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Carta escrita por Kafka revela fobias do escritor

Folha de S. Paulo – 11/12/2012

Uma carta de quatro páginas que o escritor Franz Kafka (1883-1924) escreveu em 1917 e em que confessa, entre outras fobias, seu pavor de ratos, foi arrematada em leilão na Alemanha por uma quantia não especificada.

A carta, enviada ao amigo Max Brod com selo do dia 4 de dezembro, esteve durante décadas na mão de colecionadores particulares, mas o Arquivo Literário Alemão, com sede na cidade de Marbach, no sul do país, pretende exibí-la a partir de abril de 2013.

O objeto deverá ser a estrela da exposição “Os Ratos de Kafka”, que vai reunir manuscritos do famoso escritor.

Segundo fonte do Arquivo Literário Alemão, a carta foi à leilão com o preço mínimo de € 42 mil (cerca de R$ 113 mil).

Escritor Franz Kafka com a irmã, Ottla, em uma praça no centro histórico de Praga, na atual República Checa

De Franz Kafka, a L&PM publica Um artista da fome, O processo, A metamorfose e Carta ao pai.

O pequeno Kafka

Nascido em 3 de julho de 1883, Franz Kafka não foi um menino muito diferente dos outros. Filho da burguesia, sempre sob o cuidado de empregadas, ele é descrito como pacato, estudioso, com boas notas. Mais tarde, no entanto, ele revelaria que tinha verdadeiro pavor de ir à escola. Do garoto obediente, brotou um escritor excepcional, mas ao mesmo tempo atormentado. Noivo hesitante e sedutor impenitente, esportista talentoso, hipocondríaco e vegetariano, judeu descrente e entusiasta da cultura iídiche e do impulso sionista, fiel a sólidas amizades, apaixonado pela vida e assombrado pela morte, Kafka sempre foi um mistério para si e para os outros.

Em homenagem ao pequeno Kafka – e para lembrar a infância de muitos de nós -, aqui vai um presente para os fãs da literatura kafkaniana, um “Paper Doll” para você recortar e, quem sabe, brincar com ele.  É só clicar nas imagens para ampliá-las.

 

De Franz Kafka, a Coleção L&PM Pocket publica A metamorfose/O veredictoO processo, Cartas ao pai e Um artista da fome. Kafka também é um dos livros da Série Biografias L&PM.

Autor do dia: Franz Kafka

Praga, Tchecoslováquia, 1883 – † Kierhing, Áustria, 1924

Judeu de classe média, começou a escrever aos quinze anos, embora a maior parte de sua obra tenha sido publicada postumamente. Viveu sua infância em um clima opressivo, dominado pela figura tirânica do pai. Personalidade complexa, tímido, funcionário público exemplar, conviveu com intelectuais, participando reservadamente da vida cultural. Seus trabalhos só foram enviados a editoras e jornais depois da insistência de admiradores, como o conterrâneo Max Brod, responsável pela divulgação de sua obra. Esta começou a ganhar espaço durante os anos 1920, por intermédio de André Breton e, mais tarde, de Jean-Paul Sartre e Albert Camus, chegando aos países de língua inglesa. Seus livros, proibidos durante a Segunda Guerra Mundial, retornaram à Alemanha apenas em 1950. Dentre esses, os mais conhecidos são A metamorfose e O processo. Sua obra é considerada um dos pontos altos da literatura fantástica, com destaque para o modo como o absurdo irrompe o cotidiano e o desestabiliza.

Obras principais: A metamorfose, 1916; Na colônia penal, 1919; Carta ao pai, 1919; Artista da fome, 1924; O processo, 1925; O castelo, 1926

FRANZ KAFKA por Antonio Hohlfeldt

Kafka viveu entre o final do século XIX (nasceu em 1883) e as três primeiras décadas do século XX  (morreu em 1924). Assistiu, pois, à passagem dos séculos, mas, principalmente, à Revolução Russa e à Primeira Guerra Mundial. Judeu, natural de Praga, experimentou na carne a marginalização sob todos os seus aspectos: Praga era a capital de uma nação relativamente artificial (afinal, a Tchecoslováquia fazia parte do Império Austro-Húngaro – ele mesmo, Franz, falava alemão), e os judeus, em qualquer tempo e em qualquer lugar, sempre foram perseguidos ou sofreram desconfiança por parte dos demais segmentos populacionais. Some-se a esses aspectos culturais e históricos um aspecto psicológico pessoal: o sentimento de apartamento que marcou o adolescente e o adulto, fato que se confirma ao serem lidos seus Diários ou a famosa Carta ao pai.

Perto de morrer, Kafka queria que seus escritos fossem destruídos. Felizmente, seu principal amigo, Max Brod, descumpriu essa vontade, e hoje a obra de Franz Kafka, lida e debatida constantemente, constitui-se em um dos mais radicais e contundentes documentos sobre a modernidade, a tentativa de afirmação da racionalidade e, ao mesmo tempo, a vitória da irracionalidade. Kafka ilustra toda a teoria freudiana da psicanálise (veja-se O castelo ou A metamorfose), mas, sobretudo, evidencia a fragmentação da consciência do homem moderno, uma esquizofrenia que impede a auto-imagem, a afirmação da identidade e, portanto, toda e qualquer realização afirmativa.

Além disso, antecipa os sistemas de força que negariam a individualidade, como o socialismo soviético,  que começava a ser então edificado, ou o nazismo, que logo depois tomaria conta da Alemanha, matizado pelo fascismo de Mussolini na Itália, etc. Em síntese, Kafka foi moderno porque sua literatura surpreende a inadequabilidade do ser humano ao mundo crescentemente maquinizado, onde as pessoas se tornam máquinas, robôs, coisas, instrumentos de poder, negadas em sua essência e em sua identidade. Para bem se ler Kafka, por isso mesmo, deve-se levar em conta tanto a chave psicanalítica quanto a histórico-cultural.

