O gato velho
Nada foi feito para mim,
Não, nem mesmo a lareira,
Pois algumas vezes sinto frio e não há fogo,
E outras vezes, não me deixam ir até ali.
Sombras me entediam, e se acaso são um mistério
É bem sem graça. Meus ta-tataranetos
Brincam insensatos ao meu redor, mas eu agora já sei
Que os forros das coisas são apenas forros,
E que atrás da porta entreaberta
Há outra sala como esta aqui.
Gosto de sentar com meus olhos semicerrados,
Porque já vi de tudo
E minhas memórias são bem mais interessantes.
Estou em paz com tudo.
Até os camundongos pode vir a poucos centímetros,
Sabendo que aposentei nossa antiga guerra.
Apenas meus ta-tataranetos
Me irritam às vezes, puxando meu rabo,
Esbarrando e escorregando por cima de mim.
Dou-lhes uns bons tapas nas orelhas,
E volto para onde deixei meus pensamentos,
Estou em paz com tudo.De Patricia Highsmith, Os gatos (Patricia Highsmith faleceu em 04 de fevereiro de 1995, há exatos 17 anos atrás)
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Eu gosto de gatos porque…
Se me pedissem para completar a frase “Eu gosto de gatos porque…”, duvido que ganhasse algum prêmio, mas sei o que gosto neles e por quê. Gosto de gatos porque eles são elegantes e silenciosos, e têm efeito decorativo; uns leõezinhos razoavelmente dóceis, andando pela casa. Poderia dizer que eles são silenciosos na maior pare do tempo, porque um siamês no cio não é silencioso. Acredito que os gatos dão menos trabalho do que os cachorros, embora admita que cachorros, em geral, viajam melhor.
Assim começa o ensaio “Sobre gatos e estilo de vida” de Patricia Highsmith, que era assumidamente apaixonada pelos pequenos felinos. Eles não só a inspiram como ganharam dela uma linda homenagem: três histórias, três poemas, um ensaio e sete desenhos que compõem o livro Os gatos (Coleção L&PM Pocket).
Temos que reconhecer que os bichanos têm algo que combina muito com literatura, pois não há outra explicação para o fascínio que alguns escritores têm por eles como bem mostra outro trecho do ensaio de Patricia:
Raymond Chandler gostava de ter um gato roliço junto dele, ou sobre a escrivaninha. Simenon é frequentemente fotografado com algum de seus gatos, em geral um gato preto. Os gatos oferecem para o escritor algo que outros humanos não conseguem: companhia que não é exigente nem intrometida, que é tão tranquila e em contante transformação quanto um mar plácido que mal se move. (…) Gosto de fazer aniversário no mesmo dia de Edgar Allan Poe: 19 de janeiro. Ele é outro não solteirão que aparentemente gostava de gatos.
Bukowski, Jack Kerouac, Allen Ginsberg, William Burroughs e outros escritores também adoravam os bichanos, como registramos em outro post aqui no blog.
E você, gosta de gatos? Conta pra gente o porquê aí em baixo nos comentários 😉