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Um dia que tem a cor do arco-íris

28 de junho é o Dia Internacional do Orgulho LGBT+. Para marcar o dia, postamos aqui alguns trechos de livros de escritores que tinham muito orgulho de ser o que eram:

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O cheiro abafado e ligeiramente doce de seu perfume atingiu Therese de novo, um cheiro que lembrava seda verde-escura, que era só dela, como o perfume de alguma flor especial. Therese inclinou-se mais em sua direção, olhando para seu copo. Ela queria empurrar a mesa para um lado e pular nos braços dela, enterrar seu nariz no cachecol verde e dourado que estava bem atado em volta do pescoço dela.  (Patricia Highsmith, do livro Carol)

* * *

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Estou feliz, Kerouac, seu louco Allen
finalmente conseguiu: achou um cara novo
e minha imagem de um garoto eterno
passeia pelas ruas de San Francisco,
lindo, e me encontra nas cafeterias
e me ama. Ah, não pense que estou maluco.
Você está zangado comigo. Pelos meus amantes?
É duro comer merda, sem ter visões;
quando eles me olham, para mim é o Paraíso.
(Allen Ginsberg, do livro Uivo e outros poemas)

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– Ele gosta de mim. Sei que gosta. É claro que eu o lisonjeio demais, e sinto um prazer estranho em dizer coisas de que estou certo que vou me arrepender. Como norma, ele é delicado comigo, nós nos sentamos no ateliê e conversamos sobre uma porção de coisas. De vez quando, porém, ele é muito descortês, e parece sentir prazer em me causar dor. Nessas horas, Harry, sinto que sou tratado como uma flor de lapela, uma peça de decoração para deleitar-lhe a vaidade, um ornamento de um dia de verão. (Oscar Wilde, do livro O retrato de Dorian Gray)

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Eu queria aquele corpo de homem sambando suado bonito ali na minha frente. Quero você, ele disse. Eu disse quero você também. Mas quero agora já neste ins­tante imediato, ele disse e eu repeti quase ao mesmo tempo também, também eu quero. Sorriu mais largo, uns dentes claros. Passou a mão pela minha barriga. Passei a mão pela barriga dele. Apertou, apertamos. As nossas carnes duras tinham pêlos na superfície e músculos sob as peles morenas de sol. Ai-ai, alguém falou em falsete, olha as loucas, e foi embora. Em volta, olhavam. (Caio Fernando Abreu, do livro Morangos Mofados)

“Satíricon”: a sátira das sátiras

Eis a mais celebrada obra literária em prosa da Antiguidade com nova tradução, direta do latim, feita por Alessandro Zir. O enredo de Satíricon começa em Nápoles, numa escola de retórica, na qual um jovem adulador e golpista chamado Encólpio busca, por intermédio do seu professor, Agamênon, ser convidado para um banquete na casa de Trimalquião, um ex-escravo, agora novo-rico. Outras pessoas de índole duvidosa se juntarão a essa verdadeira trupe de homens de pouca moral, encontrando outros personagens  – todos eles devidamente parodiados, satirizados, ironizados.

Satiricon

Como bem conta João Angelo Oliva Neto na apresentação da edição que agora chega à Coleção L&PM Pocket, a obra de Petrônio está presente em livros célebres de outros escritores

Satíricon interessou a importantes escritores modernos, que de diferentes maneiras se servem do livro. Oscar Wilde, em O retrato de Dorian Gray (1890), não mencionou personagens de Satíricon, mas sim o próprio Petrônio! A certa altura diz o narrador:

“Tendo descoberto que poderia ser, para a Londres de sua própria época, o que o autor de Satíricon fora para a Roma imperial de Nero, bem no íntimo do coração, porém, Dorian desejava ser algo mais que um mero elegantiarum arbiter a ser consultado sobre o uso de determinada joia, ou sobre o nó de uma gravata, ou sobre o modo de conduzir uma bengala.”

Na década de 1920, T.S. Eliot encontrou numa passagem do infernal banquete de Trimalquião a epígrafe para seu poema “A terra devastada”, e na mesma época F. Scott Fitzgerald, em O grande Gatsby, fez de seu herói, também ele novo-rico e dissipador, uma espécie de Trimalquião contemporâneo, tanto que o primeiro título que Fitzgerald dera ao romance foi Trimalchio. Em 1969 foi lançado o filme Satíricon, de Frederico Fellini, em que o banquete é central. 

