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Van Gogh vem aí

Segundo a coluna de Mônica Bergamo no Jornal Folha de S. Paulo, o MASP (Museu de Arte de São Paulo), planeja para 2023 uma exposição com obras de Van Gogh. A única questão é que o museu se preocupa com as taxas aeroportuárias de armazenamento que antes eram calculadas pelo peso e agora são cobradas sobre o valor das obras. Se fosse assim, o MASP teria que pagar, numa expectativa otimista, cerca de de US$ 7,5 milhões pela vinda de 20 obras de Van Gogh. O valor inviabilizaria a exposição. Até agora, o museu tem conseguido mandados de segurança na Justiça para evitar que a cobrança seja feita desta forma. Vamos torcer para que dê tudo certo.

A L&PM Editores publica Vincent – A História de Vincent Van Gogh em quadrinhos, Van Gogh na Série Biografias L&PM, Cartas a Theo em pocket e Cartas a Theo e outros documentos sobre a vida de Van Gogh em formato grande. Além disso, será publicado, ainda em 2018, o livro O capital de Van Gogh – Ou como os irmãos Van Gogh foram mais espertos do que Warren Buffet, de Wounter Van Der Veen, livro que mostra que, através da aquisição de obras de muitos artistas, bem como a criação de pinturas de Vincent, os dois irmãos pacientemente reuniram uma coleção de valor inestimável. Ao fazê-lo, criaram uma empresa inigualável que até hoje emprega milhares de pessoas em todo o mundo e assegura bilhões de dólares.

Van Gogh Capital capa primeira

Obras do Louvre que foram de Edmond de Rothschild estão em São Paulo

Para os que passarem por São Paulo até 13 de janeiro, aqui vai uma dica imperdível: a mostra “Luzes do Norte” em exibição no Masp. Doado ao Museu do Louvre de Paris pelos herdeiros do barão, colecionador e filantropo Edmond de Rothschild, esta exposição apresenta um fantástico conjunto de obras de arte do Renascimento alemão, concebida exclusivamente para o museu. São 61 gravuras e desenhos sobre papel. O mais fascinante é acompanhar na seleção como a estética da época foi evoluindo da influência gótica para as inovações de perspectiva herdadas da Itália

Vale lembrar que Edmond de Rothschild é um dos que está no livro A dinastia Rothschild, livro escrito por Herbert R. Lottman (autor de “A Rive Gauche”) e publicado no Brasil em 2011 pela L&PM.

Um restaurador de arte que conhecia todos os Rothschild e que fazia visitas frequentes a Edmond em Pregny – Edmond passou a apreciar a arte um pouco tarde, mas, quando começou, aprendeu ligeiro e rapidamente transformou seu castelo em uma caverna de Ali Babá – descobriu que ele era o menos “rothschiliano”, quer dizer, o menos pomposo, do clã. (Trecho do capítulo “Edmond e os outros” de A dinastia Rothschild)

Gravura “O Baile”, de Mestre Mz, parte da coleção Barão Edmond de Rothschild/Museu do Louvre (Clique para ampliar)

Virgem Transtornada, um Busto, de Martin Schongauer (1450-1491)

SERVIÇO

Exposição: Luzes do Norte
Onde: Masp – Avenida Paulista, 1578
Horário: Terça, quarta, sexta, sábado, domingo e feriados, 10h às 18h; quinta, 10h às 20h
Quanto: R$ 15 (terça é grátis para todos os visitantes, nos demais dias, grátis para menores de 10 anos, pessoas com mais de 60 e grupos de estudantes de escolas públicas agendadas)
Quando: até 13 de janeiro

