Quando morreu, deprimido e doente, no dia 10 de janeiro de 1961, Dashiell Hammett já não publicava um livro desde 1934. Mas deixou herdeiros na literatura americana: seguidores que o consideravam o “pai” do moderno romance policial.
Ao longo de seus 66 anos de vida, Hammett abandonou a escola, foi estivador, conseguiu um emprego numa agência de detetives particulares de San Francisco e, em 1920, começou a escrever. Publicou cinco romances e dezenas de pequenas histórias, virou roteirista de Hollywood e, em 1951, ficou um tempo preso, acusado de “conspirador vermelho” pelo comitê McCarthy.
Seus contos policiais ganharam importância principalmente porque Hammett tirou o crime dos salões e o colocou nas ruas, com ares de vida real, dando origem ao que viríamos a chamar de literatura noir. “Do vaso veneziano para as valetas” como descreveria mais tarde Raymond Chandler.
Em tempos de gângsters, da lei seca, da corrupção sem freios, Hammett criou uma espécie de anatomia social do crime, em que o assassino e o cadáver eram apenas o ponto de partida – e o pretexto – para descrever uma sociedade violenta, cínica e sem esperança. Aliás, cínicos e desesperançosos eram também seus detetives, em especial o fumante inveterado Sam Spade, vivido nos cinemas por Humphrey Bogart (veja trailer de “O falcão maltês” com direção de John Huston).
Pena que, assim como a sociedade e seu personagem, Dashiell Hammett também acabou perdendo a esperança. Resta-nos pensar que, diferente de uma cena de filme noir, sua obra jamais ficará nas sombras.