Pela graça ou pela crítica, pela narrativa ou pela forma de narrar, pelas personagens ou pela paródia, Satíricon há de agradar ao leitor, fazê-lo rir, como quem ri da desgraça alheia. Mas lembro aqui palavras de outro satirista romano, Horácio, que disse: “Do que você está rindo? É só mudar o nome, e esta sátira estará falando de você mesmo!”. 

Oscar Wilde poderia ter morrido de amor

Já postamos aqui neste blog o obituário de Oscar Wilde, publicado no The New York Times em 01 de dezembro de 1900. O anúncio de falecimento comunicava que o escritor havia morrido às três da tarde do dia 30 de novembro e que teria vivido os últimos meses sob o nome de Manmoth. O texto dizia ainda que Lord Alfred Douglas estava com ele quando morreu. E que, apesar da causa morte ser meningite, havia a possibilidade do escritor ter cometido suicídio. Segundo seus biógrafos, no entanto, ambas as afirmações parecem não proceder. Nem seu antigo amante estava com ele e nem Wilde teria atentado contra a própria vida.

Nascido em Dublin no ano de 1854, o autor de O retrato de Dorian Gray viu sua vida mudar ao ser  acusado e processado pela família de “Bosie”, como era chamado Lord Alfred Douglas, o jovem aristocrata por quem Wilde se apaixonou. Condenado a trabalhos forçados que consumiram sua saúde e sua reputação, Oscar Wilde exilou-se em Paris e acabou seus dias pobre e no anonimato.

Oscar Wilde e Bosie Douglas

“Em 30 de novembro de 1900, o genial e extravagante Oscar Wilde, um dos maiores escritores do século XIX, senão de toda a história da literatura, morreu, aos 46 anos, em meio aos piores sofrimentos, ao anonimato total e à miséria mais absoluta, num quartinho decrépito e gelado de um sórdido hotel parisiense” conta Daniel Salvatore Schiffer em Wilde, da Série Biografias L&PM.

O livro também revela que o último contato que Wilde teve com Bosie veio por carta em 12 de novembro: “Terrivelmente angustiado, porém sem mais nenhuma ligação com a realidade por conta da febre que começava a se apoderar dele, Oscar só conseguia falar, num início de delírio de suas enormes dívidas. Depois, de repente, enquanto Wilde se agitava cada vez mais, Dupoirier irrompeu o quarto. Trazia uma carta. Era um bilhete de Bosie, espantosamente afetuoso, ao qual anexara, depois que Ross lhe informou sobre a misérie na qual vivia seu antigo amante, um cheque de dez libras. Comovido pelo gesto, Wilde deixou algumas lágrimas rolarem.”

A história de amor entre Oscar Wilde e Bosie está contada no filme “Wilde”, de 1997. No papel do escritor está Stephen Fry e como seu jovem amante, Judie Law. Vale ver o trailer:

O nascimento de Oscar Wilde

A criança que nasceu no dia 16 de outubro de 1854 em Dublin, na Westland Row, número 21, e que o mundo logo iria conhecer como o glorioso Oscar Wilde – tanto por seu gênio literário quanto por suas aventuras mundanas – tinha inicialmente um nome com consonâncias ainda mais prestigiosas: Oscar Fingal O’Flahertie Wills Wilde. Pois foi assim que seus pais, William Robert Wilde e Jane Francesca Elgee – ambos pertencentes à antiga burguesia irlandesa protestante e fervorosos nacionalistas -, chamaram seu segundo filho, batizado com esse patrônimo pelo reverendo Ralph Wilde, seu tio paterno, em 26 de abril de 1855. De fato, tal nome de batismo traduz toda uma doutrina, enraizada num poderoso contexto histórico. Oscar, na mitologia céltica, é o filho de Ossian, rei de Morven, na Escócia; enquanto Fingal, irmão de Ossian, é um herói do folclore irlândes. (Trecho inicial de Oscar Wilde, Série Biografias L&PM)

De todos os dândis que encantaram a sofisticada sociedade londrina do final do século XIX, o mais brilhante e luminoso foi sem dúvida Oscar Wilde. Célebre, respeitado, Wilde viveu o ano de 1895 como o grande autor de O retrato de Dorian Gray (1891) e de três peças que faziam sucesso no momento: O leque de Lady Windermere, Um marido ideal e A importância de ser prudente. Neste mesmo ano, acusado de crimes de natureza sexual, foi processado pela família de Lord Alfred Douglas, um jovem aristocrata por quem se apaixonou e com quem compartilhou um excêntrico estilo de vida. Condenado, sua vida mudou radicalmente e o talentoso escritor viu-se encarcerado por dois anos com trabalhos forçados que consumiram sua saúde e fulminaram sua reputação. Na prisão, produziu, entre outros escritos, De profundis, o clássico anarquista, A alma do homem sob o socialismo e a célebre Balada do cárcere de Reading. Cumprida a pena, decidiu exilar-se em Paris em 1898 onde morreu em 30 de novembro de 1900.

