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Segundo a Folha de S. Paulo, romance de Assis Brasil oferece alento em tempos de autoficção

O Inverno e Depois“, do gaúcho Luiz Antonio de Assis Brasil, pode ser entendido como uma ode ao romance.

O autor investe na forma clássica da narrativa em terceira pessoa para contar a jornada do personagem principal, com o rompimento da ordem, através de idas e vindas entre o passado e presente.

A forma escolhida é um alento em uma fase abundante em lançamentos de autoficção, em que jovens autores escrevem, não raro, sobre um “eu” que também é escritor.

“O Inverno e Depois” conta a história de Julius, um violoncelista de meia-idade que toca na Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo.

Julius é atormentado por uma promessa que fez ao seu professor de violoncelo na escola de música de Würzburg, na Alemanha: tocar o concerto de Antonín Dvorák. Seu mestre, porém, morreu sem ver o compromisso realizado. Julius tenta, mas abandona sua apresentação assim que toca os primeiros acordes.

O “fiasco”, como ele chama o episódio, soma-se ao fim do namoro com a uruguaia Constanza Zabala, seu eterno amor de juventude. Sem motivos para continuar na Alemanha, Julius volta para o Brasil, onde tem uma vida pacata até decidir, décadas depois, apresentar o concerto de Dvorák no Theatro Municipal de São Paulo.

Em busca de isolamento para os ensaios –e de acertar contas com o passado–, Julius retorna à Estância Júpiter, no pampa gaúcho, perto do Uruguai, onde cresceu.

O local é marcado pela ancestralidade da família e por histórias que são “meio fantasia, meio verdade”, lembrando um pouco os Buendía, de Gabriel Garcia Márquez em “Cem Anos de Solidão”. Entre elas, está a do fogo aceso por um “antepassado visconde” ao voltar de uma guerra, chama que continua viva na estância.

Na fazenda, ajudado pela meia-irmã, Agripina Antônia, Julius lida com seus dilemas.

O fundo temático da música clássica e do pampa também foi explorado por Assis Brasil em “Concerto Campestre”, de 1997. Entre aquele livro e este, seu 19º, uma competência do autor permanece: a de escrever finais sublimes.

O_inverno_e_depoisO INVERNO E DEPOIS 

AUTOR Luiz Antonio de Assis Brasil

EDITORA L&PM

QUANTO: R$ 39,90 (352 págs.)

AVALIAÇÃO: Ótimo

 

 

Novo livro de Luiz Antonio de Assis Brasil em destaque

O inverno e depois“, novo livro de Luiz Antonio de Assis Brasil será lançado nesta quarta-feira, 21 de setembro, em Porto Alegre na recém inaugurada livraria Saraiva do Shopping Iguatemi.

O lançamento ganhou destaque em vários jornais e foi capa do Segundo Caderno do Jornal Zero Hora e do caderno Panorama do Jornal do Comércio.

O novo livro de Luiz Antonio de Assis Brasil em destaque no jornal Zero Hora (clique para ampliar)

O novo livro de Luiz Antonio de Assis Brasil em destaque no jornal Zero Hora (clique para ampliar)

Assista ao Booktrailer de “O inverno e depois” em que Luiz Antonio de Assis Brasil lê trechos de seu novo livro:

Scliar e o Rio Grande

Luiz Antonio de Assis Brasil*

O Rio Grande do Sul é, desde suas primeiras representações simbólicas, uma metáfora e uma alegoria intelectuais que se organizam a partir da evocação de um antigo tipo luso-platino-rural, que acabou por suplantar as outras vertentes constitutivas de sua presente identidade. Como qualquer construção validada pelos extratos dominantes, essa alegoria teve, até pouco, sua hegemonia incontestada, havendo raro espaço de diálogo com outras representações concomitantes, nomeadamente as que decorrem dos surtos imigratórios dos séculos 19 e 20.

Nesse conjunto de fatores superpostos – e, não raro, conflitantes –, a obra de Moacyr Scliar avulta por ser aquela que optou por uma via alternativa que instituiu entre nós uma reflexão a que não estávamos acostumados: a de que somos humanos, antes de gaúchos.

Alguma crítica por vezes diz que o componente judaico seja a face mais visível e representativa de sua obra; trata-se, esta, de uma visão pobre, porque, antes de tudo, Scliar traz para nossa literatura uma via inesperada que aparece não como contraponto, mas como justaposição ao tipo hegemônico. Ambas são perspectivas construídas e, por isso, habitam a mesma legitimidade.

