Algum moralista de plantão poderia dizer que Balzac era um amoral convicto. E estaria absolutamente certo. Grande parte da obra balzaquiana trata do adultério com absoluta naturalidade. Alguns dos casos de amor mais tórridos de seus romances foram, na sua maioria, casos extraconjugais. Mas há exceções: no grande O lírio do Vale, a condessa de Mortsauf morre de paixão para não consumar fisicamente seu violento amor adúltero pelo jovem Felix de Vandensse. Uma abstinência que não é comum entre as páginas de Balzac. Na Comédia Humana é tão natural ter amantes quanto ter esposas. Ou seja, o “kit” é, invariavelmente, mulher & amante. Entre os abastados, claro. Mesmo porque os pobres povoam a Comédia como coadjuvantes e só ficam sob os refletores quando há a possibilidade de rápida ascensão social. A homossexualidade masculina é tratado abertamente em Ilusões Perdidas e Esplendores e misérias das cortesãs. Vautrin, misterioso personagem em O Pai Goriot e vilão em Ilusões perdidas e Esplendores… é apaixonado pelo herói do romance, Lucien de Rubempré, descrito como o homem mais bonito de Paris. A homossexualidade feminina está escancarado em A Menina dos Olhos de Ouro, livro em que o dândi Henri de Marsay, um dos personagens masculinos favoritos de Balzac na “Comédia”, inadvertidamente apaixona-se loucamente por Paquita Valdès, que por sua vez tem um caso com Margarita-Euphèmia Porrabéril. O final é trágico e a amante traída mata a sua paixão, a bela Paquita. Não sendo suficiente esta ampla demonstração de liberalismo sexual, Balzac surpreende a todos em Uma paixão no deserto; nada mais nada menos do que o caso de amor entre um soldado e uma pantera. E isto em 1830…
Leia também:
– Balzac: o homem de (maus) negócios
– O monumento chamado Comédia Humana
– Por que ler Balzac
– Balzac: a volta ao Brasil mais de 20 anos depois