Morrissey e Oscar Wilde

Morrissey, o vocalista da banda The Smiths, é fã assumido de Oscar Wilde. Tanto que o documentário que conta sua história de vida, lançado em 2003, se chama “A importância de ser Morrissey”, um trocadilho com um dos livros de Wilde chamado A importância de ser Prudente. Além disso, algumas fotos antológicas mostram o tamanho da paixão do velho Moz pelo autor de clássicos como O retrato de Dorian Gray, olha só:

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Legos literários

Como o Dia da Criança passou há pouco por nós, ainda estamos no clima de brincadeira. É por isso que separamos alguns Legos que parecem saídos diretamente das páginas de alguns clássicos. Separamos aqui algumas histórias que fazem parte do catálogo L&PM:

"Romeu e Julieta", de Shakespeare

“Romeu e Julieta”, de Shakespeare

"O retrato de Dorian Gray", de Oscar Wilde

“O retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wilde

"O grande Gatsby", de F. Scott Fitzgerald

“O grande Gatsby”, de F. Scott Fitzgerald

"Assassinato no Expresso Oriente", de Agatha Christie

“Assassinato no Expresso Oriente”, de Agatha Christie

"Drácula", de Bram Stoker

“Drácula”, de Bram Stoker

"Orgulho e preconceito", de Jane Austen

“Orgulho e preconceito”, de Jane Austen

"O médico e o monstro", de Robert Louis Stevenson

“O médico e o monstro”, de Robert Louis Stevenson

Via http://lego-stories.tumblr.com/

Nanini estreia peça inspirada em Wilde

Em 1895, Oscar Wilde foi preso e obrigado a realizar trabalhos forçados, acusado de sodomia e outros “crimes sexuais”, pelo marquês de Queensberry, pai de Lord Alfred Douglas Bosie, na época namorado do escritor. A partir do dia 29 de agosto, a prisão de Wilde – descrita em detalhes no livro De Profundis – volta como pano de fundo de uma peça estrelada por Marco Nanini. “Beije minha lápide” é o nome do espetáculo que inicia sua temporada no Centro Cultural Correios no Rio de Janeiro.

No cenário, uma grande redoma de vidro fará referência à verdadeira lápide de Oscar Wilde – que precisou ser isolada porque, de tanto receber beijos, estava sendo corroída pela acidez das salivas. Bala, o personagem fictício vivido por Nanini é um dos fãs revoltados com essa redoma e, por ter quebrado a barreira, acabou na prisão. E é encarcerado nessa caixa de vidro que a história de Bala confunde-se com a de Wilde.

Marco Nanini é um profundo admirador da obra do autor de O retrato de Dorian Gray e em entrevista ao jornal O Estadão afirmou que sempre ambicionou levar Oscar Wilde ao teatro, mas que jamais quis adaptar algum de seus trabalhos ou mesmo interpretar o escritor. “Eu queria algo que traduzisse a sua essência.”

O roteiro da peça é de Jô Bilac, a direção de Bel Garcia e a cenografia de Daniela Thomas. No elenco, estão também Carolina Pismel, Júlia Marini e Paulo Verling que vivem as únicas pessoas com quem Bala tem contato: sua filha, o carcereiro e uma advogada.

O texto traz diversas passagens das obras de Wilde.

Marco Nanini passa a peça inteira dentro de uma redoma de vidro. Foto: Dani Dacorso (Jornal o Globo)

Marco Nanini passa a peça inteira dentro de uma redoma de vidro. Foto: Dani Dacorso (Jornal o Globo)

Serviço — “Beije minha lápide”

Onde: Centro Cultural Correios — Rua Visconde de Itaboraí, nº 20 (2253-1580)

Quando: De 29/08  a 5/10. Sex a dom, às 19h

Quanto: R$ 20,00

Classificação: 16 anos

19 de maio de 1897: Oscar Wilde sai da prisão e vai para o exílio

Dois anos depois de ser preso por atentado ao pudor, Oscar Wilde sai da prisão. A acusação que o levou à condenação ao cárcere com trabalhos forçados foi feita pelo marquês de Queensberry, pai de Bosie, na época namorado do escritor. O livro “Oscar Wilde“, de Daniel Salvatore Schiffer, Série Biografias L&PM, conta como foi este 19 de maio de 1897 na vida do autor de O retrato de Dorian Gray:   