Outro viés referido pela crítica como essencial é o veio fantástico de seus romances, novelas e contos. Na verdade, trata-se de outra dicção para a mesma universalidade. Se nosso fantástico está presente já desde Lendas do Sul, este mesmo fantástico é um dado previsto pela cultura e pela mitologia; já o fantástico de Scliar é criação pura, isto é, provém de uma fabulação exclusiva e que não se confunde com qualquer outra preexistente mitologia.

Essas duas circunstâncias temáticas de Scliar – a judaica e a fantástica – significam, no cerne, o alargamento ontológico de uma literatura que se debatia entre seus que-fazeres irremediáveis e miúdos, vítima da estéril dicotomia pampa-cidade.

A obra de Scliar talvez seja a mais feliz investida nos domínios de uma universalidade moderna, embora tardia em termos regionais, e que precisou desse escritor de exceção para impor-se como possibilidade estética.

O constructo intelectual que é o Rio Grande, dessa forma, adquirirá, de agora em diante, uma obrigatória nuança, não a desfazê-lo, mas a matizá-lo. Com isso ganha-se em colorido e diversidade, até que outras obras surjam a transformar esse quadro pois, como sabemos, a cultura e a literatura se definem como processo que estará sempre descontruindo o que antes construiu.

*Luiz Antonio de Assis Brasil é escritor e Secretário de Cultura do Estado do Rio Grande do Sul. Este texto foi publicado originalmente no Segundo Caderno do Jornal Zero Hora em 17 de junho de 2013.

“Música perdida” encontra-se na França

Um pouquinho antes da Páscoa, o escritor Luiz Antonio de Assis Brasil nos enviou a versão francesa de seu romance Música Perdida (L&PM, 2006) que acaba de sair do forno parisiense da editora Le Temps des Cerises. Musique perdue é a terceira obra do escritor publicada na França, como ele nos contou por e-mail:

Este é o seu primeiro livro publicado na França ou já existem outros?
Luiz Antonio de Assis Brasil: Tenho três livros na França: O Homem Amoroso, Breviário das Terras do Brasil e, agora, Música Perdida (essas outras edições estrangeiras estão no meu website, inclusive com reprodução das capas.) 

Você chegou a participar do processo de edição?
LAAF: O processo de edição correu todo por conta das editoras, que, por vezes, mandavam um esboço das capas. Por sorte, tanto a diagramação quanto as capas saíram com boa qualidade, a mesma que a L&PM dedica às suas edições. Como, por enquanto, meus livros saíram em línguas que eu conheço, pude avaliar a fidelidade ao texto original. 

Pode nos contar como foi essa experiência e/ou quais são as tuas expectativas com essa publicação?
LAAF: É interessante: recebi há três dias o Musique Perdue, na tradução de Vincent Gorse. Li algumas páginas. Olha, o Vincent melhorou muito o original… Tenho, naturalmente, muito interesse acerca da recepção deste livro, que trata de uma cultura e de protagonistas tão diferentes da experiência europeia. Vejamos o que dizem os leitores gauleses.

"Musique perdue" e Música perdida", de Luiz Antonio de Assis Brasil

“Musique perdue” e Música perdida”, de Luiz Antonio de Assis Brasil

Poemas chineses

Por Luiz Antonio de Assis Brasil*

Quem lê jornal e se detém numa coluna de crônica, é porque tem experiência de leitura e possui muito conhecimento acumulado. Seu imaginário acerca da China, por exemplo, não se deixa seduzir por ideias feitas, como Mao-Tsé-Tung ou o catálogo de produtos industrializados que inundam nossas lojas e supermercados. Esse leitor já sabe que a China possui uma antiquíssima e invejável cultura, representada nas artes plásticas, na música, na arquitetura, no teatro e na poesia.

