas feitas por mestres como Millôr Fernandes e Beatriz Viégas-Faria: Medida por medida, Hamlet, O Rei Lear, A megera domada, Romeu e Julieta, Otelo, Macbeth, Ricardo III, Antonio e Cleópatra, Julio César, Como gostais / Conto de inverno, Tito Andrônico, Bem está o que bem acaba, O mercador de Veneza, Henrique V, A tempestade, Trabalhos de amor perdidos, Sonho de uma noite de verão, Noite de reis, Muito barulho por nada, A comédia dos erros e As alegres matronas de Windsor.

Clássicos da literatura na Série Mangás

A Coleção L&PM Pocket está preparando, para  2013, os novos volumes da Série Mangás. Dessa vez, os títulos são clássicos da literatura adaptados e desenhados para agradar os fãs do estilo japonês. O primeiro volume será Hamlet, de Shakespeare. A tradução já foi feita por Alexandre Boide e agora o livro está em fase de paginação, com os ballons estão sendo preenchidos com a história em português. A previsão de chegada deste primeiro volume é março.

Aqui você pode ver os originais da clássica história shakespeariana em japonês:

Além de Hamlet, virão A arte da guerra, de Sun Tzu; O grande Gatsby, A metamorfose, O contrato social, Assim falou Zaratustra, Manifesto do partido comunista, Em busca do tempo perdido, Os irmãos Karamazov e Ulisses.

E por falar em silêncio…

Abaixe o som, não grite, tire a mão da buzina, evite até mesmo ler em voz alta. Hoje, 7 de maio, é Dia do Silêncio no Brasil. Não conseguimos descobrir quando e como ele começou a ser comemorado, mas para marcar esta data separamos alguns trechos de livros que homenageiam a ausência de som:

Você já amou uma mulher silenciosa / Que não levanta a voz por raiva / Nem má educação / Que anda com seus pés de seda / Num mundo de algodão / Que não bate / fecha a porta / Como quem fecha o casaco de um filho / Ou abre um coração? (De Poemas, Millôr Fernandes)

O teu silêncio é uma nau com todas as velas pandas… / Brandas, as brisas brincam nas flâmulas, teu sorriso… / E o teu sorriso no teu silêncio é as escadas e as andas / Com que me finjo mais alto e ao pé de qualquer paraíso… (De Poesias, Fernando Pessoa)

Pior do que uma voz que cala é um silêncio que fala. (De Ménage à Trois, Paula Taitelbaum)

O resto é silêncio. (De Hamlet, Shakespeare)

E de repente o silêncio, / Com os passos da ilusão / perseguem a criança-sonho / Pelas terras da invenção, / Falando a seres bizarros… / Uma verdade, outra não. (De Alice no País das Maravilhas, Lewis Carroll

A primeira tradução de Hamlet

Por Jorge Furtado*

A primeira tradução de Hamlet que se tem notícia foi feita, veja só, para o português. A proeza se deu em 1607 a bordo do navio inglês Red Dragon, ancorado na costa Oeste da África, e seu autor foi Lucas Fernandez, um negro nascido em Serra Leoa.

Navios na costa da África. Hendrick Cornelisz Vroom, 98 x 151 cm, óleo sobre tela, 1614

O Red Dragon fazia parte de uma frota de três galeões a serviço da Companhia das Índias Ocidentais, em sua terceira expedição. Um dos navios tomou ventos em direção ao Brasil, mas o Red Dragon e o Hector enfrentaram longas calmarias. Para reabastecer e tratar doentes, ancoraram no porto de Freetown, na foz do Rio Mitombo, em Serra Leoa.

No dia 5 de setembro de 1607, o capitão do Red Dragon, William Keeling, recebeu a bordo um grupo de emissários do Rei Borea, entre eles seu cunhado e intérprete, descrito em seus diários como “um negro chamado Lucas Fernandez, que falava português muito bem”, e por outras testemunhas como um cristão capaz “argumentar bem em defesa de sua fé”, fluente em português, espanhol, inglês e temne, o dialeto local.

O Capitão Keeling registrou o encontro no diário de bordo:

5 de setembro. Enviei o intérprete, de acordo com seu desejo, a bordo do Hector, onde ele fez seu desjejum, e depois veio a bordo [do Red Dragon], onde nós apresentamos a tragédia de Hamlet, e na parte da tarde fomos todos juntos à terra, para ver se podíamos caçar um elefante; acertamos sete ou oito balas nele, o que o fez sangrar abundantemente, como pode se ver em seus rastros, mas a noite se aproximava e regressamos ao navio, sem atingir nossos propósitos.