Ao chegar à capital inglesa, desceu numa discreta estação do subúrbio, Westbourne Park, onde um segundo carro o esperava para levá-lo ao presídio de Pentonville, onde passou sua última noite preso. Foi nesse lugar, o mais maldito de todos, onde ele se matava a fazer rodar o terrível moinho de disciplina, que os mesmos guardas que o receberam no dia seguinte de seu processo entregaram-lhe agora, prontamente, seus objetos pessoais e suas roupas que ele deixara lá, dois anos antes, no início de seu encarceramento. Na manhã seguinte, as seis e quinze do dia 19 de maio de 1897, as portas lhe foram afinal abertas. Wilde estava definitivamente livre!

À sua saída da prisão o esperavam, numa carruagem, More Adey e Stewart Headlam, aquele pastor que se oferecera para pagar metade de sua fiança. O encontro foi tão caloroso quanto comovente. Então, o carro dirigiu-se diretamente para a residência de Headlam, na Upper Bedford Place, 31, no bairro de Bloomsbury, onde Wilde mergulhou de imediato num banho quente, trocou de roupas e tomou um farto desjejum. Os Leverson vieram reunir-se a ele, na mesma manhã, assim que se instalou na casa do reverendo. Eis como Ada se lembra, muitos anos depois, desse instante em que Wilde, que não perdera nada de sua verve nem de sua galanteria, reapareceu rependinamente diante dela, como se voltasse de uma longa viagem, com seu garbo habitual:

Ele entrou falando, rindo, fumando um cigarro, com os cabelos ao vento, uma flor na lapela e o aspecto nitidamente melhor, mais esbelto e mais jovem do que dois anos antes. Suas primeiras palavras foram: “Sphinx, como é maravilhoso que tenha sabido exatamente que chapéu convinha usar às sete da manhã para receber um amigo ao fim de sua ausência”! […] Manteve por algum tempo uma conversa leve, depois escreveu uma carta e mandou-a entregar de carruagem num monastério vizinho, perguntando se poderia fazer um retiro ali durante ses meses. […] Não poderiam aceitá-lo nesse monastério sob um impulso de momento. […] Na realidade, recusaram-no. Então, ele desabou soluçando amargamente.

(…)

Rejeitado agora por toda parte, incluindo as instituições que se pretendiam mais caridosas, e também repudiado pela maior parte de seus colegas, inclusive espíritos tão subversivos quanto Whistler ou Pater, e portanto irrevogavelmente banido da sociedade, Wilde deixou naquele mesmo dia a Inglaterra, que não reveria nunca mais, para se refugiar na França, onde morreria três anos mais tarde na mais completa miséria. De suas primeiras e dramáticas horas de viagem para esse exílio definitivo, mais do que uma liberdade ilusória, foi Robert Ross quem fez o relato mais fiel e mais comovente:

Como o vapor entrava deslizando no porto, a alta silhueta de Wilde, que dominava os outros passageiros, foi-nos facilmente reconhecível, do grande Crucifixo do cais onde estávamos empoleirados. Aquele ponto de referência tinha para nós um alcance simbólico impressionante. Precipitamo-nos imediatamente para o pontilhão: Wilde nos reconheceu, fez-nos um sinal com a mão e seus lábios delinearam um sorriso. Seu rosto perdera a rudeza e ele recobrara o aspecto que devia ter em Oxford, nos tempos em que eu ainda não o conhecia e que não vimos mais nele a não ser em seu leito de morte. Muitas pessoas, mesmo seus amigos, achavam sua aparência quase repulsiva, mas a parte superior de seu rosto era extraordinariamente inteligente e bela. Tivemos que esperar o fim das irritantes formalidades de praxe; então, com essa singular cadência pesada que nunca vi em outra pessoa, Wilde desceu majestosamente a rampa. Ele segurava entre as mãos um grande envelope lacrado. “Eis, meu caro Robbie, o importante manuscrito cujo conteúdo você conhece.” […] O manuscrito era evidentemente De profundis 

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Encontrada carta em que Oscar Wilde dá conselhos a um aspirante a escritor

Uma carta nunca antes revelada, escrita pelo irlandês Oscar Wilde (1854-1900), foi descoberta em uma caixa empoeirada na parte de trás de um velho guarda-roupas, na Inglaterra.