Tomando esses dados como autênticos, não cabe repetir que a poesia chinesa tradicional possui temas que em que está, por excelência e relevância, a natureza. É de Li Bai (701-762, na datação ocidental) o Diálogo sobre a montanha: Há quem pergunte / por que vivo / nestas verdes colinas. / Sem responder, sorrio, / de coração sereno, / enquanto as flores de pessegueiro / flutuam na água. / Tudo vai embora, tudo se apaga. / Aqui é outra, a terra, / e outro, o céu. / Nada parecido / com o mundo dos humanos / lá embaixo. Este poema, e outros do mesmo autor e, ainda, de Du Fu (712-770) e Wang Wei (701-761) foram reunidos no livro Poemas Clássicos Chineses, L&PM Pocket, com tradução e organização de Sérgio Capparelli (sim, o nosso estimado e premiado escritor de obras infantis, mas não só) e Sun Yuqi. Na abertura há um curto, mas cabal ensaio de Leonardo Fróes, recomendável a quem não está familiarizado com a poesia da China.

Não será possível, por óbvio, estabelecer qualquer juízo sobre a acuidade do trabalho da tradução, mas confiamos plenamente nos nomes da capa. Algo que chama atenção, em particular, é a extrema síntese linguística dos caracteres chineses, visível quando comparamos o original nas páginas pares com a respectiva tradução nas páginas ímpares. Os poetas chineses precisavam de apenas quatro linhas, quando precisamos do dobro, pelo menos. Nada de novo.

Mas voltando ao tema da natureza. Observe-se o refinamento deste poema do aristocrata Wang Wei, também músico e pintor: Pássaros / alçando voo. / Montanhas / que se repetem, / sempre, / na cor do outono… / Ando de um lado para o outro / no monte florido: / até quando / essa melancolia?

Quer-se dizer: enquanto, no mesmo período, os aristocratas ocidentais, sem nenhuma melancolia, matavam-se em batalhas cruentas, Wang Wei escrevia um poema sobre montes floridos. Algo a pensar. Mas, antes, é bom ler o livro por inteiro.

*Luiz Antonio de Assis Brasil acaba de lançar Figura na sombra. Esta crônica foi publicada originalmente no Segundo Caderno do Jornal Zero Hora em 19 de novembro de 2012.

Martha Medeiros e Assis Brasil autografam na Feira do Livro de Porto Alegre

Hoje, 10 de novembro, Martha Medeiros e Luiz Antonio de Assis Brasil têm encontros marcados com os leitores na Feira do Livro de Porto Alegre. Martha autografa seu livro, Um lugar na janela, às 16h. E Luiz Antônio de Assis Brasil falará sobre Figura na sombra na Sala Oeste do Santander Cultural às 18h e, às 19h, vai autografar seu novo livro. Leia aqui os textos publicados hoje no Caderno Especial Feira do Livro do Jornal Zero Hora.

O jeito Martha de viajar

Escritora lança “Um Lugar na Janela: Relatos de Viagem”

Por Rosane Tremea – Jornalista

É bem lá no final de Um Lugar na Janela que Martha Medeiros deixa clara a impressão das primeiras páginas do livro. Seus relatos de viagem podem ser traduzidos como anotações despretensiosas, daquelas que os mais ou menos viajantes fazem ao final de cada dia, recostados à cama da pousada, na sacada do hotel ou na mesa de um café. Tudo para não deixar escapar um detalhe, para não esquecer uma sensação, um sabor, um aroma, para não ser traído pela memória. Ainda que não se tenha, como ela diz, pretensões jornalísticas ou literárias.

Para perceber isso, não seria preciso chegar exatamente ao final do livro, que será lançado hoje, às 16h, na Praça de Autógrafos. Desde o início, Martha esclarece não se tratar de um guia de viagens, nem de tratados filosóficos ou antropológicos de autores como Paul Theroux ou Alain de Botton, ou da literatura que emerge das incursões de Pablo Neruda e Erico Verissimo.

Muito antes de se tornar uma escritora, Martha viajava. Diz ela, aliás, que a aventura começou às 14h do dia 20 de agosto de 1961, em Porto Alegre. Ou seja, os motivos que a levam a se mover por cidades, países e continentes são os que a fazem viver desde a hora do nascimento: o desejo da descoberta, para resumir.

É assim desde a primeira ida à Europa, aos 20 e poucos anos (naquele tempo, e não faz tanto tempo, a primeira vez não era tão precoce!), pulando de país em país, hospedando-se na casa de amigos de amigos, até o mais recente pouso em Nova York, a última escala descrita, na companhia das duas filhas.

