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A festa surreal na mansão dos Rothschild

Em 1972, Marie-Hélène de Rothschild, membro da mais poderosa família de banqueiros do mundo, realizou uma festa surrealista no Château de Ferrières, uma das mansões da família.  Embora estes eventos fossem geralmente secretos, as fotografias “vazaram” e graças a elas, podemos ter uma ideia do quão surreal foi esta festa – que teve até a ilustre presença de Salvador Dalí.

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Guy de Rothschild e sua esposa Maria Hélène

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Salvador Dalí foi convidado para a festa

A exótica Marie-Hélène entrou na família Rothschild contrariando tradições e desafiando o moralismo vigente. No livro A dinastia Rothschild, o biógrafo Herbert R. Lottman descreve o contexto:

O casamento de Guy também não passou despercebido; aliás, foi o escândalo da família Rothschild de seu tempo. O divórcio, em primeiro lugar, da bem-amada e muito admirada Alix. Depois a paixão do homem de 46 anos por Marie-Hélène de Zuyllen de Nywvelt van de Haar, uma moça impetuosa e estonteante de 25 anos, ela mesma divorciada de um tal conde François de Nicolay – e ela era católica, e não estava prestes a se converter; isso era inédito na história dos banqueiros Rothschild (apesar de, na verdade, o avô paterno de Marie Hélène ter se casado com uma Rothschild, a filha de Salomon, tio-avô de Guy).

Diriam que era um casamento de fogo e água – mas Guy podia observar, em retrospecto, que de fato durou. Esse homem de rotina, cuja vida parecia delimitada pelo escritório e campo de golfe, casou-se com o que ele classificaria como “fantasia, desordem, o imprevisível”.

Leia a história completa da família de banqueiros mais poderosa do mundo no livro A dinastia Rothschild, o biógrafo Herbert R. Lottman e veja mais fotos da festa aqui.

Obras do Louvre que foram de Edmond de Rothschild estão em São Paulo

Para os que passarem por São Paulo até 13 de janeiro, aqui vai uma dica imperdível: a mostra “Luzes do Norte” em exibição no Masp. Doado ao Museu do Louvre de Paris pelos herdeiros do barão, colecionador e filantropo Edmond de Rothschild, esta exposição apresenta um fantástico conjunto de obras de arte do Renascimento alemão, concebida exclusivamente para o museu. São 61 gravuras e desenhos sobre papel. O mais fascinante é acompanhar na seleção como a estética da época foi evoluindo da influência gótica para as inovações de perspectiva herdadas da Itália

Vale lembrar que Edmond de Rothschild é um dos que está no livro A dinastia Rothschild, livro escrito por Herbert R. Lottman (autor de “A Rive Gauche”) e publicado no Brasil em 2011 pela L&PM.

Um restaurador de arte que conhecia todos os Rothschild e que fazia visitas frequentes a Edmond em Pregny – Edmond passou a apreciar a arte um pouco tarde, mas, quando começou, aprendeu ligeiro e rapidamente transformou seu castelo em uma caverna de Ali Babá – descobriu que ele era o menos “rothschiliano”, quer dizer, o menos pomposo, do clã. (Trecho do capítulo “Edmond e os outros” de A dinastia Rothschild)

Gravura “O Baile”, de Mestre Mz, parte da coleção Barão Edmond de Rothschild/Museu do Louvre (Clique para ampliar)

Virgem Transtornada, um Busto, de Martin Schongauer (1450-1491)

SERVIÇO

Exposição: Luzes do Norte
Onde: Masp – Avenida Paulista, 1578
Horário: Terça, quarta, sexta, sábado, domingo e feriados, 10h às 18h; quinta, 10h às 20h
Quanto: R$ 15 (terça é grátis para todos os visitantes, nos demais dias, grátis para menores de 10 anos, pessoas com mais de 60 e grupos de estudantes de escolas públicas agendadas)
Quando: até 13 de janeiro

“A Dinastia Rothschild”: um livro fascinante

Herbert Lottman nasceu em Nova York, tem 85 anos, dos quais 52 passados em Paris. Foi correspondente de importantes jornais americanos na Europa e passou a ser respeitado internacionalmente pelo magnífico texto, a intensa pesquisa que fez sobre a Europa entre as duas grande guerras e as importantes biografias de Flaubert, Camus, Collette e Julio Verne. Seu trabalho mais conhecido, Rive Gauche: escritores, artistas e políticos em Paris, 1934-1953, foi best seller internacional nos anos 1980 e trata de um tema delicado: as relações promíscuas entre muitos respeitados  intelectuais franceses e os alemães durante a ocupação nazista na segunda grande guerra (1940- 1945).

Seu mais recente trabalho, também um best seller internacional, chegou ao Brasil e rapidamente alcançou a terceira reimpressão em poucos meses. Trata-se da história, ou melhor, da saga dos Rothschild, família de banqueiros judeus que foi por vezes protagonista, por vezes coadjuvante, mas sempre esteve na história da política e economia ocidental nos últimos 300 anos.