Lucas Fernandez fez a tradução simultânea de Hamlet, encenado pela tripulação inglesa. É bom lembrar que em setembro de 1607 Shakespeare estava vivo, muito vivo, no auge de sua carreira: nos últimos três anos ele havia escrito sete peças, entre elas Otelo, Rei Lear e Macbeth. No momento, estava em cartaz no Globe com os King’s Men na recém escrita “Péricles”. Não há registros – e é muito improvável – de que tenha tomado conhecimento de que sua maior criação, Hamlet, já tinha sua primeira tradução, para o português.

A primeira tradução de Shakespeare sobre a qual há registro, de Romeu e Julieta, foi feita em 1604, para o alemão, o autor é desconhecido. A segunda tradução – a primeira de Hamlet e a primeira fora da Europa – foi a de Lucas Fernandez, para o português. O feito é ainda mais notável quando sabemos que a segunda tradução conhecida de Hamlet, esta para o alemão, só vai aparecer em 1626, quando Shakespeare já estava morto há 10 anos.

Traduzir é fazer escolhas. Sabe-se lá como Lucas Fernandez traduziu para o português as primeiras palavras da peça, a fala de Bernardo, de sentinela, ao perceber que alguém se aproxima: “Who’s there?” Sua escolha pode ter sido “Quem está aí?” (como fizeram os tradutores Cunha Medeiros e Oscar Mendes, Sophia de Mello Breyner, Millôr Fernandes, Oliveira Ribeiro Neto, José Roberto O’Shea), ou “Quem está lá?” (Anna Amélia Carneiro de Mendonça, Mario Fondelli), ou ainda “Quem vem lá?” (Péricles Eugênio da Silva Ramos, Domingos Ramos, Elvio Funk, Marilise Rezende Bertin e John Milton).

*Jorge Furtado é diretor, roteirista e escritor. Pela L&PM publicou Meu tio matou um cara. Este texto foi publicado originalmente no blog da Casa de Cinema de Porto Alegre em 24 de agosto de 2011.

Tinha um Shakespeare no meio do caminho…

Imagine chegar no metrô, a caminho do trabalho num dia de semana qualquer, e se deparar com dois sujeitos jogados no chão do vagão, gesticulando e recitando textos em até duas línguas diferentes… até que, de repente, alguém se destaca da plateia e explica o que está acontecendo: são atores, mais precisamente no meio do Ato V, Cena 3 de Romeu e Julieta, de William Shakespeare.

O verdadeiro teatro "underground": cena da peça "Rei Lear", de Shakespeare, encenada no metrô de Nova York

Cenas assim já não são mais novidade para quem usa o metrô em Nova York.  Fred Jones e Paul Marino são os atores de rua que ganham a vida se apresentando no metrô da Big Apple. Em entrevista ao jornal The New York Times, eles contam que, além do sustento, ganham aplausos e vivas da plateia adulta, sorrisos e olhares curiosos dos pequenos, e números de telefone de mulheres jovens e atraentes que desejam conhecê-los fora dali. Paul Marino é quem revela tais “lucros” e Fred Jones, nada modesto, confirma.

Segundo a dupla, o elemento surpresa é fundamental para o sucesso das apresentações: eles entram no metrô como pessoas normais, sem chamar muita atenção, pois todos os objetos de cena ficam guardados na mochila. Até que um deles coloca uma barba falsa, óculos de plástico e uma máscara, caracterizando rapidamente o personagem, e a esquete tem início. De repente, outro ator entra na cena e começa a recitar Hamlet em inglês e espanhol alternadamente, para o caso de haver algum imigrante ou turista recém chegado. Só depois que todo mundo já viu, gostou e aplaudiu é que eles se apresentam como atores e pedem uma contribuição aos passageiros.

Enquanto alguns reclamam da falta de dinheiro ou tempo para ir mais ao teatro, outros como Fred Jones e Paul Marino apresentam soluções: tiram Shakespeare do teatro e colocam no meio do caminho das pessoas. Que podem escolher entre se deixar “tropeçar” ou mudar de vagão. Na nossa opinião, a primeira opção será sempre mais atraente, é claro.