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O Marquês de Sade e seu castelo

Foi em 2 de junho de 1740, em Paris, que nasceu Donatien Alphonse François de Sade. A partir desse dia, com o passar dos anos, o Marquês de Sade, como ficaria conhecido, jamais se contentou em ser um mero nobre, muito menos um escritor como outro qualquer. Sem-vergonha, sem pudores e sem medo de ser feliz, ele colocou em prática todos os seus desejos. Como resultado, batizou um adjetivo: “sádico” e um substantivo: “sadismo”. E entrou para a história como um dos autores mais libertinos de todos os tempos. A simples menção de seu nome, ainda hoje, é capaz de despertar fantasias. Ou seja: o Marquês de Sade é pop.

Mas antes de se dedicar com força total à vida de “pura sacanagem”, Sade teve um currículo aparentemente comportado: estudou na Escola de Cavalaria Ligeira, foi subtenente do regimento de infantaria do rei, virou oficial e tornou-se capitão de cavalaria de Bourgogne. Mas preferiu largar tudo para cavalgar outros tipos de… bom, deixa pra lá.

Em 1774, depois de vários escândalos, alguns envolvendo prostitutas sodomizadas, ele acabou isolando-se no castelo da família, na pequena cidade de Lacoste, região da Provence francesa. Por estar no topo da colina, o chateau de Sade fazia com que ele ficasse observando a cidade (e talvez imaginando o que os pobres mortais estavam fazendo em suas alcovas). A imensa propriedade, com dezenas de quartos e cômodos, foi palco de inúmeras orgias – e quem sabe de algumas festas de aniversário. Abandonado, semi-destruído e cercado de mistérios, o castelo de Lacoste foi comprado, em 2001, pelo renomado estilista Pierre Cardin que então iniciou um projeto de restauração. A antiga casa de Sade permanece fechada ao público, mas algumas obras de arte ficam em exposição permanente ao ar livre. Só passear em volta dele, imaginando o que o Marquês aprontava por lá, já vale a visita. Então fica a dica para a sua próxima viagem.

Chegando em Lacoste já se vê o castelo do Marquês de Sade no alto da colina

As ruínas que já estão sendo restauradas, ainda escondem mistérios

A escultura surreal de Ettore Greco homenageia o Marquês de Sade

Mais uma escultura de Ettore Greco no castelo

Ao descer a colina, bom mesmo é aproveitar o Café de Sade, também de Pierre Cardin

Do Marquês de Sade, a L&PM publica Os crimes do amor e O marido complacente.

Em Paris, exposição homenageia o Marquês de Sade nos 200 anos de sua morte

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Donatien Alphonse François de Sade, o eterno Marquês de Sade, morreu em 2 de dezembro de 1814. Ao longo de seus mais de 70 anos de vida, somou centenas de orgias, milhares de obscenidades e 11 prisões. Em uma de suas detenções, aos 45 anos, ele escreveu, durante 37 noites consecutivas, a obra que o faria célebre: Os 120 Dias de Sodoma. Gênio para muitos e depravado para outros tantos, o Marquês de Sade pode ser considerado o primeiro escritor underground da literatura. Para celebrar os 200 anos de sua morte, o Museu d’Orsay, em Paris, organizou uma grande exposição em sua homenagem que teve início na sexta-feira, 14 de novembro, e segue até 25 de janeiro de 2015.

“A natureza violenta de alguns trabalhos e documentos pode chocar alguns visitantes” avisa o texto sobre a exposição publicado no site do museu. Ou seja: nem pense em levar as crianças. Já para os que não têm medo nem pudores de ver pinturas, fotos, esculturas e escritos que misturam corpos a amarras, desejos a correntes e amor a ferocidade, abandonando a moral e os bons costumes em prol da arte, a visita é uma verdadeira descoberta do desvio, dos extremos, do bizarro e, por que não, do sublime. Entre as obras, estão trabalhos de Goya, Picasso, Géricault, Igres, Cézanne, Rodin, Kubin e Rops.

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Uma das salas da exposição

Do Marquês de Sade, a Coleção L&PM Pocket publica O marido complacente, Os crimes do amor e O corno de si mesmo.

 

Muitas possibilidades no Dia do Sexo

No Dia do Sexo, encontre-se com Uma espiã na casa do amor, aproveite O Sofá para conhecer melhor Teresa filósofa, deite-se com a libidinosa Erma Jaguar, não tenha medo de participar da A história de O, pegue com vontade em Anti-justine, mostre que você tem um grande Fogo, mergulhe fundo no Kama Sutra, experimente entrar em Ménage à Trois, deixe escapar 111 Ais, dê uma chance para O marido complacente e não esqueça de repetir Os crimes do amor.

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O chifre: modo de usar

Por Xico Sá*

Como assim corno de si mesmo?

É possível?

Como aprendi, entre outras tantas lições, com o meu conterrâneo Miguel Arraes: “Meu filho, tudo é possível no mundo dos possíveis”.  Era uma coletiva no Palácio do Campo das Princesas. Jovem repórter, havia feito uma pergunta imbecil qualquer.

É possível ser corno de si mesmo? Sim. Está ai o Marques de Sade, um dos padrinhos sentimentais deste blog, que não nos deixa mentir.

