Assim, conta ela, era uma vez uma menininha pobre nascida às nove e meia da manhã do dia 1º de junho de 1926 na enfermaria do Hospital Geral de Los Angeles. Um bonito bebê, explodindo de saúde, de pele muito branca, com alguns cachinhos castanho-claros e olhos incrivelmente azuis. Do lado materno, um bisavô suicida, um avô que morreu louco, uma avó ciclotímica, alcoólatra e maníaco-depressiva. A mãe, por sua vez, era instável e sujeita a diferentes psicoses. Quanto à ascendência paterna, tudo é possível. A menininha não tem pai. O declarado, Martin Edward Mortensen, de endereço desconhecido, é simplesmente um nome vazio, sem rosto. O verdadeiro pai morreu, ou se mandou sem avisar, ou mesmo ignorava ser o pai. Talvez tenha preferido não saber. Gladys Baker, a mãe, não conhece verdadeiramente amores duradouros. Saberia com certeza quem a engravidara?
(…) Gladys quer ficar com ela. Fica com ela. É sua revanche, sua recompensa arrancada das noites de espera frustrada, das promessas quebradas, dos dois filhos que lhe tomaram. É seu filme na grande tela. Pois será uma menina e um dia uma star de cinema. É o desejo de Gladys e ela lhe dá o nome de suas atrizes preferidas: Norma Shearer – ou seria Norma Talmadge? -, com quem ela acha que se parece um pouco, e Jean Harlow, nome ao qual ela acrescenta um e porque é o costume no Oeste.
Norma Jeane.Norma Jeane, filha do abandono mais que do amor, do desespero mais que do desejo, de um capricho mais que de uma necessidade.*
Marilyn Monroe nunca conseguiu se desligar totalmente do nome escolhido pela mãe. A carência latente e a sensação de abandono sempre estiveram com ela, mesmo quando não havia dúvidas de que havia se tornado a mulher mais desejada do planeta. Se viva fosse, Marilyn seria uma octogenária festejando seu aniversário hoje. Encontrada morta no dia 5 de agosto de 1962, ela jamais envelheceu.
*Os trechos iniciais do post fazem parte do livro Marilyn Monroe, de Anne Plantagenet, Série Biografias L&PM.