Arquivo da tag: Manuel Bandeira

Dia de muita paixão

Este 12 de junho vai fazer muito coração bater mais forte. Além de ser o dia em que os enamorados comemoram sua paixão e também o dia em que a bola começa a rolar no mundial, ainda tem a estreia nacional de “Versos de um crime”, filme centrado em um acontecimento real envolvendo Allen Ginsberg e Jack Kerouac. Ou seja: programa não vai faltar no dia de hoje. Nem poesia.

Aliás, se você estiver sem ideia para o Cartão dos Namorados, ficam aqui algumas inspirações poéticas:

O amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

(Luiz de Camões – “200 Sonetos”)

 

O teu silêncio é uma nau com todas as velas pandas…
Brandas, as brisas brincam nas flâmulas, teu sorriso…
E o teu sorriso no teu silêncio é as escadas e as andas
Com que me finjo mais alto e ao pé de qualquer paraíso…

(Fernando Pessoa – “Poesias”)

 

Antes de amar-te, amor, nada era meu:
vacilei pelas ruas e as coisas:
nada contava nem tinha nome:
o mundo era do ar que esperava.

(Pablo Neruda – “Cem sonetos de amor”)

 

Teu corpo claro e perfeito,
– Teu corpo de maravilha,
Quero possuí-lo no leito
Estreito da redondilha…

(Manuel Bandeira – “Bandeira de bolso”)

 

Começou a Fip, Festival Internacional de Poesia do Recife

fip_cartaz

Começa hoje, 23 de maio, e vai até domingo, dia 26, o segundo Festival Internacional de Poesia do Recife. Durante estes dias, a capital pernambucana abre espaço para os versos locais e também recebe poetas dos mais variados sotaques. Estão programadas rodas de poesia, diálogos, cursos, performances, shows e jam-sessions poéticas. Clique aqui e confira a programação completa.

Evocação do Recife

Recife
Não a Veneza americana
Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais
Não a Recife dos Mascates
Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois –
                    Recife das revoluções libertárias
Mas o Recife sem história nem literatura
Recife sem mais nada
Recife da minha infância.

(Manuel Bandeira, trecho de “Evocação do Recife”, poema escrito em 1925, do livro Bandeira de Bolso)

 

Bienal do Livro e a tentação do leitor

 Por Amanda Zulke*

Observadores inveterados, como eu, temos um banquete e tanto em eventos como a Bienal do Livro de São Paulo. Desfrutamos de momentos prazerosos com tanta gente reunida num só lugar. Hoje, por exemplo, no estande da L&PM na Bienal, presenciei duas meninas deparando-se com a mais recente edição do livro On the Road, de Jack Kerouac. Desse encontro entre a dupla e o livro, saíram gritinhos, sorrisos, beliscões de incredulidade. Era muita felicidade ver o livro desejado. Percebi que elas haviam encontrado o que vieram buscar na Bienal, e dali partiram saciadas com a compra em mãos.

Depois disso, me peguei pensando na tentação que é circular pelos pavilhões dessa enorme feira literária. Enxergamos quase toda nossa lista dos próximos livros a ler ali, lado a lado. E aí, escolher qual obra levar torna-se tarefa complicada. Outro rapaz fez a festa agarrando os pockets de Fernando Pessoa, Manuel Bandeira e Pablo Neruda. Não preciso nem dizer que estava estampada nos olhos a angústia de escolher quais levar dentre tantas opções. Ao menos o preço justo da Coleção L&PM Pocket democratiza mais ainda o acesso aos livros do catálogo da editora.

Mas enfim, a Bienal Internacional do Livro de São Paulo segue a pleno nos pavilhões do Anhembi, assim como o estande da L&PM Editores. Passeando pelos corredores, o leitor é tentado a levar para casa pelo menos um livro. Mas, além disso, quem visitar a Bienal vai ver muito mais do que livros. Verá arte na homenagem aos 90 anos da Semana de Arte Moderna estampada nos livros gigantes, nos brinquedos antigos resgatados em um espaço lindíssimo chamado “Deu a louca nos livros” e nas atividades envolvendo as milhares de crianças que se aventuram nessa festa da literatura. Ah, como é bom ver quando a arte sai das páginas dos livros pra entrar na imaginação… 

*Amanda Zulke é assessora de imprensa da L&PM Editores e está na Bienal Internacional do Livro de São Paulo.