Cuidado. É mais possível do que o amigo e a amiga imaginam.

Digamos que você vá a uma baile de máscaras. E lá esteja, sem que o saiba, seu marido ou a sua mulher. Você transa sem saber que é ele(a).

Eis a pista. Mais eu não conto para não estragar de tudo a leitura deste conto genial. Havia sido lançado pela Hedra, agora volta em uma edição para lá de econômica, apenas cinco mangos, na coleção de banca da L&PM.

Coleçãozinha excelente da editora de Porto Alegre. São livros de até 64 páginas, contos ou pequenos ensaios. Ideais para ler no metrô, em uma ponte aérea, no consultório.

Bela iniciativa no país dos livros caros e dos homens baratos.

“O corno de si mesmo” é da série de textos que o nobre Marquês escreveu quando estava preso na Bastilha, por volta de 1787, na França.

De si mesmo ou de outrem, amigo, algum dia faltamente seremos. Por isso o valor dessa literatura para refletir e coçar a testa. Eu recomendo.

Não há nada demais nisso. Seja você manso, complacente, quase um voyeur do chifre, como muitos personagens de Sade. Seja você um corno bravo, destemido, do tipo que sai a fazer besteiras. Inúteis besteiras. Chifre posto, nada mais nessa vida o subtrai.

Sim, caro Marçal Aquino, o amor e outros objetos pontiagudos. Acontece nas melhores famílias da Inglaterra ou do Crato.

Só um chifre, aliás, humaniza um macho. Só um chifre tira a nossa arrogância falocrática.

E já que falamos de filosofia de pára-choque, fica aqui um clássico: chifre é para homem, boi usa de enxerido.

Relaxa.

*Xico Sá é escritor e jornalista. O texto acima foi publicado originalmente na sua coluna de Folha.Com no dia 01 de junho de 2012.

O eterno Marquês de Sade

O que esperar de um livro assinado pelo Marquês de Sade? Todos nós sabemos: monstruosas máquinas de tortura, lâminas afiadas, ferros em brasa, chicotes, correntes e outros aparatos de suplício cujo requinte está em mutilar lentamente dezenas de corpos a serviço da volúpia libertina, fazendo escorrer o sangue dos imoloados e o esperma dos algozes, em cenas que têm o poder de produzir simultaneamente a dor das vítimas, o orgasmo dos devassos e o profundo desconforto dos leitores. Sim, todos nós sabemos; e até mesmo aqueles que jamais abriram um desses livros sabem o que eles contêm.

Assim a ensaísta, tradutora e professora de literatura Eliane Robert Moraes começa seu prólogo, “Um outro Sade”, no livro Os crimes do amor. E como ela mesmo diz, não é preciso ter lido algum dos livros do Marquês para saber quem ele é e do que suas palavras eram capazes. Em Os crimes do amor, no entanto, há um outro Sade. Nenhuma palavra obscena, nenhuma crueldade física, nenhum discurso justificando o crime.

Quando queria, Sade sabia ser virtuoso. Mas sua fama de devasso ultrapassou as páginas, virou alcunha, estampou um gênero de prazer. Antes de Sade não existia o sadismo. Não como nome, pelo menos. Morreu aos 74 anos, em 02 de dezembro de 1814, em sua cela no Hospício de Charenton. Seu nome, no entanto, permanece eternizado e sempre lembrado quando se fala em literatura erótica.  

Assim o Marquês de Sade foi retratado no final da vida

Há 196 anos, morria o mais nobre dos pervertidos: o Marquês de Sade

No dia 2 de dezembro de 1814, exatamente dez anos depois de Napoleão ter sido coroado imperador, morria o Marquês de Sade. De seus 74 anos de vida libertina, 29 foram passados em prisões e asilos para doentes mentais. Sade foi encarcerado pela monarquia, pelos revolucionários e pelo império. E também foi até o limite do prazer. Na literatura e na vida. Seus livros descrevem a satisfação de torturar e de humilhar o parceiro em nome do prazer. Quando não estava preso, vivia em alvocas, prostíbulos e apartamentos alugados para onde levava prostitutas que era apresentadas a uma coleção de chicotes, cinturões de couro e correntes. Antes de Sade, não existia o sadismo. Seus escritos chocaram, causaram revolta, foram chamados de grotescos. Mas as mulheres amaram o Marquês. E ele amou as mulheres. Tanto que criou a personagem Justine. Renné de Sade, sua primeira esposa, era habitué nas orgias do marido – a mais célebre delas com a participação de todas as criadas da casa. Em 1801, já velho e separado da mulher, Sade mais uma vez foi preso, dessa vez no Hospício de Charenton, onde encantou-se pela jovem filha de uma carcereira (essa história é narrada em “Contos proibidos do Marquês de Sade”, filme dirigido por Philip Kaufman). Sedutor, Sade planejava produzir peças pornográficas quando saísse do manicômio. Não teve tempo para isso. Morreu em sua cela, numa França regida por Napoleão, obeso e bem menos sedutor do que nos áureos tempos das orgias. Foi enterrado no cemitério de Chareton em uma cova sem nenhuma inscrição, mas que mesmo assim recebeu uma cruz.

Do Marquês de Sade, a L&PM publica Os crimes do amor e O marido complacente.