Há de tudo no diário de bordo de Martha. De situações prosaicas – como embriagar-se de um pôr do sol, esperar em vão pela bagagem ao lado de uma esteira –, a outras nem tanto, como sentar perto de Harrison Ford num aeroporto sem conseguir dirigir-lhe a palavra. Ou, ainda, aquelas que a própria abominava, como cantar em coro num ônibus de excursão a caminho de Marrakesh.

Há passagens em que se imiscui a cronista, e ela dá um toque de autoajuda materna ao revelar momentos da convivência com uma das filhas, então com 19 anos, no longínquo Japão:“Só mesmo se afastando da rotina para estabelecer uma intimidade menos invasiva e mais calorosa. Viagens propiciam isso, uma quebra de hierarquia e uma democrática união diante do desconhecimento mútuo”.

Em Um Lugar na Janela, Martha confessa render-se a alguns de seus preconceitos, a manter muitos de seus princípios, a não se render ao consumismo e nem ao invasivo e às vezes inadequado hábito de fotografar tudo o tempo todo, de não abrir mão de uma boa companhia – ainda mais se for o amor de sua vida –, mas de não deixar de embarcar quando houver só a sua própria parceria.

Martha revela seu jeito de viajar. Que não é melhor nem pior que o de ninguém. É apenas o seu jeito, leve, de ver o mundo.

* * *

Ilustres visitantes

Por Luiz Paulo Faccioli – Escritor

Porto Alegre, 1998. Luiz Antonio de Assis Brasil trabalha com avidez em seu novo romance, muitas páginas já escritas – talvez 80 –, quando estaca. A obra vai tomando a forma dos romances que o fizeram um dos mais importantes autores de sua geração. O texto à sua frente tem a prosa luxuosa, o andamento lento e as sutilezas estilísticas que sempre foram sua marca registrada. Mas o escritor sente que precisa mudar. Fiel ao que sempre ensinou a seus alunos, ele não tem dúvidas: deleta impiedosamente tudo o que havia escrito e recomeça do zero.

Em 2001, surge O Pintor de Retratos, obra demarcadora da nova fase. O público não estranhou: detrás daquela prosa agora econômica, atenta ao essencial – e, por isso mesmo, muito mais forte –, está o mesmíssimo autor, só que renovado.

De lá para cá, foram quatro romances formando uma espécie de tetralogia: todos eles são protagonizados por visitantes que chegam ao pampa e o decifram com olhos forasteiros. Esses personagens são o italiano Sandro Lanari, de O Pintor de Retratos, o cronista emissário do imperador, de A Margem Imóvel do Rio, o Maestro Mendanha, de Música Perdida. No mais recente, Figura na Sombra, figuram dois ainda mais ilustres: o médico e botânico francês Aimé Bonpland, que empreendeu diversas expedições científicas mundo afora acompanhando o naturalista e geógrafo alemão Alexander von Humboldt. A expedição às Américas, que durou cinco anos, definiu uma mudança de rumo: Humboldt retorna à Europa com o objetivo de escrever uma grande obra abrangendo todas as descobertas que fez, enquanto Bonpland decide deixar para trás o prestígio que tem na corte de Napoleão Bonaparte, e um amor incompleto pela imperatriz Josefina, para se estabelecer no pampa, interessado sobremaneira em nossa erva-mate.

Aqui, Aimé vira Don Amado, que aparece no belíssimo prólogo recebendo um emissário de Humboldt em sua estância Santa Ana, em Corrientes, Argentina, no ano de 1858.

Em suas pouco mais de 260 páginas, Figura na Sombra descreve as peripécias dos dois aventureiros em suas fabulosas expedições, em que ficção e história outra vez se mesclam. Porém, o que mais importa é a grande aventura humana: Bonpland e Humboldt têm uma relação tão rica quanto conflituosa, e Assis Brasil nos faz vivê-la em toda sua magnitude e complexidade em outro de seus magistrais romances.

Assis Brasil conta como deu à luz ao livro “Figura na Sombra”

Por Fernanda Scherer*

Luiz Antonio de Assis Brasil, além de escritor, é Secretario de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul, professor universitário e ministrante da Oficina de Criação Literária mais antiga do Brasil. No evento de ontem, em São Paulo, Assis Brasil falou sobre técnicas literárias e sobre seu novo livro, Figura na sombra.

