Tudo começa com uma folha – ou uma tela – em branco. É ali que um escritor deposita o fruto de sua imaginação, de sua observação, de suas ideias. O branco que precisa ser preenchido e dominado. Jean-Paul Sartre inicia o livro A imaginação falando nela, a temida folha em branco. Nessa obra, escrita no início da sua carreira de pensador, Sartre propõe uma teoria única para analisar a imaginação, observando de que maneira os grandes filósofos como Descartes, Leibniz, Hume e Spinoza pensaram o assunto. A imaginação está entre as reedições importantes que acabam de chegar. Para quem quer ir fundo na análise da imagem, é um prato cheio. Ou melhor: um livro cheio.
Olho esta folha em branco colocada sobre minha mesa; percebo sua forma, sua cor, sua posição. Essas diferentes qualidades têm características comuns: em primeiro lugar, elas se oferecem ao meu olhar como existências que posso apenas constatar e cujo ser não depende de modo algum do meu capricho. Elas são para mim, não são eu. (…) De nada serve discutir se essa folha se reduz a um conjunto de representações ou se ela é e deve ser algo mais. O certo é que o branco que constato não é minha espontaneidade que pode produzi-lo. Essa forma inerte, que está aquém de todas as espontaneidades conscientes, que deve ser observada, aprendida aos poucos, é o que chamamos uma coisa. (Sartre em A imaginação, tradução de Paulo Neves)