Guia de Leitura – 100 autores que você precisa ler é um livro organizado por Léa Masina que faz parte da Coleção L&PM POCKET. Todo domingo,você conhecerá um desses 100 autores. Para melhor configurar a proposta de apresentar uma leitura nova de textos clássicos, Léa convidou intelectuais para escreverem uma lauda sobre cada um dos autores.

O amigo de Kafka

A grande metamorfose de Kafka aconteceu em 3 de junho de 1924 quando, depois de muito sofrimento causado pela Tuberculose, ele finalmente descansou. Robert Klopstock, seu grande amigo, acompanhou os últimos dias do escritor, como mostra o trecho do livro Kafka, série Biografias L&PM.

Às quatro horas da manhã, Dora chama Klopstock ao quarto, porque Franz respira muito mal. Klopstock tem consciência do perigo e acorda o médico, que faz uma injeção canforada. Então começa a última batalha do escritor, a da morfina. Ele culpa, com raiva, seu amigo, recriminando-o por não querer ajudá-lo: “Você sempre me prometeu, há quatro anos. Você me tortura, você sempre me enganou… Não falarei mais com você. Eu estou morrendo, afinal”. Aplicaram-lhe duas injeções. Na segunda, ele disse: “Não trapaceie, você está me dando um antídoto”. Depois ele disse […]: “Mate-me, senão você é um assassino”. Deram-lhe pantapon, ele ficou feliz: É bom assim, mas mais, mais, você está vendo que não está fazendo efeito”. Depois, ele lentamente adormeceu. Suas últimas palavras foram para sua irmã Elli, Klopstock segurava-lhe a cabeça. Kafka, que sempre teve um medo extremo de contaminar alguém, disse, olhando para o amigo que tomava por sua irmã: “Vamos, Elli, não tão perto”. E como Klopstock se endireitasse um pouco: “Sim, assim, está bem.

Robert Klopstock ainda era estudante de medicina quando interrompeu seus estudos para ajudar a cuidar de Kafka. Seu nome ficaria para sempre ligado ao do autor de A metamorfose, Carta ao pai, O processo, Um artista da fome, entre outros.

Robert Klopstock, o amigo de Kafka que estava ao lado do escritor no dia de sua morte

E foi graças a outro amigo, o escritor e jornalista Max Brod, que a obra de Franz Kafka não se perdeu no tempo. Em 1922, Kafka pediu a ele que destruísse todos os seus escritos após sua morte. Brod não cumpriu a promessa, salvou o que conseguiu, recuperou trabalhos perdidos durante o regime nazista na Alemanha e publicou grande parte dos livros do amigo. À Brod, o nosso muito obrigada. 

Brincando de ser Franz Kafka

Para escrever como Kafka já não é preciso ser gênio. Um grupo de designers analisou os manuscritos de O processo e de outros clássicos do escritor tcheco e criou a fonte FF Mister K, que reproduz a caligrafia de Franz Kafka. Para chegar o mais próximo possível do original, eles criaram várias versões da mesma letra, que permitem simular as variações de tamanho, forma e estilo do fluxo do texto. Não chega a ser uma cópia exata, mas chega bem perto!

Como em qualquer texto escrito à mão, Franz Kafka também rasurava seus manuscritos. Com a fonte FF Mister K, é possível chegar até este nível de semelhança!

Para saber mais sobre a fonte, seus criadores e o processo de criação em detalhes, acesse o site do projeto FF Mister K.

Com tantas facilidades, quem se habilita a ser o novo Franz Kafka e escrever A metamorfose versão-século-21? 😉

via Zupi

Um processo kafkiano

Como se sabe, antes de morrer, Franz Kafka pediu ao amigo Max Brod que destruísse todos os seus escritos para que eles nunca fossem publicados. Felizmente, Brod não atendeu ao pedido e, só na coleção de bolso, estão quatro obras do tcheco.
Bom. Em 1939, pouco antes da invasão nazista, Brod contrabandeou duas malas com cartas, desenhos e manuscritos de Kafka para a Palestina. Depois, em 1956, durante a Crise de Suez, mandou parte desse material para a Suíça. E quando ele, Brod, morreu, os documentos ficaram sob os cuidados de sua namorada, Esther Hoffe. Esther morou em Tel Aviv, capital de Israel, até que também ela morreu três anos atrás. Desde então, as duas filhas dela lutam na justiça pelo direito de ficar com os pertences de Kafka. E elas inclusive já venderam alguns, incluindo o manuscrito de O processo, para o Arquivo da Literatura Alemã. O governo de Israel alega que os documentos devem estar acessíveis ao povo israelense e move uma ação para garantir que eles sejam mandados à Biblioteca Nacional do país.

Isso tudo para dizer que ontem foram abertas em Zurique as quatro caixas que continham o material enviado por Brod à Suíça 50 anos antes. Ninguém sabe exatamente qual é o conteúdo das caixas, já que as irmãs israelenses impediram que qualquer relatório fosse aberto à imprensa. Mas sabe-se, por exemplo, que algumas páginas de Carta ao pai e um texto ressentido que Kafka escreveu em 1919 – e que parece ser uma peça-chave para entender a sua obra – fazem parte do conteúdo.
A decisão da justiça sobre tornar público ou não o conteúdo das caixas deve ser divulgada em breve.

Com informações do The Guardian.