O francês JP. Mourey foi o responsável por adaptar a obra-prima de A. Bioy Casares para os quadrinhos. Muito elogiada, sua adaptação de A invenção de Morel possui nuances que ele explica no posfácio do livro. Abaixo, a reprodução do trecho inicial:
Posfácio
(sobre algumas chaves de leitura desta adaptação)Em um auditório da Universidade de Cornell, o escritor russo radicado nos Estados Unidos Vladimir Nabokov declarou: “Quando lemos, precisamos observar e saborear os detalhes”, acrescentando, a título de apresentação de sua palestra, que faria, “entre outras coisas, uma espécie de investigação policial sobre o mistério das estruturas literárias”.
Adaptar A invenção de Morel é se confrontar com um mecanismo literário admirável sob todos os pontos de vista. Adaptar A invenção de Morel para os quadrinhos é, na verdade, conduzir uma espécie de investigação para decifrar esse mecanismo e recriar um dispositivo narrativo inteiramente novo no qual todos os elementos gráficos, todos os detalhes sejam importantes e se juntem em um eco, implicando a possibilidade de múltiplas releituras. Em suma, uma história em quadrinhos (segundo Jorge Luis Borges no admirável prefácio ao romance) “que não sofre de nenhuma parte injustificada”.
É somente através da construção geométrica de um relato no qual são abundantes as simetrias e as repetições que se pode trazer à tona o tema metafísico da circularidade do tempo (essa eternidade substituta imaginada e adotada por Morel) e narrar a emocionante e fascinante história de amor que está no cerne deste romance inesquecível. Apesar da complexidade, esta narrativa gráfica tem um compromisso constante com a clareza.
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Jean Pierre Mourey