Arquivo da tag: Oscar

Rubens Ewald Filho e o Dicionário de Cineastas

Essa semana uma notícia deixou todos os fãs de cinema mais tristes. Na quarta-feira, 19 de junho, Rubens Ewald Filho, um dos mais conceituados críticos de cinema do Brasil, nos deixou.

Nem todo mundo sabe, mas a L&PM Editores já teve um livro de Rubens Ewald Filho em seu catálogo. Lançado no outono de 1988, o Dicionário de Cineastas, era um livro capa dura com mais de 600 páginas que fez um grande sucesso e teve uma imensa fila de autógrafos na Bienal do Livro de São Paulo daquele ano. Nos primeiros parágrafos da apresentação do livro, o próprio autor explicou como seu dicionário, que já havia sido lançado por outra editora, acabou no catálogo da L&PM: “Em 1977, lançávamos a primeira edição do Dicionário de Cineastas com a pretensão de cobrir uma falha. Não era definitivo, nem concludente. Mas apenas uma primeira tentativa de se fazer um levantamento dos cineastas mais importantes do mundo. Onze anos depois essa obra ainda não tem similar no Brasil. Por desinteresse do editor original foi tirada apenas uma edição do dicionário, que se esgotou e virou raridade. Foi quando a L&PM, na figura de seu editor Ivan Pinheiro Machado, numa conversa informal no Festival de Gramado, se interessou por um projeto: reeditar o Dicionário.”

E assim nasceu um guia que, na época, foi considerado o mais fiel e completo dos grandes cineastas de todos os tempos, com datas, filmografia completa e elenco. É claro que, hoje, ao folhear suas páginas, sentimos falta de muitos diretores que estrearam depois de 1988 e de tantos filmes que vieram de lá pra cá. Mesmo assim, esta edição feita por Rubens Ewald Filho há mais de 30 anos continua, de alguma maneira, sendo uma preciosidade para os amantes da sétima arte.

Luz, câmera, ação: o “Dicionário de cineastas” posa para foto em uma das prateleiras da editora

 

Sidney Poitier e o Oscar 1968

O ator [Rod Steiger] agradeceu à Academia, a Norman Jewison e ao público, e então respirou fundo. “Por fim, o mais importante de todos”, continuou ele. “Gostaria de agradecer ao sr. Sidney Poitier pelo prazer de sua amizade, que me deu o conhecimento e a compreensão sobre a questão do preconceito de que eu precisava para melhorar minha atuação. Muito obrigado, e nós venceremos.” Quando ele deixou o palco, a plateia estava em polvorosa. Steiger havia quebrado o protocolo – fazer referência a questões políticas em um discurso de agradecimento por uma premiação era algo raríssimo em 1968 – e escolhido o momento perfeito para fazer isso. Quando Bob Hope voltou, os aplausos para Steiger ainda não tinha cessado. “As coisas estão meio tensas, não?”, comentou o mestre de cerimônias enquanto esperava. A seguir, ele anunciou quem apresentaria o próximo prêmio: Sidney Poitier. (Depoimento de Dustin Hoffman que está no livro Cenas de uma revolução)

Clique na imagem e assista ao vídeo do Oscar 1968 com a cena descrita acima

Escrito pelo jornalista norteamericano Mark Harris, Cenas de uma revolução – o nascimento de uma nova Hollywood conta tudo e mais um pouco sobre os bastidores (e os holofotes) dos cinco filmes que concorreram ao Oscar 1968. O ator negro Sidney Poitier estrelava dois destes filmes, No Calor da Noite e Adivinhe quem vem para jantar; e quase co-estrelou um terceiro, Doutor Dolittle, além de ser considerado em 1967 a estrela número um de bilheteria dos EUA. Em entrevista exclusiva para o site L&PM, Mark Harris disse, inclusive que, se tivesse que eleger uma das personagens reais do seu livro como sendo “a mais fascinante”, seria Sidney Poitier. Clique aqui e leia a entrevista completa de Harris. Vale a pena.  

Cinco anos antes do discurso de Rod Steiger, Sidney Poitier havia sido primeiro negro a receber o Prêmio de Melhor Ator no Oscar 1963

E o Oscar de melhor busca vai para…

O Google sabe tudo. Todo o conteúdo disponível na rede mundial de computadores está registrado lá. Ele não perde uma atualização sequer e ainda consegue tornar tudo acessível  por meio de uma busca pra lá de eficiente. Como se não bastasse entender de passado e até de presente – faz buscas em tempo real no Twitter – agora o Google quer buscar o futuro. A primeira investida da empresa no ramo da futurologia diz respeito ao Oscar.

Faltam 10 dias para a grande festa e, provavelmente, os nomes ainda não foram definidos. Mas o Google diz que já sabe quais serão os ganhadores. Com base nas estatísticas de busca dos outros anos, a empresa detectou algumas coincidências, que de tanto se repetirem viraram aposta.