O nome Rothschild – “escudo vermelho” em alemão – remonta a um período negro da história europeia: no século XVIII os judeus eram confinados a guetos, não tinham direito a propriedades, nem mesmo a um sobrenome. Podiam apenas improvisar um nome de família ou colocar uma placa simbólica acima da porta do seu estabelecimento comercial. Pois foi numa loja de produtos variados na Judengasse, o gueto judeu da cidade alemã de Frankfurt, que nasceu Mayer Amschel, aficionado conhecedor de moedas e cérebro do império que viria a se formar. Jacob, o filho­ mais novo, se instalaria em Paris, passando a usar o nome de James e construindo o braço francês dos negócios da família. Seus irmãos se espalhariam por outros centros financeiros do continente: Londres, Viena e Nápoles.

Os êxitos e as desventuras dos Rothschild estiveram intimamente ligados aos acontecimentos históricos, financeiros e políticos, sobretudo no século XX: foi assim por ocasião do caso Dreyfus, ainda no final do século XIX, da crise de 1929, das espoliações ocorridas sob o governo colaboracionista de Vichy durante a ocupação nazista da França e, na década de 80, durante o governo do socialista François Mitterrand.

Composta de banqueiros, viticultores (Château Mouton Rothschild), industriais, financistas, agricultores, pecuaristas, colecionadores, mecenas, atores e escritores, a dinastia dos Rothschild estendeu sua influência econômica e política de Londres a Israel, da Espanha à Rússia.

O famoso rótulo do vinho dos Rothschild

Para retraçar esta história notável, Herbert R. Lottman teve acesso a arquivos inéditos e a correspondências privadas. A edição publicada pela L&PM conta também com um posfácio do autor escrito especialmente para a edição brasileira.  (Ivan Pinheiro Machado)

Bastardos e banqueiros

Por Paula Taitelbaum*

Na noite passada, acho que pela décima vez, assisti a Bastardos Inglórios, de Quentin Tarantino. E provavelmente assistirei mais dez, vinte, trinta vezes. A sequência inicial – o diálogo entre o presunçoso nazista e o humilde fazendeiro – é espetacular, magistral, incansável e seja lá que outro adjetivo seja possível arranjar para definir algo que deixa você pensando: “como é que o cara conseguiu escreveu isso?”.

Os Bastardos Inglórios que dão nome ao filme são um grupo de norteamericanos judeus que vai para a França caçar e escalpelar os nazistas que lá estão instalados depois da invasão alemã. Liderados por Aldo (Brad Pitt em versão apache), os Bastardos Inglórios vingam os judeus perseguidos por Hitler.

Mas quem eram estes judeus franceses? Seriam eles apenas fazendeiros como os que aparecem no início do filme? Obviamente que a resposta é “não”. Na vida real, além dos humildes, havia gente poderosa como a família Rothschild. O nome soou familiar? Não é à toa: os Rothschild são os negociantes mais célebres do planeta, sinônimo de influência, riqueza e poder.

Isso e muito mais eu descobri nas páginas de “A dinastia Rothschild”, de Herbert R. Lottman, o mesmo autor de “A Rive Gauche”, e que acaba de chegar por aqui. Ainda não li todo o livro, mas hoje, pós Bastardos Inglórios, não resisti em dar uma olhada no capítulo 22, chamado “Os Rothschild na Guerra” para tentar descobrir um pouco a respeito dos judeus ricos de Paris nos anos 1940. Será que, assim como a família mostrada por Tarantino, eles também se escondiam sob as tábuas de assoalhos alheios? Duvideodó…

O que não quer dizer, é claro, que a Guerra não tenha deixado lá suas cicatrizes neles.

O livro que conta a saga da poderosa família Rothschild

O nome de Edouard e Robert Rothschild encabeçava a lista dos judeus fugitivos e um artigo sobre a família, publicado em um jornal francês da época, dizia que “O judeu, sendo um ser nauseante e fedido no verdadeiro sentido da palavra, gosta de sujar, de manchar todos aqueles que lhe são superiores ou que não se ajoelhem perante ele.”

E os ataques a eles não pararam por aí. Seus bens foram confiscados e “cerca de cinquenta oficiais e homens alemães se aquartelaram no castelo da família”. Nem as instituições de caridade mantidas por eles foram poupadas. “Quando começaram a arrebanhar os judeus para a deportação em massa para os campos de concentração, os nazistas pairaram sobre as instituições de caridade dos Rothschild, tirando pacientes do hospital Rothschild por categorias – advogados, vendedores…”

Edouard e Germain Rothschild

Temendo o pior, eles escaparam a tempo. Ao desembarcarem no aeroporto de Nova York, Edouard Rothschild, sua mulher Germaine e a filha Bethsabée, levavam uma mala contendo gemas avaliadas em 1 milhão de dólares. “Quando deram uma olhada no que os Rothschild estavam carregando, os inspetores da alfândega levaram Edouard e Germaine para uma sala privada; alguém tinha dado a informação de que as jóias seriam ‘peças de museu’. Mas os repórteres de fato notaram que o barão continuava carregando a mala ao deixar o aeroporto.”

Fico pensando que os Rothschild bem poderiam ter financiado as ações dos Bastardos Inglórios. Caso eles tivessem realmente existidos, é claro. Aliás, uma pena que não existiram…

* Paula Taitelbaum é escritora e coordenadora do Núcleo de Comunicação L&PM.