Figura na sombra marca uma nova estética da obra do escritor, com capítulos, parágrafos e frases mais curtas. Cada capítulo é uma unidade autônoma, o romance é fragmentado e o que dá consistência orgânica à obra é a personagem. Na entrevista exclusiva que Assis deu a L&PM WebTV em outubro de 2012, o autor reforça que uma grande história, mesmo uma história real como a do Aimé Bonpland, não é suficiente para um grande romance. Um grande romance, segundo ele, precisa de uma grande personagem e, em Figura na sombra, ele constrói a personalidade e os conflitos de Aimé, preenchendo com a imaginação os pormenores que as pesquisas dos acontecimentos reais não trouxeram.

A história de um francês, reconhecido médico e botânico, que vem parar em uma estância no Rio Grande do Sul já é por si só curiosa, mas, durante o evento de ontem, Assis Brasil revelou de onde veio a inspiração para contar tal história. E a história sobre a história de como ele escolheu o tema também renderia uma nova história.

Tudo começou há décadas atrás, quando Assis Brasil ganhou de um colega professor um livro artesanal, com o título escrito em francês, mas cujo significado era “Viagem de São Borja a Porto Alegre pela serra”. Pois o livro de capa verde foi para a prateleira da biblioteca de Assis e por lá ficou durante muitos anos. Foi somente em 2006 que, embalado por uma taça de vinho, Assis resgatou o livro e resolveu finalmente dar uma olhada. Abriu em uma página aleatória e viu um nome conhecido. Era o nome de seu bisavô. Em seguida, viu também o nome de sua bisavó. Só podiam ser eles. E pensando em tamanha coincidência, leu toda a obra de um gole só e foi em busca de sua origem. Descobriu então que aquele “carnet de Voyage” havia sido copiado à mão por um aluno da UFRGS em visita a uma biblioteca argentina onde estavam guardados todos os cadernos de viagem de Aimé Bonpland. E assim começaram as pesquisas sobre esse fascinante naturalista.

E por que os bisavós do escritor estavam na história? Aimé queria um sócio para entrar com capital para a fabricação de erva-mate em Porto Alegre. O bisavô, felizmente, não aceitou (o porquê do “felizmente” você descobrirá lendo o livro).

Amanhã, sábado, 10 de novembro, Assis Brasil autografa Figura na sombra na Feira do Livro de Porto Alegre às 19h. Mas nesse mesmo dia, às 18h, o autor fala sobre a história do livro no evento “Aimé Bonpland: uma figura na sombra”, na Sala Oeste do Santander Cultural.

No evento em São Paulo, Assis Brasil contou de onde veio a inspiração para escrever "Figura na Sombra". Ao seu lado, Rosangela Petta que mediou o bate-papo

*Fernanda Scherer é gerente de marketing da L&PM Editores e acompanhou o evento de Assis Brasil em São Paulo.

Encontro especial com Assis Brasil em SP

Nesta quinta-feira, 8 de novembro, na Livraria da Vila do Shopping Higienópolis, em São Paulo, a OFICINADEESCRITACRIATIVA (assim mesmo, em maiúscula e tudo junto), com o apoio da L&PM Editores, promove um lançamento especial para Figura na sombra, o novo romance de Luiz Antonio de Assis Brasil. Antes da sessão de autógrafos, marcada para às 21h, acontecerá o “O livro ao vivo”, um mix de sarau e workshop. Às 19h30min, no auditório da Livraria da Vila, os presentes poderão acompanhar a leitura de trechos do livro, feita pela repórter Neide Duarte, seguida de bate-papo com Assis Brasil sobre técnica literária que terá a mediação de Rosangela Petta.

Como o auditório só tem lugar para 65 pessoas, é bom solicitar o convite gratuito no site da OFICINA.  Já a sessão de autógrafos não tem limite de lugares e é só chegar…

Sábado, 10 de novembro, tem encontro com Assis Brasil na Feira do Livro de Porto Alegre. Às 18h, acontece o bate-papo “Aimée Bonpland: uma figura na sombra” na Sala Oeste do Santander Cultural. Às 19h, o escritor autografa seu livro na Praça dos Autógrafos.

O sucesso de “Figura na sombra”

O lançamento de Figura na sombra, novo livro de Luiz Antonio de Assis Brasil, que aconteceu na quarta-feira, 3 de outubro, foi um grande sucesso. Antes das 19h, uma grande fila já se formava dentro e fora da Livraria Saraiva do Moinhos Shopping em Porto Alegre. Pontualmente, o escritor deu início aos autógrafos e só parou após às 21h. Escritores como Sergio Faraco, Tabajara Ruas e Cintia Moscovich estiveram por lá. Em novembro tem mais: dia 08, Assis Brasil autografa na Livraria da Vila do Shopping Higienópolis em São Paulo e dia 10 na Feira do Livro de Porto Alegre.