Segundo o Google, nos últimos três anos, o ganhador da categoria de melhor filme apresentou um aumento no volume de buscas nas quatro semanas que antecederam a premiação. Além disso, neste mesmo período houve um aumento no número de buscas feitas a partir da cidade de Nova York. Suspeito, não?

Sendo assim, se o Google realmente estiver com uma bola de cristal nas mãos, os candidatos com mais chances na categoria de melhor filme são A Rede Social (cujo volume de pesquisas aumenta há cinco semanas), Cisne Negro e O Discurso do Rei(os dois com a quantidade de buscas crescendo há quatro semanas). O site Oscar Search Trends foi criado pelo Google especialmente para acabar com qualquer mistério que ainda resta antes da premiação:

Por enquanto, as informações não passam de especulação. Podemos voltar neste assunto após o dia 27 de fevereiro, quando acontece a entrega do Oscar em Los Angeles.

E por falar em Oscar, o livro Cenas de uma revolução, escrito pelo jornalista britânico Mark Harris, chega às livrarias em março. Harris analisa de perto as histórias, os cineastas e as inovações de cinco filmes vencedores do Oscar em 1967 – Bonnie e Clyde, A primeira noite de um homem, No calor da noite, Adivinha quem vem para o jantar e Doctor Doolittle – e transforma tudo isso numa trama repleta de heróis, bandidos, intrigas e romances, em um cenário ao mesmo tempo psicodélico e turbulento. Uma ótima pedida para quem curte cinema e literatura!

9. Um brinde com Woody Allen

Por Ivan Pinheiro Machado*

Quando publicamos Cuca Fundida, em 1978, Woody Allen ainda não era Woody Allen. Se é que me entendem. Só no ano seguinte ele ganharia todos os Oscars a que tinha direito com seu consagradíssimo “Annie Hall”, que no Brasil foi pateticamente batizado de “Noivo neurótico, noiva nervosa”. O livro foi uma indicação de Luis Fernando Veríssimo, sempre muito bem informado sobre literatura americana. Além disso, houve o acaso de eu encontrar em Frankfurt, na Feira de 1977, o agente de Allen. Avalizado pelo então editor da Nova Fronteira, Roberto Rieth Correa, fizemos o segundo contrato internacional da L&PM. Ruy Castro foi o tradutor e lançamos Cuca Fundida no final de 1978. Em março do ano seguinte, Woody Allen foi “Oscarizado” e o livro decolou na lista dos mais vendidos. Depois disso, editamos Sem Plumas e Que Loucura!, hoje reeditados na Coleção L&PM Pocket, e mais os roteiros Manhattan e Play it again Sam, as peças de teatro Lâmpada Flutuante e Adultérios e um livro em quadrinhos, O nada e mais alguma coisa. O Paulo Lima, que como vocês sabem é o “L” da L&PM, estava em Nova York no final dos anos 80 e resolveu arriscar uma segunda-feira no Michael’s, um tradicional pub na 55th Street (East side), onde Woody Allen costuma (ou costumava) tocar seu clarinete acompanhado de sua banda. O Lima é um cara de sorte, habitué de N. York (veja o post em que ele abafou no Limelight como sósia do Spielberg) e achou que era uma noite propícia para o Woody aparecer por lá. Ele nunca avisa quando vai, mas se for, é sempre numa segunda-feira. Não deu outra. Paulo Lima estava recém brindando com sua jovem companhia, quando o astro surgiu no palco. Tocou cerca de uma hora e, em seguida, foi jantar num lugar mais ou menos protegido dos curiosos, no próprio restaurante. Paulo Lima não confessa, mas tenho certeza de que ele quis impressionar sua companhia. Levantou-se e para espanto da moça ele disse “Vou lá bater um papo como o Woody Allen”. Ela gaguejou: “mas e os seguranças?” (havia um par de trogloditas de 2 metros e meio de altura impedindo a aproximação dos curiosos). “Deixa comigo” sussurrou o Lima. E foi na direção da mesa onde Woody Allen jantava com Mia Farrow e um casal de amigos, Kirk Douglas e sua mulher. Quando o gorila deu um passo para impedir que prosseguisse, Paulo Lima, no seu impecável inglês de Cambridge falou alto “sou o editor brasileiro de Mr. Allen”. Ele ouviu, virou-se e, vendo Lima luzindo no seu terno preto e gravata Hermés, pediu que ele passasse. Afinal, era o seu editor e, nos países civilizados, esta é uma profissão importante. Lima conversou rapidamente, apresentou-se, fez uns poucos comentários e pediu para o garçom 5 taças de Dom Perignon ano 1963 para um brinde com Woody, senhora e seus convidados. A seguir, cumprimentou-os e retirou-se para a sua mesa, olhado com inveja e admiração por todo o Michael’s. Na mesa, sua jovem acompanhante estava perplexa e encantada com aquela contundente demonstração de prestígio…

Abaixo, você pode conhecer o Michael´s Pub em um vídeo que mostra Woody Allen tocando ao lado Eddy Davis:

Para ler o próximo post da série “Era uma vez uma editora…” clique aqui.