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Escritores que dão samba

Você faz parte da ala dos que se empolgam com o maior espetáculo da Terra ou do bloco dos que preferem a companhia sossegada de um bom livro durante o carnaval? Não importa… Essa notícia provavelmente vai agradar gregos e baianos, pierrôs e colombinas, pois ela mostra que samba e escritores podem ser um par perfeito no salão.

Em 1968, a cantora Dulce Nunes lançou um disco chamado “Samba do Escritor”, em que apresentava canções com letras que iam de Mario Quintana à Millôr Fernandes. Para quem ficou curioso, alguns poucos LPs podem ser encontrados  à venda no Mercado Livre, um deles com dedicatória de Dulce para ninguém menos do que Gal Costa (será que a Gal não curtiu?).

Além de Millôr e Quintana, há letras de Jorge Amado, Guimarães Rosa, Paulo Mendes Campos, Vinicius de Moraes, Antônio Callado e Carlos Drummond de Andrade.

Na capa do LP, com Dulce, estão Vinicius, Drummond e Millôr. Este último, escreveu a letra que dá nome ao disco: “Samba do escritor”

Há exatos 20 anos, Mario Quintana partia feito passarinho

Em 5 de maio de 1994, aos 87 anos, Mario Quintana voava para outros mundo, feito nuvem, feito passarinho, feito anjo. Deixou muitos versos e histórias para continuarmos lendo, recitando e contando. Para marcar a data, aqui vai um dos poemas do livro Quintana de Bolso:

O AUTORRETRATO

No retrato que me faço
– traço a traço –
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore…

às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança…
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão…

e, desta lida, em que busco
– pouco a pouco –
minha eterna semelhança,

no final, que restará?
Um desenho de criança…
Corrigido por um louco!

A Coleção L&PM Pocket publica também Ora bolas – O humor de Mario Quintana, 130 historinhas compiladas e adaptadas por Juarez Fonseca.

Quintana recebe homenagem em Porto Alegre

No dia do aniversário de Mario Quintana não vão faltar homenagens! Em Porto Alegre, cidade onde o poeta morou durante toda a vida, uma programação especial com música e literatura marca a comemoração dos 107 anos do “poeta das coisas simples”. Os festejos acontecem na Casa de Cultura Mario Quintana, casarão localizado no Centro Histórico de Porto Alegre que, por si só, já é uma homenagem vitalícia dos gaúchos a um de seus poetas mais queridos.

Confira a programação abaixo e participe!

19h – “Meu encontro com Quintana”: palestra com Cláudio Levitan e mediação de Fernando Ramos

20h30 – Pocket show “Eu beijei Quintana na boca de meu irmão” com Sandro Dorneles

21h – Sarau Poemas de Quintana com Andréia Laimer, Cristina Macedo, Diego Petrarca, Eliana Mara, Letícia Schwartz, Moyses Lopes, Nanni Rios e Walney Costa – Mediação da FestiPoa Literária e Cabaré do Verbo.

As más intenções de Mario Quintana

ora_bolasNo livro Ora bolas – O humor de Mario Quintana, o jornalista Juarez Fonseca compilou e adaptou 130 historinhas reais de Mario Quintana. Para isso, contou com a colaboração de parentes, amigos, ex-colegas de trabalho e jornalistas que conviveram com o poeta e sua irreverência e bom humor. O resultado são pequenas anedotas deliciosas que mostram quem era, na verdade, Mario Quintana: um escritor talentoso com uma personalidade fascinante. Leia uma das histórias:

BRUNA

O jornalista Maurício Mello Jr., na época crítico literário do Correio Braziliense e bom conhecedor da literatura do Rio Grande do Sul (com a motivação extra de ser casado com uma gaucha), esteve em Porto Alegre por volta de 1985 para entrevistar Quintana. Depois de muita conversa séria, deixou para o fim uma questão que sabia ser do interesse dos leitores.

– Fale a respeito de sua amizade com Bruna Lombardi.

Mario pensou um pouco, bem pouco, e expôs o seu lado:

– Pois é… Não sei o que ela quer comigo. Mas eu estou cheio de más intenções.

Acaba de chegar a 4ª Edição de Ora bolas, revisada e aumentada e que inclui texto biográfico do escritor Ernani Ssó.

Texto atribuído a Mário Quintana vira mantra de casamentos moderninhos

Folha de S. Paulo – 03/03/2013 – Por Roberto de Oliveira

“Promete que fará sexo sem pudores, que fará filhos por amor e por vontade, e não porque é o que esperam de você…” Esse trecho do texto “Promessas Matrimoniais” vem causando burburinho e suspiros em casamentos.