O documento tem 13 páginas e não está datado, mas estima-se que tenha sido escrito por volta de 1890, quando Wilde estava se tornando um dos dramaturgos mais famosos de Londres.

Dirigida a um aspirante a escritor não identificado – que pede conselhos de como ser bem sucedido – Wilde escreveu que “o melhor trabalho na literatura é sempre feito por aqueles que não dependem dela para ganhar o pão de cada dia”. Outro conselho do autor de O retrato de Dorian Gray é “faça algum sacrifício por sua arte e você será reembolsado…”

Duas das páginas da carta de Oscar Wilde

Duas das páginas da carta de Oscar Wilde

Junto com a carta foi encontrado o primeiro rascunho do soneto “The New Remorse” (“O novo remorso”), publicado por Oscar Wilde – sob outro título – em 1887. O esboço do poema foi escrito por Wilde para seu novo amante na época, Lord Alfred Douglas, depois de terem acabado de se conhecer em 1891.

O rascunho de "The New Remorse", escrito por Oscar Wilde

O rascunho de “The New Remorse”, escrito por Oscar Wilde

Os dois documentos pertenceram a Lawrence Hodson (1864-1933), dono de cervejaria vitoriana que recolheu cartas autografadas e manuscritos durante sua vida. Eles foram deixados de herança ​​para sua neta e encontrados por peritos na antiga propriedade da família, em Shippon, perto de Abingdon, Oxon, depois que ela faleceu em novembro passado.

Mike Heseltine, um dos leiloeiros da Bloomsbury de Londres, especializado em manuscritos, disse: “A carta é desconhecida até agora e é completamente fascinante, enquanto a primeira versão de um de seus poemas mais importantes é igualmente emocionante.”

Tanto a carta quanto o esboço do poema irão a leilão esta semana, no dia 4 de abril, junto com outras preciosidades literárias de Hodson. A estimativa é de qua carta de 13 páginas seja vendida por 12.000 libras e o poema por 7.500 libras.

Quem dá mais?

Um retrato da nossa alma

Por Paula Taitelbaum*

Quantos anos eu tinha? Dezessete? Dezoito? Já não tenho mais certeza… Só lembro que entrei em um sebo de Porto Alegre e comprei duas edições muito antigas, puídas, em que as palavras ainda eram escritas com “ph”, ambas assinadas por Oscar Wilde: O retrato de Dorian Gray e O fantasma de Canterwille. Era uma época em que tudo o que era usado e velho me fascinava. As roupas, os móveis, os livros. Passados mais de vinte anos, sigo sendo um pouco assim, atraída pelo que tem jeito de passado. Infelizmente, a rinite já não me faz suportar o cheiro de mofo que vem dos sebos. Mas também não é nada que um bom antialérgico não cure…

Mas voltemos ao que interessa. Cheguei em casa com meu frágil livro de páginas titubeantes e mergulhei afoita na vida do belo Dorian, do pintor Basil, do cínico Lorde Henry e de todos e de tudo que a exuberante imaginação de Oscar Wilde foi capaz de criar. E mesmo que eu não tenha percebido na época a releitura de Wilde para o mito de Fausto – que vende a alma ao diabo em troca dos prazeres do mundo – eu me vi totalmente envolvida com a história do belo Dorian em meio às intrigas da sociedade inglesa do século XIX. 

O retrato de Dorian Gray mostra como a paixão é capaz de capturar a alma e como a vaidade é responsável por criar uma  prisão. Há algo de fantástico e sobrenatural nessa história. Mas também há muito de real em sua metáfora. E diálogos primorosos que chegam a arrepiar de tão espetaculares. “Quando o homem trata a vida com arte, o cérebro é o próprio coração” diz lá pelas tantas Lorde Henry. “Eu não quero saber de nada. Gosto de escândalos dos outros, mas escândalos meus não me interessam, pois não possuem o encanto da novidade.” fala Dorian Gray quando Basil pergunta se é verdade o que andam dizendo sobre ele.

O final do livro, lindo, repleto de tensão, é um dos mais incríveis que já li. E talvez a moral que reste seja a de que, como diria o próprio Dorian Gray, “dentro de nós, todos temos o céu e o inferno.”. Já a pergunta que paira no ar é: “Se nossa alma tivesse rosto, como ele seria?”

Sempre imaginei que a beleza de Dorian Gray deveria ser como a de Lord Byron. Mas cada um que imagine seu próprio Dorian

* Toda semana, a Série “Relembrando um grande livro” traz um texto assinado em que grandes livros são (re)lembrados. Livros imperdíveis e inesquecíveis.