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Brincar ou não brincar com os textos de Shakespeare? Eis a questão

Shakespeare remix topo

Alguns podem considerar uma heresia, mas nós achamos bem divertido. Estamos falando do Remix Shakespeare, jogo criado pelo jornal O Globo para marcar os 400 anos da morte de William Shakespeare.”Remix Shakespeare” é uma brincadeira educativa com os textos do mais famoso bardo da literatura.

500 leitores do jornal selecionaram 30 mil falas de 200 personagens de Shakespeare para serem montadas como o jogador quiser. Sim, “Shakespeare Remix” é um jogo no qual o participante pode escolher até dez.

Dê uma olhada em como se joga:

SHAKESPEARE REMIX COMO FUNCIONA

Clique sobre a imagem para ampliar

Depois do texto mixado, o jogador descobre de qual personagem e de qual peça vieram as falas utilizadas no remix. É possível compartilhar o resultado nas redes sociais e, ao clicar sobre o nome do personagem, acessar uma pequena descrição e um vídeo no qual os colaboradores do projeto interpretam uma cena representativa da obra em questão. A iniciativa foi idealizada por Gabriela Allegro, jornalista do Núcleo de Dados d´O Globo.

A L&PM tem uma série inteirinha dedicada a Shakespeare.

‘First Folio’ de Shakespeare leiloado por R$ 9,5 milhões

Via jornal O Globo

Um exemplar da primeira compilação das peças teatrais de William Shakespeare superou as expectativas iniciais em um leilão realizado nesta quarta-feira. Conhecido como “First Folio”, o livro foi publicado em 1623, sete anos após a morte do autor britânico. O exemplar foi vendido pela Christie’s, em Londres, por R$ 9,5 milhões.

Shakespeare first folio

O preço estimado do livro havia sido estabelecido entre 800 mil e 1,2 milhão de libras. Além disso, foram a leilão uma cópia de cada uma das três edições posteriores (1632, 1664 e 1685), que foram vendidas por 605 mil ibras no total (R$ 3,2 milhões).

A Christie’s informou que os quatro livros foram adquiridos por um colecionador americano cuja identidade não foi revelada. No mês passado, um exemplar do “First Folio” foi encontrado em uma mansão na Ilha de Bute, na Escócia. Atualmente, existem 234 cópias reconhecidas do livro em todo o mundo.

A L&PM tem uma série inteira dedicada a Shakespeare.

As últimas palavras de Galeano

Vem aí “O caçador de histórias”, livro inédito deixado pelo escritor uruguaio. Leia a seguir a matéria publicada pelo Jornal O Globo no dia 13 de abril, data de um ano da morte de Eduardo Galeano. O jornal publicou ainda trechos do novo livro que tem tradução de Eric Nepomuceno e que será lançado pela L&PM em breve.

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Eric Nepomuceno e Eduardo Galeano

Jornal O Globo – Por Guilherme Freitas

RIO — Morto em 13 de abril de 2015, aos 74 anos, Eduardo Galeano dedicou seus últimos meses ao que mais gostava de fazer: escrever. As palavras finais do autor uruguaio estão reunidas no livro “O caçador de histórias”, que chega este mês às livrarias dos países de língua espanhola. O lançamento no Brasil está previsto para o fim de maio, pela editora L&PM, em tradução de Eric Nepomuceno, amigo do escritor por mais de quatro décadas.

Com textos curtos e poéticos, entre o ensaio e a ficção, “O caçador de histórias” é uma amostra de estilo e temas que marcaram a obra de Galeano. Em um fragmento, o autor de um dos livros de cabeceira da esquerda no continente, “As veias abertas da América Latina” (1971), recorda a ocasião em que ouviu do chileno Salvador Allende, anos antes de sua morte no golpe de Pinochet, uma frase profética: “Vale a pena morrer por tudo isso que, sem existir, não vale a pena viver”. Outros textos evocam mitos e tradições dos povos indígenas da América, matéria-prima de clássicos de Galeano, como a trilogia “Memória do fogo”.

Um tema que atravessa o livro é a celebração da “paixão inútil” pela escrita: “Meus mestres foram os admiráveis mentirosos que nos cafés se reuniam para encontrar o tempo perdido”, diz. Nos últimos textos, escritos quando ele combatia um câncer no pulmão, surgem reflexões pungentes sobre a proximidade do fim: “O sol nos oferece um adeus sempre assombroso, que jamais repete o crepúsculo de ontem nem o de amanhã”.

