Um belo dia, almoçando no Corner House, fiquei encantada com uma conversa sobre estatísticas que ouvi de uma mesa logo atrás da minha. Virei o pescoço e consegui enxergar de relance uma cabeça calva, um par de óculos e um sorriso bem aberto; ou seja, avistei o sr. Parker Pyne. Nunca antes havia dado atenção a estatísticas (e, de fato, ainda hoje raramente lhes dou importância!), mas o entusiasmo com que elas estavam sendo discutidas aguçou meu interesse. Estava recém começando a desenvolver a ideia de uma nova série de histórias curtas e decidi, naquele instante, qual seria a linha geral e a abrangência dos contos e, mais tarde, me diverti ao escrevê-los. Meus favoritos são O caso do marido descontente e O caso da mulher rica; a temática deste último me foi sugerida dez anos antes, quando uma desconhecida me abordou enquanto eu admirava a vitrine de uma loja. Ela falou com extrema virulência: “Gostaria de saber o que fazer com todo o meu dinheiro. Enjoo demais para ter um iate, já possuo alguns automóveis e três casacos de pele e comida pesada demais me revira o estômago”. Pega de surpresa, sugeri: “Que tal os hospitais?” Ela bufou: “Hospitais? Não estava falando em fazer caridade. Quero fazer o meu dinheiro valer a pena”, e partiu enfurecida. Isso, é claro, aconteceu há 25 anos. Hoje, qualquer problema dessa ordem seria resolvido pelo agente fiscal do imposto de renda, e ela provavelmente ficaria ainda mais enraivecida! ( Agatha Christie no prefácio de O detetive Parker Pyne, livro que acaba de chegar à Coleção L&PM Pocket)
Depois de 35 anos compilando estatísticas em uma repartição pública, o detetive Parker Pyne decidiu empregar seu conhecimento de forma inovadora: salvando casamentos, acrescentando aventura ou dando sentido à vida de seus clientes. No lugar de crimes insolúveis, ele se dedica a investigar os recônditos do coração humano. Mas engana-se quem pensa que ele só de conselhos sentimentais vive este personagem de Agatha Christie. O consultor sentimental também enfrenta ladrões e até mesmo desvenda assassinatos.