Flávio Tavares* tem 78 anos e uma história de luta contra o regime militar que governou o Brasil a partir do golpe de 1964. Ele estava entre os presos políticos que foram trocados pelo embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick, sequestrado pelo MR-8 em 1969. Nos anos 1970, esteve exilado no México, onde nasceu seu filho Camilo, o diretor do documentário O Dia que Durou 21 Anos. Flávio Tavares assina a produção e é também o autor das entrevistas vistas ao longo do filme. A pedido do Jornal Zero Hora, ele enviou o depoimento a seguir sobre o projeto:
“Descobrir segredos nos faz voltar à juventude e assim ocorreu com ‘O Dia que Durou 21 Anos’. A partir de velhos documentos que eu guardara desde 1977, no governo Carter, meu filho Camilo pesquisou os arquivos norte-americanos e lá encontrou coisas estarrecedoras sobre o golpe de Estado de 1964, que instituiu a ditadura no Brasil. Naqueles anos, eu era colunista político em Brasília da Última Hora, o único jornal que não apoiou o golpe, mas não sabia da dimensão e da profundidade da participação direta dos Estados Unidos. Achávamos que, no máximo, eles tinham ‘simpatizado’ com o golpe militar e, depois, mantido a ditadura, até que em 1977 o presidente Jimmy Carter mudou o rumo e a verdade começou a surgir. O filme revela o que se escondeu durante quase meio século. O golpe que levou à ditadura foi arquitetado pelo governo dos EUA e pela CIA em todos os detalhes. A esquadra dos Estados Unidos se mobilizou pelo mar e até a escolha do general Castelo Branco como presidente surgiu de sugestão do adido militar dos EUA, coronel Vernon Walters, que preparou as operações, sob as ordens do embaixador Lincoln Gordon. Parece fantasia, mas é verdade. Os norte-americanos documentam tudo e gravam até as conversas do presidente com seus assessores na Casa Branca, tal qual mostra o filme. Ao iniciar o longa-metragem, Camilo, o diretor, queria saber por que nascera no exílio, no México, e não na terra dos seus pais. Acabou revelando o passado oculto do Brasil, e eu próprio voltei a 1964, quando tinha 30 anos. Voltei à mocidade por saber da verdade.” (Flávio Tavares)
(O texto acima faz parte da matéria publicada em 28 de março de 2013 no Segundo Caderno do Jornal Zero Hora, que traz três páginas sobre o documentário O Dia que Durou 21 anos que estreia amanhã em várias capitais do Brasil).
Veja o trailer do filme:
Confira as salas em que o filme será exibido a partir do dia 29 de março:
São Paulo – Espaço Itaú e Reserva Cultural
Rio de Janeiro – Circuito Estação
Brasília – Espaço Itaú e Cine Cultural Liberty Mall
Porto Alegre – Espaço Itaú
Curitiba – Espaço Itaú
Florianópolis – Cine Spaço
Salvador – Espaço Itaú e Sala de Arte
*Pela L&PM Editores, Flávio Tavares publica Memórias do esquecimento (2012, Coleção L&PM Pocket) e 1961 – O golpe derrotado (2011, L&PM Editores). O documentário O Dia que Durou 21 Anos, produzido por ele e dirigido por seu filho Camilo Tavares, conta a história do acidentado caminho da democracia brasileira, golpeada em um “Dia D” peculiar, iniciado em 31 de março e encerrado no dia 1º de abril de 1964. O trabalho conjunto entre pai e filho deu origem a um documentário essencial para preencher uma lacuna que segue presente na memória do país.