Quando Charlie Parker surgiu, no início dos anos 1940, apresentando-se no Minton’s Playhouse, andar térreo do Cecil Hotel, no Harlem novaiorquino, Jack Kerouac estava lá, testemunha ocular e auditiva dessa revolução sonora chamada bebop. Kerouac absorveu a novidade e, ao contrário de alguns que se sentiram confusos, ele imediatamente entendeu o que acontecia ali. Não só compreendeu como percebeu que a literatura poderia ter esse ritmo. Segundo Kerouac, o poeta, da mesma forma que o escritor, deveria escrever como quem sopra um sax, sendo que o texto deveria ser elaborado como a trama de um longo solo improvisado e sincopado.
O autor de On the road foi fiel ao jazz até o fim. E fez de Charlie Parker sua principal e eterna fonte de inspiração. Não apenas pelos acordes musicais, mas também pela intensidade emocional. Poucos meses depois da morte de Parker, no verão de 1955, Kerouac compôs uma série de 242 refrões imitando a forma de construção musical do sax alto, que deu origem à Mexico City Blues, de 1959.
Na trilha sonora do filme Na Estrada / On the Road, como não poderia deixar de ser, há duas músicas de Charlie Parker, Ko-Ko e Salt Peanuts, esta última uma parceria dele com Dizzy Gillespie, outra lenda do jazz. Ouça as duas músicas aqui:
Nascido em 29 de agosto de 1920, este gênio do jazz foi um pássaro que planou bem acima da técnica e cuja vida meteórica e caótica foi contada no filme “Bird”, de 1988, dirigido por Clint Eastwood.