Martin Luther King foi um homem múltiplo: pensador, poeta, pastor batista. Filho de escravos, sonhava com um país em que seus quatro filhos não fossem julgados pela cor da pele, mas sim pelo seu caráter. Defendia os direitos civis dos afro-americanos sem o uso da violência. E por tudo isso, no dia 14 de outubro de 1964, foi anunciado como sendo o Prêmio Nobel da Paz daquele ano. O mundo ficou perplexo. Um negro vencia o prêmio mais importante do mundo. Neste dia, ele estava internado em uma clínica para tratar problemas de saúde e sua esposa, Coretta, ligou para lhe dar a notícia, como está contado no livro Martin Luther King, de Alain Foix, Série Biografias L&PM:
Era outubro de 1964. Exausto, depois de incessantes combates, o corpo já não o acompanhava. Martin adoeceu gravemente. Um contratempo que ele lamentava, porém, tinha engordado mais de dez quilos e sua pressão arterial estava explodindo. Foi Coretta quem o incentivou a se internar, em Atlanta, no dia 13 de outubro.
Sozinha em casa, Coretta recebeu na manhã seguinte, depois dos costumeiros telefonemas anônimos de ameaça a ela, a Martin e sua família, uma ligação de natureza extraordinária. Era um jornalista da Associated Press pedindo para falar com seu marido a fim de lhe dar uma maravilhosa notícia: ele acabava de receber o Prêmio Nobel da paz.
– Este ano, prosseguiu a jornalista, o prêmio é de 54 mil dólares. O que acha que o dr. King fará com esse dinheiro?
– Se bem o conheço, imagino que vai doar tudo para o Movimento pela Liberdade.
– O que a senhora acha disso?
– É para onde esse dinheiro deve ir. É o que eu acho do fundo do meu coração.
Assim que o jornalista desligou, ela telefonou para Martin:
– Como está o Prêmio Nobel esta manhã?
– Não entendi.
– Você acaba de receber o Prêmio Nobel da Paz de 1964.
– …
– Querido?
– Hã… Acho melhor conferir se não é algum tipo de brincadeira.
Mas ele voltou a dormir. Quando acordou, achou que tinha sonhado. Aos 36 anos, era Prêmio Nobel da Paz.
O anúncio foi como um estrondo em meio a um céu tumultuoso. Parou o tempo. Seus adversários, negros ou brancos, ficaram atordoados. Algo incrível, inédito, acontecera, desarmando momentaneamente os ódios. de cima da tampa da segregação norte-americana, algo vinha tocar em King. dizendo que ele tinha razão. Uma autoridade incontestável o investira com sua espada.