A morte prematura da escritora Jane Austen, com apenas 41 anos, já foi atribuída a muitas coisas: doença de Addison, câncer, linfoma de Hodgkin, tuberculose bovina e doença de Brill-Zinsser. Mas agora, quase 200 anos depois de sua morte, ocorrida em 1817, uma nova e inquetante tese surgiu. A escritora britânica de novelas policiais Lindsay Ashford defende que a causa mortis de Austen foi a ingestão prolongada de arsênico. Os passos que levaram Ashford a esta conclusão começaram em 2008, quando seu companheiro arranjou em um emprego em Chawton House, uma bela mansão rural na região de Hampshire que, coincidência ou não, pertenceu a um irmão de Jane Austen, Edward. Em 1809, quando o pai de Jane morreu, a romancista, sua irmã Cassandra e sua mãe foram viver no pequeno solar que Edward possuía no parque de sua propriedade. E foi justamente esta casa, que hoje pertence a um descendente dos Austen, que Ashford alugou.
O projeto inicial da novelista era apenas o de escrever mais uma história policial, eventualmente protagonizada pela sua habitual heroína, a psicóloga Megan Rhys. Mas ninguém habita impunemente a casa onde morou e trabalhou Jane Austen e certa manhã, quando lia um dos volumes da correspondência de Jane Austen, Ashford deparou-se com uma carta que ela escrevera, poucos meses antes de morrer, à sua sobrinha Fanny Knight, explicando que se sentia melhor e que estava recuperando o seu aspecto habitual. Parecendo referir-se ao seu rosto – já que usa a expressão my looks –, Austen escreve na carta que tivera a pele manchada de “negro, branco e de todas as cores erradas”.
Como Ashford pesquisa modernas técnicas forenses e os efeitos de certos venenos no corpo para escrever seus livros, ela logo percebeu que os sintomas citados na carta de Jane Austen pareciam muito com a pigmentação causada pelo consumo de arsênico, onde aparecem manchas na pele que variam de marrom a preto, passando pelo branco.
Pouco depois, a novelista conheceu o ex-presidente da Jane Austen Society of North America, que lhe disse que havia uma mecha de cabelo de Jane Austen em exibição num museu nas proximidades. A mecha, que fora comprada em 1948 por um casal já falecido, tinha sido testada por eles para arsênico com resultado positivo. Mas é bom lembrar, no entanto, que o arsênio era um dos ingredientes da solução de Fowler que, na época, usava-se como tratamento para tudo, desde o reumatismo – algo que se queixaram de Austen em suas cartas – até sífilis.
“Depois de todas as minhas pesquisas eu acho que é muito provável que ela recebeu um medicamento que contém arsênico. Quando você olha para sua lista de sintomas e os compara à lista de sintomas de arsênico, há uma correlação surpreendente”, disse Ashford ao jornal britânico The Guardian. “Eu não acho que o assassinato está fora de questão”, disse ela. “Muita coisa não foi revelada e poderia ter havido um motivo para o homicídio.”
Este, aliás, é o tema do novo romance de Lindsay Ashford, “The Mysterious Death of Miss Austen” (A misteriosa morte de Miss Austen), lançado há poucas semanas em Londres.
A professora Janet Todd, de Cambridge, e especialista em Jane Austen, disse que assassinato é pouco provável. “Eu duvido muito que ela tenha sido envenenada intencionalmente. Mas a possibilidade que tenha sido tratada com arsênico para o reumatismo, por exemplo, é bastante provável”, disse a professora.
Embora Ashford esteja interessada em ver ossos da autora de Orgulho e Preconceito, Persuasão e A abadia de Northanger analisados pela medicina forense moderna, ela sabe que isso dificilmente vai acontecer. Talvez certas coisas não precisem ser desenterradas…