O grande amor de Modigliani

Enquanto isso, no primeiro andar, Amedeo faz o retrato de uma jovem de dezenove anos, aluna da bastante próxima Academia Colarossi, um retrato datado e assinado de 31 de dezembro de 1916. Ela se chama Jeanne Hèbuterne. Ela não usa pó-de-arroz no rosto, não usa batom nos lábios. Ela se parece com uma virgem veneziana e desenha muito bem. Dotada para a pintura e atraída pelo fauvismo, ela gostaria de pintar sobre porcelana e se prepara para o concurso de admissão na Escola Nacional de Artes Decorativas da Rue Bonaparte. Nesse último dia do ano, Amedeo acaricia as longas tranças castanhas que enquadram o rosto de Jeannette, como ele a chama afetuosamente, “Noix de Coco” para seus colegas de ateliê. É uma jovem doce que desabrocha para a vida e para o amor. Ela é pálida, bonita, magricela, um pouco enfermiça, com grandes olhos amendoados. (…) Um lampejo de esperança se abre na vida de Amedeo. De repente, ele é invadido por um tipo de paz, ele é conquistado pelo frescor dessa jovem diferente das outras. Como uma musa, ela o inspira. A partir desse dia, ele a esperará na saída de suas aulas, com o coração batendo, como um colegial que corre ao primeiro encontro. “A felicidade é um anjo de rosto grave”, diz ele. Ela fica maravilhada com esse homem de 33 anos que a corteja discretamente e que a fascina. Ela gosta que ele se interesse por ela, por sua pintura, por seus desenhos, e o contempla por horas num canto de banco no La Rotonde enquanto ele declama suas poesias em italiano.

(Trecho de Modigliani, Série Biografias L&PM)

Quem estiver em São Paulo até 15 de julho não pode deixar de conferir “Modigliani: Imagens de uma Vida”, mostra que o Masp (Museu de Arte de São Paulo) está exibindo. São desenhos, esculturas, manuscritos, fotos e obras de outros artistas que traçam um panorama da vida do pintor italiano. Entre as obras espostas, estão pinturas de Jeanne Hèbuterne, o grande amor de Modigliani que, logo após a morte dele por tuberculose, jogou-se da janela, grávida de seis meses. Detalhe: o curador desta mostra é Christian Parisot, autor da biografia que a L&PM publica na Coleção L&PM Pocket.

Serviço
Modigliani: Imagens de uma vida
Até 15 de julho
Masp – Avenida Paulista, 1578
De terça a domingo, e feriados: das 11h às 18h ; quinta-feira: das 11h às 20h
Ingressos: R$ 15 (inteira); R$ 7 (meia); crianças até 10 anos e idosos acima de 60 anos têm entrada franca.
Toda terça-feira a entrada é gratuita no Masp.
Informações: (11) 3251-5644

 Após São Paulo, a mostra segue para Curitiba.

Pietro Maria Bardi, duas ou três coisas que sei dele

Por Jacob Klintowitz*

Pietro Maria Bardi é um herói brasileiro. Ele comandou a formação do melhor acervo de arte ocidental da América do Sul. Ele comandou a criação do MASP, o primeiro museu em moldes contemporâneos do Brasil. Hoje, o acervo do MASP vale bem mais de um bilhão de dólares. Bardi foi esta raridade da nossa vida pública: deu lucro ao país. E nos ensinou muito. Eu sinto saudades do nosso convívio. Abaixo, minha matéria sobre ele, publicada  na revista “Itália em São Paulo 2011”:

Pietro Maria Bardi com um Cézanne

O rosto era vertical, com traços fortes e recortados de maneira brusca. Parecia ter sido desenhado por um escultor. Um esboço feito às pressas, sem muito tempo para detalhes, pois o que interessava era o volume e as áreas de incisão. Quando ria, os olhos e a boca se alçavam em forma de letra “V” e acentuavam a verticalidade interna do volume. Caminhava de maneira decidida, rápido, os braços soltos, num movimento impulsivo em direção ao alvo. Numa época de indecisões, incertezas, opiniões matizadas de infinitas alternativas, Pietro Maria Bardi parecia não ter dúvidas e dizia rapidamente as suas opiniões, sempre curtas e diretas. Certamente eram os olhos, brilhantes e expressivos, ornados por grossas sobranceiras, que lhe davam a aparência irônica. De alguma maneira lembrava um fauno, com a sua voluntariedade, certeza instintiva e objetividade. Mas os faunos, ao que me consta, não eram dotados de ironia e senso de humor.

Pietro Maria Bardi foi um dos mais fascinantes personagens da arte brasileira, dotado de extraordinária capacidade de ação, decisivo na formação do melhor acervo de arte da América do Sul, homem de paixões, polêmico, generoso, e administrador cuidadoso e detalhista. Tudo via, sabia e controlava. Mais de uma vez me levou a visitar o Museu de Arte Brasileira, MASP, a sua suprema realização, às 7h00. Percorria imediatamente todas as dependências, incluindo os banheiros. Eu indaguei, numa ocasião, sobre este procedimento:

– Bardi, nesta altura da vida, com quase oitenta anos, com tantas responsabilidades altas e urgentes, não caberia delegar esta função, a de inspecionar banheiros, a um funcionário?

