Em 15 de abril de 1874 foi oficialmente aberta a exposição que deu origem ao movimento impressionista na Europa. Foram reunidas 165 obras de 27 artistas, entre eles Pissarro, Monet, Renoir, Degas e Cézanne, que exibia pela primeira vez ao público sua obra-prima La maison du pendu. Esta importante passagem na história da arte mundial está descrita no volume Cézanne da Série Biografias:
A grande exposição foi finalmente apresentada de 15 de abril a 15 de maio de 1874, não sem tergiversações. Guillemet desistira de participar. Sua situação melhorara consideravelmente e ele não queria correr o risco de expor entre aqueles peludos vestidos de trapos. Eles precisavam evitar a qualquer preço dar a impressão de estar fundando uma escola, um movimento, quando tudo o que se queria era possibilitar que as individualidades fossem expostas lado a lado. Finalmente encontraram um local. O fotógrafo Nadar acabara de mudar-se do seu amplo ateliê do Bulevar des Capucines e concordara em emprestá-lo para o período da exposição. O horário de abertura e o preço da entrada, um franco, foram fixados.
Poucos eventos artísticos deixaram uma marca social e artística tão profunda e suscitaram tantos comentários como este. Nem mesmo a Exposição dos Recusados, organizada um ano antes para acalmar os ânimos dos artistas recusados pela Real Academia Francesa de Pintura e Escultura – entre eles o próprio Cézanne e Manet – foi tão comentada. A chamada Exposição dos Impressionistas – nome cunhado pela imprensa da época – não tardou em transformar-se em um escândalo sem precedentes. A reação do público foi assim descrita:
A multidão comprimia-se em um grunhido de revolta, os escárnios e as gargalhadas zombeteiras explodiam, toda uma histeria maldosa traduzia o medo, a inquietação e a incompreensão. Quem disse que a arte era uma atividade inocente? Ela era o próprio pulso de uma sociedade, seu reflexo, sua dimensão imaginária. Ao mesmo tempo fascinado e colérico, o público aglutinava-se diante das obras daqueles que eram chamados de “os intansigentes”, os artistas em ruptura com o academicismo, os revolucionários. Se, como disse Picasso, é verdade que ninguém ouve mais bobagens em um dia do que um quadro exposto, os quadros daquela manifestação foram mimados. Era horrível, imundo, revoltante, aqueles pintores, pessoas perversas, charlatões. Pintavam ao acaso, jogavam cor na tela sem pensar.
Mas todo aquele barulho não foi por nada, pois uma certa visita mudou o rumo da história:
A exposição podia ter sido um sucesso escandaloso, mas era um sucesso. A prova? Alguns dias depois, um visitante apresentou-se na exposição.Esse homem distinto, ardoroso e generoso era o conde Doria, um grande colecionador. Ele ficou parado na frente de La Maison du pendu durante algum tempo, procurou todos os motivos para detestar o quadro e desistiu no final. Ele vira e reconhecera uma obra de primeira grandeza nessa composição, nessas massas, nesse movimento telúrico que parecia fazer que a casa surgisse da terra. Ele a comprou.
Apesar desta glória, o retorno financeiro não foi suficiente nem para pagar as despesas da exposição.