Imagine colocar lado a lado Sylvester Stallone, Jane Fonda, Michael Jackson, Madonna, Boy George, Mick Jagger, David Byrne, John Travolta, Farrah Fawcett, Ronald Reagan, Calvin Klein, William Burroughs e Truman Capote. Que salada mista, hein? Pois é exatamente o que faz América, livro que traz fotos que o artista pop Andy Warhol fez nas décadas de 70 e 80.
Mas nem só de celebridade vive as páginas de América. Warhol também fotografou cenas das ruas de Nova York e do Texas para mostrar que a arte fotográfica pode estar em todas as esquinas.
Américajá está sendo distribuído para as livrarias e é um ótimo presente para o Dia dos Pais. Desde que seu pai seja um cara que curta fotografia, é claro.
Andy Warhol tinha verdadeiro fascínio por celebridades. Tanto que, entre os anos 70 e 80, o papa da pop arte fotografou todos os famosos que andavam pela Big Apple. Entre eles, claro, estava Michael Jackson, o jovem astro da música que andava pela cidade para anunciar a nova turnê de seu grupo The Jacksons numa grande e disputadíssima coletiva de imprensa no Central Park.
Sempre com sua câmera fotográfica a postos, ele estava lá e fez várias imagens no dia. Algumas destas fotos estão no livro America, que deve chegar às livrarias do Brasil em julho pela L&PM.
The Jacksons durante coletiva de imprensa no Central Park
Michael Jackson no livro "America" de Andy Warhol
Mais tarde, depois que o grupo The Jacksons se desfez e Michael partiu rumo aos píncaros do sucesso em carreira solo, ele foi tema das famosas séries de serigrafias de Andy Warhol. O retrato feito em 1984, que estampou uma das capas da revista Time daquele ano, foi vendido em 2009, pouco depois da morte do cantor, por um valor que até hoje não foi revelado.
Michael Jackson por Andy Warhol (1984)
Michael Jackson também é personagem de Diários de Andy Warhol. No dia 2 de fevereiro de 1977, ele contou à amiga Pat Hackett como eles se conheceram:
(…) às 11h Catherine e eu fomos até o Regine’s para entrevistar Michael Jackson, do Jackson 5. Agora ele está muito alto e com uma voz realmente aguda. (…) Toda a situação era engraçada, porque na verdade Catherine e eu não sabíamos nada sobre Michael Jackson e ele não sabia nada sobre mim – ele pensou que eu fosse um poeta ou algo assim. Por isso ele me fez perguntas que alguém que me conheça jamais faria – por exemplo, se eu era casado, se eu tinha filhos, se minha mãe está viva… (risos) Eu disse “Ela está num asilo”.
A Caixa Econômica Federal refilmou o comercial em que Machado de Assis aparecia tão branco quanto o Michael Jackson. Mas parece que agora, talvez para evitar novos protestos, o pessoal não teve dúvida: escolheu um ator negro. Não mulato, como Machado era de fato – filho de mãe açoriana com pai também mulato -, mas preto mesmo, da cor do Morgan Freeman. Aliás, se o novo Machado da Caixa tivesse talento, a gente até poderia dizer que ele era uma versão brasileira do oscarizado ator norteamericano. Mas o coitado parece ter sido dublado pelo ex-presidente Lula: tem a língua presa! Alguém sabe me dizer se Machado de Assis tinha a língua presa? Sei que ele era epilético, mas nunca ouvi nada a respeito de problemas de fala.
A iniciativa da Caixa Econômica Federal de, nos seus 150 anos, fazer uma campanha publicitária embasada na história, com certeza é elogiável. Resgatar episódios e personagens do Brasil é um gesto nobre. O problema é que, em suas produções de apelo histórico, a Caixa (na verdade, a agência de propaganda que criou os roteiros), não parece ter se preocupado muito com os detalhes. Fora o caso da cor do nosso maior escritor (branco demais, preto em exagero…), há outros deslizes que, para um espectador desavisado, acabam passando despercebidos. Mas que, na verdade, fazem toda a diferença.
Por exemplo: a data que aparece no início do comercial é “Setembro de 1908”. Basta consultar qualquer biografia básica de Machado de Assis (até a Wikipedia!) para descobrir que ele morreu em 29 de setembro daquele ano e que, no mês anterior, já estava convalecendo em casa. Em setembro de 1908, o escritor jamais iria à Caixa fazer depósito em sua caderneta de poupança. Aliás, para que ele guardaria dinheiro se já suspeitava que iria morrer (tanto era assim que escreveu cartas de despedida aos amigos)?
Mais uma coisa: a cena que mostra ele escrevendo seu testamento também é uma falácia. A caderneta de poupança de Machado estaria na primeira versão de seu testamento, escrito em junho de 1898. E mesmo que essa cena se referisse ao seu último testamento, datado de 1906, a impressão que temos é de o episódio mostrado se passa também em 1908.
Mesmo com licenças poéticas, estes são detalhes que não deveriam e não poderiam ter passado despercebidos por uma instituição do porte e da importância da Caixa Econômica Federal. Até porque, no lugar de servir de exemplo para os alunos de nossas escolas, o banco vai acabar sendo motivo de piada dentro da sala de aula. Isso se o pessoal perceber os erros, é claro.