O espaço infantil da Bienal do Livro de São Paulo deste ano

Criança faz arte na Bienal

Mario de Andrade está lá, comemorando os 90 anos da Semana de Arte Moderna

"On the Road" e muito mais no estande da L&PM

Manuel Bandeira no Dia do Índio

Manuel Bandeira por Cândido Portinari

Manuel Bandeira veio ao mundo em 19 de abril. Nascido em 1886, o grande poeta, um dos ícones do modernismo, só viu o seu aniversário virar Dia do Índio em 1943, quando Getúlio Vargas colocou a data no calendário oficial do país. Mas ao contrário dos poetas românticos que ovacionaram os indígenas em verso, Bandeira foi pelo caminho da descontrução, oferecendo aos leitores uma poesia sonora, mas ao mesmo tempo irônica, densa e… sem igual. Aqui, um poema em que ele cita Peri, personagem de José de Alencar:

Sextilhas Românticas

Paisagens da minha terra,
Onde o rouxinol não canta
– Mas que importa o rouxinol?
Frio, nevoeiros da serra
Quando a manhã se levanta
Toda banhada de sol!

Sou romântico? Concedo.
Exibo, sem evasiva,
A alma ruim que Deus me deu.
Decorei “Amor e medo”,
“No lar”, “Meus oito anos”… Viva
José Casimiro Abreu!

Sou assim, por vício inato.
Ainda hoje gosto de *Diva*,
Nem não posso renegar
Peri, tão pouco índio, é fato,
Mas tão brasileiro… Viva,
Viva José de Alencar!

Paisagens da minha terra,
Onde o rouxinol não canta
– Pinhões para o rouxinol!
Frio, nevoeiros da serra
Quando a manhã se levanta
Toda banhada de sol!

Ai tantas lembranças boas!
Massangana de Nabuco!
Muribara de meus pais!
Lagoas das Alagoas,
Rios do meu Pernambuco,
Campos de Minas Gerais!

De Bandeira de Bolso, uma antologia de Manuel Bandeira (Coleção L&PM Pocket)

Dia nacional de declamar poemas

Rebramam os ventos… Da negra tormenta
Nos montes de nuvens galopa o corcel…
Relincha – troveja… galgando no espaço
Mil raios desperta co´as patas revel.

É noite de horrores… nas grunas celestes,
Nas naves etéreas o vento gemeu…
E os astros fugiram, qual bando de garças
Das águas revoltas do lago do céu.

(…)

(Trecho do poema “Pedro Ivo”, do livro “Espumas flutuantes”, de Castro Alves)

Castro Alves nasceu em 14 de março de 1847. E é em homenagem ao “Poeta dos Escravos” que este dia foi escolhido como o Dia Nacional da Poesia. Além do autor de Espumas flutuantesestão entre os poetas brasileiros da casa Olavo Bilac, Mario Quintana, Millôr Fernandes, Martha MedeirosPaula Taitelbaum e Affonso Romano de Sant’Anna.

Já os poetas de longe a gente deixa para homenagear na próxima quarta-feira, 21 de março, quando comemoramos o Dia Internacional da Poesia.

Natal sem Sinos

No pátio a noite é sem silêncio.
E que é a noite sem o silêncio?
A noite é sem silêncio e no entanto onde os sinos
Do meu Natal sem sinos?

Ah meninos sinos
De quando eu menino!

Sinos da Boa Vista e de Santo Antônio.
Sinos do Poço, do Monteiro e da igrejinha de Boa Viagem.

Outros sinos
Sinos
Quantos sinos!

No noturno pátio
Sem silêncio, ó sinos
De quando eu menino,
Bimbalhai meninos.
Pelos sinos (sinos
Que não ouço), os sinos de
Santa Luzia.

(De Manuel Bandeira em Bandeira de bolso – Uma antologia poética)