Tradutor do primeiro texto de Galeano publicado no Brasil, o conto “O monstro meu amigo”, em 1974, Nepomuceno foi responsável desde então por mais de uma dezena de títulos do uruguaio no país. “O caçador de histórias” foi o primeiro em que não revisou cada palavra com o amigo. Nepomuceno selecionou os trechos publicados a seguir como uma homenagem a Galeano no primeiro aniversário de sua morte.

— Se Eduardo era de uma exigência sem tréguas na hora de escrever, mais exigente ainda era na hora de revisar a tradução. Negociávamos cada palavra, cada frase — diz Nepomuceno. — O vazio deixado por ele é imenso. Sou órfão desse meu irmão que a vida me deu. Cada palavra desta tradução foi negociada na sua ausência. Espero ter honrado a nossa parceria de 42 anos.

POR QUE ESCREVO/II

Se não me engano, foi Jean-Paul Sartre quem disse:

Escrever é uma paixão inútil.

A gente escreve sem saber muito bem por que ou para que, mas supõe-se que escrever tem a ver com as coisas nas quais a gente acredita da maneira mais profunda, tem a ver com os temas que nos desvelam.

Escrevemos tendo por base algumas certezas, que tampouco são certezas full-time. Eu, por exemplo, sou otimista segundo a hora do dia.

Normalmente, até o meio-dia sou bastante otimista. Depois, do meio-dia até as quatro, minha alma despenca para o chão. Lá pelo entardecer ela se acomoda de novo no seu devido lugar, e de noite cai e se levanta, várias vezes, até a manhã seguinte, e por aí vamos…

Eu desconfio muito dos otimistas full-time. Acho que eles são um resultado dos erros dos deuses.

Segundo os deuses maias, todos nós fomos feitos de milho, e por isso temos tantas cores diferentes, tantas como tem o milho. No Brasil, talvez nem tantas, mas no resto da América, sim: milho branco, amarelo, avermelhado, marrom, e por aí vamos. Muitas cores. Mas antes houve algumas tentativas muito desleixadas, que deram bem errado. Uma delas teve como resultado o homem e a mulher feitos de madeira.

Os deuses andavam chateados e não tinham com quem conversar, porque aqueles humanos eram iguais a nós mas não tinham o que dizer nem como dizer se tivessem o que dizer, porque não respiravam. Não abriam a boca. E se não respiravam nem abriam a boca, não tinham alento. E eu sempre pensei que se não tinham alento, também não tinham desalento. Portanto, não é tão desastroso que a alma da gente despenque para o chão, porque é só uma prova a mais de que somos humanos, humaninhos e nada mais.

E como humaninho, puxado pelo alento ou pelo desalento, conforme as horas do dia, continuo escrevendo, praticando essa paixão inútil.

***

PEGADAS

O vento apaga as pegadas das gaivotas.

As chuvas apagam as pegadas dos passos humanos.

O sol apaga as pegadas do tempo.

Os contadores de história procuram as pegadas da memória perdida, do amor e da dor, que não são vistas, mas que não se apagam.

***

HOMENAGENS

No morro de Santa Lucía, em pleno centro de Santiago do Chile, foi erguida uma estátua do chefe indígena Caupolicán.

Caupolicán mais parece um índio de Hollywood, e isso tem explicação: a obra foi esculpida, em 1869, para um concurso realizado nos Estados Unidos em homenagem a James Fenimore Cooper, autor do romance “O último dos moicanos”.

A escultura perdeu o concurso, e o moicano não teve outro remédio a não ser mudar de país e mentir que era chileno.

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ESTRANGEIRO

No jornal do bairro de Raval, em Barcelona, a mão anônima escreveu:

– Teu deus é judeu, tua música é negra, teu carro é japonês, tua pizza é italiana, teu gás é argelino, teu café é brasileiro, tua democracia é grega, teus números são árabes, tuas letras são latinas.

Eu sou teu vizinho. E tu dizes que sou estrangeiro?

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O VENTO

Espalha as sementes, conduz as nuvens, desafia os navegantes.

Às vezes limpa o ar, e às vezes suja.

Às vezes aproxima o que está distante, e às vezes afasta o que está perto.

É invisível e é intocável.

Acaricia você, golpeia você.

Dizem que ele diz:

— Eu sopro onde quiser.

Sua voz sussurra ou ruge, mas não se entende o que diz.

Anuncia o que virá?

Na China, os que preveem o tempo são chamados de espelhos do vento.

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ÚLTIMA PORTA

Desde que se deitou pela última vez, Guma Muñoz não quis mais se levantar.

Nem mesmo abria os olhos.