– Jacob, eles precisam saber que todos os dias eu vou verificar tudo. No dia em que eu não fizer isto, os banheiros deixarão de ser tão limpos.

Bardi era um descrente da vida social, sempre me dizia que não valia à pena, tinha imenso tédio com jantares, conversas descomprometidas, roupas da moda – Bardi comprava as suas roupas em lojas de departamento e em supermercados – e frivolidade. Até o esnobismo de alguns pretensos conhecedores de vinhos, o aborrecia. Estabeleceu para si mesmo um horário rígido e fez todos saberem disto. Deitava às 21h00 e acordava às 4h00. Na maioria dos dias, às 6h00, já estava na sua galeria, a Mirante das Artes, na rua Estados Unidos. Costumava estar no museu antes da 8h00. Com esta vida ascética e dedicada ao trabalho, não tolerava atrasos. Um dos mais humildes funcionários do MASP vinha, de maneira sistemática, chegando tarde. A desculpa era sempre a mesma: dificuldades com o trânsito e o transporte coletivo, já deficiente àquela época. Bardi chamou a atenção do funcionário e disse que lhe descontaria no salário os seguidos atrasos. No outro dia chamou o faltoso e lhe deu de presente uma bicicleta. E manteve o desconto na folha salarial.

De todos os personagens que conheci no universo das artes o olhar mais fulminante, imediato, decifrador, foi de Pietro Maria Bardi. Ele tinha este dom misterioso de saber de pronto, sem passar pelo método dedutivo. E não era um saber titubeante, mas uma convicção que desafiava qualquer dúvida. Era como se ele estivesse em contato permanente com o inconsciente, este oceano de saber que nos é vedado, em boa parte, pelo consciente. Esta maneira particular de ir direto para o conhecimento, o resultado, o desnudamento, servia ao Bardi para praticamente tudo: escolha de amigos, seleção de artistas para o museu, autenticação de obras de arte.

Certa vez um amigo meu, Darcy Barros, despachante de alto gabarito na área de importação e exportação, esportista e amigo das artes, desejava um encontro com Bardi e não conseguia ser recebido. Darcy Barros estava em dúvida entre comprar ou não uma pequena pintura de Pablo Picasso e tinha a informação de que Bardi seria capaz de saber da autenticidade ou não da pintura. Ajudei-o a marcar o encontro. Antes de tudo, Bardi lhe fez saber que não cobraria pelo trabalho, mas que aceitaria doação ao MASP. Eu prevenira ao amigo que não deveria ocupar demais o tempo do “professor”, que evitasse a inútil contestação. Pois bem, Darcy Barros ainda não terminara de desembrulhar totalmente a pintura, vista em três quartos de sua superfície e já recebeu o veredicto: falsa!

Naturalmente o meu amigo recorreu a outras fontes, desta vez, com fundamentos científicos, análises com luzes especiais, conhecimento da linha histórica de proprietários da obra, etc, e, ao final, o resultado foi o mesmo. Era um falso Picasso.

"Estudante - Camille Roulin", de Van Gogh, é um dos tesouros do MASP

O acervo de arte ocidental do MASP é o melhor da América do Sul. Pietro Maria Bardi era um marchand bem relacionado no período anterior à Segunda Guerra Mundial e sabia onde estavam as obras, quem eram os proprietários, valores de mercado e era um exímio comerciante. Sabia vender e sabia, principalmente, comprar. Os preços estavam aviltados na Europa de pós-guerra, e Bardi, com a ajuda do jornalista Assis Chateaubriand, criador do MASP, ia comprando preciosidades. Por fim, esse acervo que hoje, em termos pessimistas, é avaliado entre um bilhão e meio de dólares à dois bilhões de dólares, necessitava ser pago. Boa quantidade das obras haviam sido compradas a crédito. Com a ajuda do embaixador Walter Moreira Salles, Assis Chateaubriand e Pietro Maria Bardi encontraram-se com David Rockefeller, banqueiro americano. Chateaubriand explicava o museu, o Brasil, a força de sua cadeia jornalística, a força da nossa economia. Bardi mostrava as fotos das obras, a sua história, os antigos proprietários, o seu valor futuro. Eles conseguiram quase o impossível, um empréstimo de U$ 4.000.000,00, na época uma quantia imensa. Chateaubriand assinou o empréstimo e Pietro Maria Bardi foi o avalista. No retorno ao Brasil, no avião, o jornalista dormia tranqüilo e Bardi estava inquieto. Num momento dado Bardi perguntou ao jornalista como fariam para saldar uma divida tão grande. Chateaubriand declarou com simplicidade: “Eu jamais vou pagar esta dívida”. Disse isto e voltou a dormir. Bardi, o avalista, não dormiu até chegar no Brasil.