A fila para os autógrafos de Luiz Antonio de Assis Brasil começou antes das 19h

Pontualmente, o escritor deu início às dedicatórias

O escritor Tabajara Ruas também entrou na fila

Figura na sombra é o quarto e último livro da série Visitantes ao Sul, da qual fazem parte O pintor de retratos (2001), A margem imóvel do rio (2003) e Música perdida (2006).

Baita livro

Por Juremir Machado da Silva*

Luiz Antonio de Assis Brasil sempre escreveu bem. Já tem seu lugar garantido entre os melhores escritores gaúchos de todos os tempos, que não são muitos, os tempos. Terá, apesar disso, de suportar um clichê que vou cometer agora: está como o bom vinho. Cada vez melhor. Leio-o desde quando eu tinha 22 anos e sonhava em mudar o mundo. Infelizmente para pior. Fui, talvez, o primeiro a resenhar “Videiras de Cristal“. Quando Assis publica um livro, corro para ler. Imaginava que ele andasse absorto na sua labuta de secretário estadual da Cultura e longe da carpintaria da literatura. Nada disso. Ele acaba de lançar “Figura na Sombra” (L&PM). Em linguagem de crítico literário, um romance soberbo. Em bom português, um baita livro. É a história do francês Aimé Bonpland, naturalista e companheiro de viagem de Humboldt por este Novo Mundo.

Bonpland teve uma existência errante. Escalou, com Humboldt, o vulcão Chimborazo e navegou pelas águas do Orenoco até o rio Negro, comprovando a existência dessa ligação através do Canal de Casiquiare. Mais tarde, depois de um retorno à Europa, mudou-se para Buenos Aires. Apaixonou-se pela yerba, a erva-mate. Retomou suas aventuras. Foi prisioneiro de El Supremo, o déspota esclarecido do Paraguai. Abandonou e foi abandonado por mulheres estranhas. Antes disso, cuidou e desenvolveu os jardins de Malmaison, o castelo da imperatriz Josefina, mulher de Napoleão, por quem teria se apaixonado. Foi chamado de vários nomes, especialmente de Gringo “loco”. Teve a vida que muita gente gostaria de ter, inclusive eu, por algum tempo. Assis Brasil mergulha esse personagem bizarro, sábio, iluminado, teimoso numa atmosfera de profunda solidão. Sofreria por amor à sua eterna Josefina? Ou por amor platônico a Humboldt? “Figura na Sombra” deixa essa porta aberta. Se não rolou, foi por medo de Bonpland. Humboldt parecia bem chegado.

Humboldt virou um mito. Bonpland, embora reconhecido e admirado, ficou em segundo plano. Sofria com isso? Teria voltado ao fim de mundo para aplacar o seu ressentimento? Humboldt quis provar a lógica perfeita da natureza. Bonpland intuía que tudo é caos. Ganhou a parada? Hipóteses, especulações, probabilidades… Assis Brasil faz o coração do leitor se apertar. Que puta solidão! Que tristeza! Quanta mágoa, quanta loucura, quanto silêncio, quanta dor! Há mistério, ambiente, imaginário e fantasia em cada página. O autor domina a palavra como um tirano iluminado e iluminista. Se em alguns livros sua narrativa parecia recuperar a estética do século XIX, em “Figura na Sombra” se vê, de corpo inteiro, o narrador deste século XXI, ágil, sintético, curto-circuitando a descrição, alternando ruptura e continuidade, abraçando uma ficção cósmica quântica, uma simulação engenhosa de linearidade feita de saltos e lirismo. Tem balanço de emoções, sinuosidade, um ritmo.

Assis Brasil é escritor de fato: ninguém se atreverá a perguntar-lhe se o que conta é verdadeiro. A pergunta não faz sentido. Só um imbecil a faria. Afinal, como poderia a ficção convincente ser falsa? Impossível.

* Juremir Machado da Silva é escritor, jornalista, tradutor e professor universitário. Esta crônica foi publicada originalmente em sua coluna diária do Jornal Correio do Povo no dia 23 de setembro de 2012.