Num de seus raros despertares, Guma reconheceu a filha, que apertava a sua mão para dar serenidade ao seu sono.

Então, falou, ou melhor, murmurou:

— Que esquisito, não é? A morte me dava medo. Não dá mais. Agora, me dá curiosidade. Como será?

E, perguntando como será, se deixou ir, morte adentro.

“O caçador de histórias” está em fase de produção, mas já adiantamos que a capa será igual à capa da editora Siglo Veintiuno.

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Nosso DNA ainda acha que estamos na savana africana, diz autor de “Sapiens”

Jornal O Globo – Por William Helal Filho – 15/03/2015

Livro de Yuval Noah Harari, que leciona em Jerusalém, usa narrativa eloquente para refletir sobre quem somos e para onde vamos

Pintura egípcia no túmulo de Unsou mostra trabalho de agricultores

Pintura egípcia no túmulo de Unsou mostra trabalho de agricultores

RIO – Evolucionistas têm explicação para tudo. As nossas dores nas costas, por exemplo, são o preço que pagamos por cérebros avantajados e por andar com “apenas” duas pernas, em posição ereta. Nossos bebês nascem assim, tão subdesenvolvidos e molengos, porque o caminhar ereto exige quadris estreitos e canais de parto apertados, o que não combina com nenéns de cérebros grandes. As mulheres que davam à luz antes do tempo tinham mais chances de sobreviver, o que levou a seleção natural a favorecer, e perpetuar, nascimentos “precoces”. Tudo aconteceu ao longo de milhões de anos, até chegar o Homo sapiens. A espécie surgida há 150 milênios passou a reinar no planeta há 70 mil anos, depois da “revolução cognitiva”, a primeira de uma série de revoluções que, segundo o livro “Sapiens — Uma breve história da humanidade” (Editora L&PM), recém-lançado no Brasil, ditou e continua direcionando o caminhar da civilização.

A obra é uma tentativa de resumir nossa presença e nosso impacto na Terra, assim como de especular para onde a inteligência artificial e a “revolução biológica” vão nos levar. Tudo isso em 418 páginas, o que soa bastante pretensioso. Mas o autor Yuval Noah Harari, um israelense de 39 anos com doutorado em História pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, usa amarrações inteligentes e bem-humoradas, sempre do ponto de vista da evolução, para sobrevoar informações que, se estivessem lá, fariam do livro uma impossível enciclopédia.

— Muitas pessoas não conhecem bem a história da nossa espécie. A gente vê filmes, ouve falar um pouco na escola, mas esses detalhes não se conectam. É um problema porque o passado tem influência direta em nossas escolhas — diz, em entrevista por telefone, o professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, cuja obra entrou para a lista de mais vendidos do “New York Times”, sob elogios da crítica internacional.

Antes da tal revolução cognitiva, o Homo sapiens não era muito diferente dos outros animais. Mas, há 70 mil anos, começamos a pensar de forma diferente e a criar códigos de comunicação complexos. Isto permitiu ao homem se organizar em grandes grupos, o que foi um dos motivos para ele prevalecer enquanto centenas de animais, inclusive outras espécies humanas, eram extintas:

— Mas as características impressas no nosso código genético por todos os milênios na selva continuam lá. Nossos hábitos alimentares, conflitos e sexualidade são resultado de como as mentes de caçadores-coletores interagem com celulares, metrópoles e tudo mais. Nosso DNA ainda acha que estamos na savana africana.

Nossas faculdades mentais fizeram de nós a única espécie capaz de criar ficção. Foi isto, diz Harari, que tornou possível a expansão da sociedade. Religiões, empresas e dinheiro seriam obras de ficção. “Toda cooperação humana — seja um Estado moderno, uma igreja medieval (…) — se baseia em mitos partilhados que só existem na imaginação coletiva”, afirma o livro. Mas são esses elementos que nos unem em torno das diferentes comunidades.

A revolução cognitiva nos levou à revolução agrícola, há cerca de dez mil anos. Há 500 anos, veio a revolução científica e 250 anos depois, a revolução industrial. Chegou a revolução da informação, há cinco décadas, que nos trouxe à revolução biotecnológica. Harari acha que o sapiens pode estar perto do fim. Seria substituído por castas de humanos geneticamente modificados e “amortais”.

— Estamos confiando cargos de trabalho e até decisões pessoais a computadores. A Amazon faz um ótimo trabalho usando meus dados para escolher o próximo livro que vou ler. Os humanos estão correndo o risco de se tornar obsoletos — alerta o autor, rejeitando o rótulo de pessimista. — Sou apenas realista.