Mais tarde, no governo Juscelino Kubitschek a dívida foi repassada para a Caixa Econômica Federal e, no período militar, o Ministro Jarbas Passarinho, perdoou o restante da dívida.

Na década de 50 houve uma mobilização contra o museu, o acervo e o seu diretor. Diziam que Pietro Maria Bardi fizera um museu de falsos. Naturalmente o museu sofria por duas razões óbvias. A primeira delas era a imensa quantidade de inimigos do jornalista Assis Chateaubriand, dono da maior rede de jornalismo do país. O MASP herdou as inimizades do jornalista, seu criador, e boa parte destes inimigos eram jornais concorrentes. A outra razão, mais dura do que a primeira, era feita deste pecado capital, a inveja. Estas duas razões fundamentais, aliadas ao sentimento do colonizado, criaram a dúvida: como o Brasil poderia ter estas obras-primas?

Em 1953, Pietro Maria Bardi cansado desta guerra provinciana manteve contato com o seu amigo German Bazin, na época Diretor do Museu do Louvre. Acertaram uma exposição do acervo do MASP que foi realizada, em Paris, no Museu de L’Orangerie. A mostra foi inaugurada com a presença do presidente da república, Vincent Auriol, que governou a França entre 1947 e 1954.

Dois dias antes Bardi ligou para Chateaubriand e lhe comunicou que Vicent Auriol, Presidente da Quarta República, inauguraria a mostra. O jornalista prometeu estar lá para receber o presidente, mas não apareceu e Bardi recepcionou sozinho o Presidente e lhe mostrou detalhadamente o acervo, ressaltando as peças que tinham sido adquiridas de coleções francesas. No outro dia:

Bardi relata os acontecimentos, Chateaubriand lhe disse:

– Professor, eu não fui, porque pensei que era uma piada, uma brincadeira, uma blague.

Pietro Maria Bardi, espantado, respondeu:

– Mas Dr. Chateaubriand, eu faria piada com o presidente da França?

Pietro Maria Bardi ao lado da estátua de Assis Chateaubriand

 * Jacob Klintowitz é escritor, crítico de arte e teve o privilégio de ser amigo de Pietro Maria Bardi.

Feliz Ano Novo Chinês!

Enquanto para nós, ocidentais, o novo ano já conta trinta e três dias, para os chineses ele está prestes a começar. Assim que o relógio marcar duas horas da tarde no Brasil, será meia-noite na China. Nesse exato instante, do outro lado do mundo, os chineses juntarão as mãos e os mais pirotécnicos fogos de artifício riscarão o céu anunciando que o Ano do Coelho tem início. Ligado à lua, o coelho simboliza a felicidade e a sorte e promete trazer calmaria, diferente do ano que chega ao fim, regido pelo Tigre.  

O Brasil também vai festejar a chegada do Ano do Coelho. Além das festas realizadas nas comunidades orientais como o Bairro da Liberdade, o vão do MASP – Museu de Arte de São Paulo vai oferecer uma programação especial e gratuita a partir do meio-dia desta quarta-feira. Apresentações de artes marciais, música chinesa ao vivo e as tradicionais danças do Dragão e do Leão serão algumas das atrações. Até às 15h, quem passar pelo local da festa também poderá conferir exposições de ideogramas, demonstrações de caligrafias e a distribuições de kits com enfeites chineses, mensagens de prosperidade e o tradicional Hong Pao (envelope vermelho).

E como em todo reveillon que se preze, vai ter até contagem regressiva através de um painel que, exatamente às 14h, dará boas vindas ao novo ano. Para completar, às 19h, uma cerimônia na Assembléia Legislativa terá a presença de autoridades e representantes da comunidade chinesa. Ali, haverá mais dança e música típica, além de sorteios de bolsas de estudos e passagens para a China. Se puder, vá lá aproveitar a festa e… Feliz Ano Novo!

Sobre a China, a L&PM publica:

50 Fábulas da China fabulosa

Contos sobrenaturais chineses

China: uma nova história

Escrita chinesa