De agora em diante, Baudelaire está preso à cama, enquanto a Sra. Aupick, nada mais podendo fazer pelo filho, volta para sua casa normanda. Os amigos infalíveis, como Nadar Banville, Champfleury e Asselineau, sucedem-se em seu quarto e tentam alegrar seus tristes dias. Apollonie Sabatier, a Presidenta, também vai seguidamente vê-lo e fica longas horas a seu lado.
Quanto a Jeanne…
Ninguém sabe onde ela está, ninguém próximo ao poeta a vê nem de perto nem de longe, nem em Paris nem alhures, pelo menos há um ano.
O tempo passa, inexorável, impiedoso, feroz, sinistro, assustador, e agora Baudelaire só responde com duas ou três palavras, com pausas formuladas em voz trêmula, depois com monossílabos e imperceptíveis movimentos das pálpebras e dos lábios.
Sua mãe acorre da casinha de brinquedo. Ela não larga sua mão. Cerca o filho de cuidados, sentada lacrimosa em uma poltrona de acompanhante; fala com ele baixinho, balbucia, evoca vagas e longínquas lembranças. Espera em silêncio que os anjos passem.
Na sexta-feira, dia 30 de agosto de 1867, ela chama um padre e pede encarecidamente que administre a extrema-unção a seu filho. E ela reza. Ela reza a Deus e aos santos, com as mãos juntas, o olhar úmido.
Na manhã seguinte, por volta das onze horas, quando Baudelaire morre em seus braços e ela fecha os olhos dele para sempre, a Sra. Aupick ainda não sabe que colocou no mundo, 46 anos e quatro meses atrás, um dos grandes mágicos da literatura.
(Trecho final de Baudelaire, de Jean-Baptiste Baronian – Série Biografias L&PM Pocket – disponível também em e-book)
De Charles Baudelaire, a L&PM publica Paraísos Artificiais – O haxixe, o ópio e o vinho e O Spleen de Paris.
O vinho é como o homem: não se saberá nunca até que ponto podemos estimá-lo ou desprezá-lo, amá-lo ou odiá-lo, nem de quantos atos sublimes ou perversidades monstruosas ele é capaz. Portanto, não sejamos mais cruéis com ele do que com nós mesmos e tratemo-lo como um igual.