Em 1948, a Índia passava por graves conflitos sociais, devido principalmente ao grande número de imigrantes que chegava ao país fugindo do terror que dominava nações e territórios vizinhos. Os acampamentos e os hospitais estavam sobrecarregados e cadáveres apodreciam nas ruas. Trens carregados de estrangeiros eram detidos e os passageiros, fuzilados. A morte estava por todo lado e não havia alguém capaz de controlar a situação. No meio do caos geral, a paz parecia um sonho muito, muito distante.
Talvez o único que mantinha viva a esperança de dias melhores era o líder Mahatma Gandhi, que resolveu iniciar aquele que seria, segundo ele, seu maior jejum. “Agir ou morrer” tinha virado seu lema naqueles dias de caos. Ninguém o deteve nesta última e derradeira tentativa de instaurar a paz em seu país. Estava disposto a jejuar até a morte se fosse necessário. E assim aconteceu, só que de outra forma.
Após duas semanas de jejum, Gandhi estava seriamente doente. Tinha cogitado interromper a penitência, mas resistira, pois daria a vida para restaurar a paz. Nem mesmo um atentado à bomba ocorrido dias antes no local onde realizava orações o faria mudar de ideia. Pelo contrário: para ele, a tentativa de assassinato tinha sido mais uma prova de que deveria perseverar. Além da fragilidade física, ele sabia que sua vida corria perigo, mas proibiu que reforçassem a segurança.
Talvez hoje eu seja o único a ter conservado a fé na não-violência. (…) Assim, tanto faz que haja ou não policiais e militares postados para minha proteção. Pois é Rama [Deus] que me protege… Estou cada vez mais convencido de que todo o resto é fútil. (do livro Gandhi na Série Biografias L&PM)
Ele continuava a fazer seu trabalho, animado pela fé em meio ao caos geral. Mas em 30 de janeiro, depois de 17 dias de jejum ininterrupto, a violência superou o sentimento de paz, conforme descreve a biógrafa Christine Jordis:
Apoiado nas duas sobrinhas, Ava e Manu, ele atravessou a grandes passos a multidão; muitos se levantaram, outros se inclinavam até o chão. Desculpou-se pelo atraso juntando as mãos à maneira hindu, em sinal de saudação. Foi nesse momento que um jovem se precipitou, afastou brutalmente Manu, prosternou-se diante do Mahatma em sinal de reverencia e disparou três tiros à queima-roupa. Gandhi caiu em seguida, pronunciando apenas, como queria, a palavra Rama: “He Rama” (Ó Deus!).