Sapiens

Livro de Yuval Harari acaba de sair no Brasil pela L&PM Editores

Como vai ser o banquinho do Millôr

Da coluna de Ancelmo Gois – Jornal O Globo – 23 de maio de 2013

O pensador de Ipanema

Millôr Fernandes dizia aos amigos que, se algum dia fosse homenageado, poderia ser com a colocação de um banquinho “de onde o pessoal pudesse curtir o pôr do sol”. O pedido vai ser atendido na segunda, quando será inaugurado o banco, no Largo do Millôr, entre o Arpoador e a Praia do Diabo. Não será um banquinho qualquer. O projeto, de Jaime Lerner, dá a impressão que o banco flutua. O perfil de Millôr, desenhado por Chico Caruso e apelidado de “O Pensador de Ipanema”, está em uma chapa de aço. Dali vai dar para ver o sol se pondo no mar, como queria o genial Millôr, morto em 2012.

millor

Programa da FBN inclui obras suspeitas de plágio

Por Guilherme Freitas
Jornal O Globo – 21/01/2012

Cadastro para compra de livros por bibliotecas públicas tem traduções acusadas de cópia

Criado pela Fundação Biblioteca Nacional (FBN) para ampliar e renovar o acervo das bibliotecas públicas do país, o recém-lançado Cadastro Nacional de Livros de Baixo Preço inclui obras suspeitas de serem traduções plagiadas. A denúncia foi encaminhada à Procuradoria Geral da República nesta semana pela tradutora Denise Bottmann, que enumerou dezenas de casos. A maior parte deles envolve livros da Editora Martin Claret.

Denise publicou em seu blog (naogostodeplagio. blogspot.com) uma lista de obras suspeitas, comparando-as com as versões originais. Entre os livros citados estão “O médico e o monstro”, de Robert Louis Stevenson, “O lobo do mar”, de Jack London, e “A mulher de trinta anos”, de Balzac, todos com traduções atribuídas a Pietro Nassetti e denunciadas há anos como plágios.

No caso de “O lobo do mar”, por exemplo, a versão atribuída a Nassetti reproduz, com pequenas alterações, a tradução de Monteiro Lobato publicada em 1934, pela Companhia Editora Nacional. O romance de London está em domínio público, mas os direitos autorais da tradução pertencem aos herdeiros de Lobato.

O Cadastro Nacional de Livros de Baixo Preço reúne mais de dez mil títulos, cujo preço final para o consumidor não pode ultrapassar R$ 10. Os livros foram inscritos no programa pelas próprias editoras e, desde 13 de janeiro, começaram a ser avaliados por 2.700 bibliotecas e pontos de leitura de todo o país, que escolherão os títulos a serem adquiridos.

Procurada pelo GLOBO, a FBN alega que, para que um livro seja excluído do cadastro, “é preciso que tenha sido objeto de ação judicial, com trânsito em julgado, que tenha determinado o impedimento de circulação das obras”. A FBN argumenta que o edital determina que toda editora, ao participar do programa, reconhece “que os livros que inscreve não violam qualquer princípio legal vigente”. A Martin Claret já foi intimada judicialmente por plágios, como no caso das traduções de Modesto Carone para “A metamorfose” e “Carta ao pai”, de Kafka (não incluídas no cadastro).

Editora substituirá obras

Responsável pelo Departamento Editorial da Martin Claret, Taís Gasparetti afirma que, devido às denúncias dos últimos anos, a editora está substituindo, desde o segundo semestre de 2011, as traduções que confirmou como plágios.

– Nosso Departamento Comercial inscreveu esses títulos no programa da Biblioteca Nacional considerando que eles já teriam novas traduções até o fim da vigência do edital – diz Taís, que pedirá à FBN que remova temporariamente do cadastro os títulos cujas novas traduções ainda não estão prontas.

Segundo ela, a lista de livros que ganharão novas versões inclui, entre outros, “A mulher de trinta anos”, que será traduzido por Herculano Villas-Boas, “O lobo do mar”, por Marcelo Albuquerque, e “O médico e o monstro”, por Cabral do Nascimento. No cadastro da FBN, todos eles aparecem atribuídos a Pietro Nasseti.

Além dos livros da Martin Claret, Denise aponta irregularidades em títulos das editoras Escala (“Assim falou Zaratustra”, de Nietzsche) e Pillares (“A luta pelo direito”, de Rudolf von Ihering) incluídos no cadastro da FBN.

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No dia seguinte à publicação desta matéria, Denise Bottmann publicou novas considerações à FBN em seu blog. Leia aqui.