Ivan Pinheiro Machado*
No comecinho da década de 70, minha família morava em Roma. Meu pai, perseguido pela ditadura militar, procurara o exílio na capital italiana. Eu e meu irmão, com menos de 20 anos, podemos dizer que vivemos um suave exílio. Afinal, não havia cidade como Roma naquele início dos anos 1970.
Morávamos em Monte Mario, uma das sete colinas romanas e, todo o dia, íamos ao “liceo”. Pegávamos um ônibus e passávamos a pé pelo início da legendária escadaria da Piazza di Spagna. A esquerda de quem sobe está a casa de Lord Byron e, em frente, o edifício onde, no primeiro andar, ficava o estúdio de Giorgio de Chirico, a quem, desde menino, eu já admirava como o inventor da “pintura metafísica”. Toda vez que passávamos por ali eu olhava para cima e a sacada estava sempre vazia. Mas um dia, meu coração disparou. Olhei para o primeiro andar do prédio renascentista e vi De Chirico com os cotovelos cravados no parapeito da sacada olhando o movimento. Parei e fiquei observando aquele homem de cabelos muito brancos, cigarrinho no canto da boca, contemplando as flores postas ao longo da imensa escadaria naquele início de primavera romana e que levava até a Trinità dei Monti, igreja da Piazza di Spagna. Não resisti e gritei: “Maestro! Buongiorno!”. E o grande pintor abriu um sorriso e me retribuiu com um gesto largo e afetuoso.
Segui meu caminho nas nuvens, afinal tinha visto o “Maestro”, um dos grandes pintores vivos (na época), ao lado de nomes como Max Ernest, Salvador Dali, Chagall, Picasso e todos firmes e fortes, em plena atividade.
Passaram-se 40 anos e, sábado passado, fui ao belo prédio do Museu Iberê Camargo em Porto Alegre, com minha amiga, doutora em filosofia da arte e professora da Texas Tech University, Anna Christina Soy, ver a exposição “O sentimento da Arquitetura”, que exibia mais de 100 obras entre pinturas à óleo, desenho e esculturas de Giorgio de Chirico. Era uma tarde quente de janeiro, muita gente na praia, é verdade. Mas pensei, “se esta exposição fosse em Paris, teria fila de 200 metros para entrar”…
A mostra promovida pela Fondazione Giorgio e Isa de Chirico, Fiat, Itaú entre outras instituições, é extraordinária. Na apresentação do belíssimo catálogo, o crítico Teixeira Coelho diz: “As telas de De Chirico são das poucas que povoam recorrentemente o imaginário da arte, a imaginação das pessoas: vão e voltam à memória, e todos sabemos que existem e como são, mesmo sem saber o que são. Sob este aspecto, representam mais do que se pode dizer da maior parte da arte, já que estão sempre aí, latentes mesmo para quem nunca as viu ao vivo.”
Portanto, De Chirico é pop!
É im-per-dível!!!!
*Ivan Pinheiro Machado é editor e artista plástico.
SERVIÇO:
Exposição “De Chirico: O Sentimento da Arquitetura”
Fundação Iberê Camargo
Av. Padre Cacique, 2000 – Porto Alegre RS
www.iberecamargo.org.br
De 08 de dezembro de 2011 a 04 de março de 2012Casa Fiat de Cultura
Rua Jornalista Djalma Andrade, 1250 – Nova Lima MG
www.casafiatdecultura.com.br
De 20 de março a 20 de maio de 2012
Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand – MASP
Av. Paulista, 1578 – São Paulo SP
masp.art.br
De 31 de maio a 12 de agosto de 2012