Morreu dia 30 de abril, aos 99 anos na Argentina, Ernesto Sábato, um dos maiores escritores latinoamericanos de todos os tempos. Foi um dos poucos a enfrentar a perigosa e assassina ditadura argentina. Neste embate, confrontou-se com outro gênio, Jorge Luis Borges, que apoiava a ditadura.
Curiosamente, Sábato começou a vida como cientista. Formou-se em física pela Universidade de Buenos Aires, fez doutorado e teve uma passagem pelo reconhecido Laboratório Curie de Paris e pelo Instituto Tecnológico de Massachussets, onde realizou trabalhos sobre radiações atômicas. Após a segunda guerra, abandonou a ciência e passou a dedicar-se exclusivamente à literatura. Deixou entre muitos outros livros, três romances geniais: O túnel (1961), Entre Heróis e Tumbas (1961) e Abadon, o exterminador (1971).
Humanista, auto intitulado anarquista, teve a coragem de fazer o grande levantamento da tragédia causada pela ditadura argentina. Seu célebre livro Nunca Mais foi um marco nas lutas democráticas na América Latina, quando 90% dos países eram dominados pelas ditaduras. Publicado no Brasil em 1985 pela L&PM Editores, ele faz um inventário emocionado dos crimes da ditadura argentina, narrando episódios de sequestros, torturas e assassinatos com os respectivos nomes das vítimas. Por questões de trabalho, trocamos intensa correspondência com Sábato. Ele sempre nos atendeu, gentil e atencioso. E no alto de suas cartas, impressionava poeticamente o nome de sua cidade no interior da Argentina: Santos Lugares.
Ernesto Sábato viveu um século. Uma vida muito longa onde esteve próximo de todo o mal que os homens podem causar aos seus semelhantes. Talvez por isto tenha sido este grande humanista, defensor intransigente das liberdades e dos direitos da pessoa humana. (Ivan Pinheiro Machado)