É claro que nada disso acontece sob a tutela da igreja. Tratado como um poema, “Promessas” tornou-se uma espécie de mantra moderninho em oposição aos clássicos sermões dos padres. Caiu nas graças daquela turma que não é chegada às celebrações tradicionais, geralmente casais jovens, de perfil, digamos, “descolado”. Nesses eventos, assim como em redes sociais, sites e blogs sobre casamentos, “Promessas Matrimoniais” costuma ser atribuído ao poeta Mario Quintana (1906-1994), mas não é dele.

Foi criado em maio de 1998 pela escritora e colunista gaúcha Martha Medeiros, 52. O texto faz parte do livro de crônicas “Montanha-Russa“.

O casamento de Juliana Paes com o empresário Carlos Eduardo Baptista, no Rio, em setembro de 2008, ajudou a “bombar” “Promessas Matrimoniais” na web.

Só que a autoria estava equivocada.  Erro dos sites de celebridades, de quem realizou o casamento ou dos pombinhos?  Pastor queridinho dos famosos, Luiz Longuini, que celebrou a união da atriz, conta que sempre soube que o texto “era do Mario Quintana”.

Ele diz que Juliana Paes não sabia quem era o autor. “Depois do casamento descobri, pelo sucesso na mídia, que é da Martha Medeiros.” Hoje, Juliana Paes jura que sempre soube que o texto era de Martha. “Gosto desse texto faz muitos anos. Muito antes de pensar em me casar.”

Para a fotógrafa carioca Fabricia Soares, 36, o poema é “lindo”. “Há uma grande discussão na internet sobre a autoria. Uns dizem que é do Quintana, outros dizem que é da Martha Medeiros”, diz. Durante a cerimônia de sua união com o fotógrafo Alexandre Marques, 42, a juíza bolou um texto que emocionou a todos, um “pot-pourri” de trechos que falavam dos noivos, suas manias e amores, e, de quebra, enxertava partes de “Promessas”.

O ambiente era a tradicional confeitaria Colombo, no centro do Rio, em uma área reservada para um almoço com 12 convidados, entre amigos e parentes. Fabricia não conhecia o texto, tampouco o autor. A juíza de paz Lilah Wildhagen, 56, não incluiu no discurso a parte que trata de sexo. “Evito porque o Conselho de Ética pode vir em cima da gente”, justifica. “Apesar de o sexo ser inerente ao casamento, não é mesmo?” Às vésperas de celebrar 2.000 casamentos, Lilah conta que sempre usa trechos do texto nas cerimônias. “É uma forma de personalizar.”

A juíza pinça partes do texto com base em respostas de um questionário com 32 perguntas aplicado aos noivos antes da cerimônia. A autoria? Ela ignora. “É de um autor desconhecido. Na internet, dizem que é de Mario Quintana. Não é. Nem dele, nem da Martha Medeiros, nem de Carlos Drummond de Andrade. Apesar de a Martha ser genial”, diz ela.

Assim começa "Promessas Matrimoniais", de Martha Medeiros

Assim começa “Promessas Matrimoniais”, de Martha Medeiros

EFEITO COLATERAL

Segundo a professora Lucia Rebello, do Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em toda a obra de Quintana “não existe nada sobre casamento, promessas matrimoniais e sermões”. “Mesmo o estilo do texto não tem nada a ver com a poesia de Quintana.”

Martha, a verdadeira autora, lembra que talvez a ideia de escrever a crônica tenha surgido quando ela foi a um casamento de uma amiga. Antes de entrar com os tópicos iniciados com a palavra “promete”, ela faz uma introdução na qual explica que “achava bonito o ritual do casamento na igreja, com seus vestidos brancos e tapetes vermelhos”, mas que o sermão do padre lhe desagradava.

“Promete ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-lhe e respeitando-lhe até que a morte os separe? [sic]’ Acho simplista e um pouco fora da realidade. Dou aqui novas sugestões de sermões.”

Segundo a escritora, há uma série de textos creditados a ela incorretamente e textos seus atribuídos a outras pessoas. “É uma chatice com a qual a gente tem que aprender a conviver”, diz. Martha considera “impressionante” o volume de créditos errados veiculados na internet. Cita nomes como Carlos Drummond de Andrade, Caio Fernando Abreu e Clarice Lispector, que também costumam ser “vítimas” desse “troca-troca autoral”. “Confesso que não gosto, mas não dá para fazer disso uma cruzada. É um efeito colateral da internet”, diz ela.

A escritora avisa que não gostaria de parecer “antipática”, mas que preferiria ser lida só em seus livros e nos jornais. “Além de autoria trocada, colocam enxertos, dão outros finais às histórias, criam finais melosos.”

Seja do poeta, seja da cronista, o que importa para esses casais é tentar cumprir as promessas. E ser feliz!