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A arte de Jean-Michel Basquiat

O artista Jean-Michel Basquiat morreu jovem, com apenas 27 anos, no dia 12 de agosto de 1988, mas produziu o suficiente para entrar para a história da arte moderna como um dos ícones da pop art ao lado de Andy Warhol. Eles se conheceram em 1982, em Nova York, e Warhol registrou o momento em seus diários:

Segunda-feira, 4 de outubro, 1982. Fui encontrar Bruno Bischofberger. Veio com Jean-Michel Basquiat. É o garoto que usava o nome “Samo” quando sentava na calçada do Greenwich Village e pintava camisetas, e de vez em quando eu dava $10 para ele e o mandava ao Serendipity para tentar vendê-las. Era apenas um daqueles garotos que me enlouqueciam. É negro, mas algumas pessoas dizem que é porto-riquenho, ai sei lá. E então Bruno o descobriu e agora ele está com a vida ganha. Tem um estúdio ótimo na Christie Street. É um garoto de classe média do Brooklyn – quer dizer, foi à universidade e essas coisas – e ficou tentando ser daquele jeito, pintando em Greenwich Village.

Então almocei com eles e aí tirei uma polaroid e ele foi pra casa, duas horas depois mandou uma pintura, ainda molhada, dele e de mim juntos. E, quer dizer, só chegar até Christie Street deve ter levado uma hora. Me disse que foi o assistente quem pintou.

dos_cabezas

“Dos cabezas” (1982) de Jean Michel Basquiat

No registro do dia seguinte, 5 de outubro, ele diz:

(…) E esqueci de acrescentar que um dia antes Jean-Michel Basquiat meteu a mão no bolso e disse que me pagaria os $40 que me devia do tempo em que pintava camisetas e pedia dinheiro emprestado para mim e eu disse ah, não, está bem, fiquei constrangido – fiquei surpreso de só ter dado isso pra ele, achei que tivesse dado mais.

Bruno Bischofberger with Andy Warhol, Jean-Michel Basquiat and Francesco Clemente, New York 1984

Andy Warhol, Jean-Michel Basquiat, Bruno Bischofberger e Francesco Clemente (Nova York, 1984)

Jean-Michel Basquiat nasceu no Brooklyn, em 1960, mas sua família veio de Porto Rico e do Haiti. Conhecendo bem a vida nos subúrbios e os problemas a ele inerentes, como o racismo, a imigração e a exclusão social, Basquiat tornou-se um símbolo dos desenhos urbanos nos anos 80. Começou a se destacar em NY com os grafites que fazia com a sigla SAMO (“Same Old Shit”). Interessado em hip-hop, jazz, basebol e boxe, mas também em poesia francesa, Leonardo Da Vinci e arte modernista, ele começou cedo na pintura, comunicando com clareza e urgência a sua própria experiência de vida com um quê neo-expressionista. Suas criações são uma combinação de símbolos, escrita e cores encontradas fora da “normalidade”: são as cores da cidade, das ruas e do mundo em que viveu.

A vida de Basquiat virou filme sob a direção do amigo e contemporâneo Julian Schnabel e é citado inúmeras vezes no vol. 2 dos Diários de Andy Warhol da Coleção L&PM Pocket.

Andy Warhol para explorar, seguir e copiar

Quem é fã de pop art certamente já desejou ser Andy Warhol ou pelo menos conhecer de perto as referências, as inspirações e os processos criativos de um dos maiores ícones da arte do século 20. Para estas pessoas, nós temos uma boa notícia: com uma ajudinha das novas tecnologias de distribuição de conteúdos, geolocalização e mobilidade, isso já é possível!

Esta semana, o Andy Warhol Museum anunciou a criação de três aplicativos que possibilitam explorar materiais inéditos de Andy Warhol, “segui-lo” por meio de um mapa que marca os lugares que o artista frequentava em Nova York e até vestir o personagem e produzir os seus próprios retratos estilizados a la Andy Warhol.

O aplicativo the warhol: art disponibiliza uma série de materiais inéditos como cartas, imagens, áudios, filmes e clipes de vídeo e coloca tudo isso ao alcance de qualquer pessoa que tenha em mãos um iPhone, um iPad ou um aparelho que rode o sistema Android, do Google. Assista ao vídeo explicativo para ter um gostinho do que ele oferece:

Mas se a ideia é mergulhar de cabeça na experiência do artista, você pode brincar de ser Andy Warhol. É só baixar o aplicativo The Warhol: D.I.Y. POP e sair customizando suas fotos com o toque característico do rei da pop art:

E para vestir de vez o personagem, que tal saber mais sobre a vida, o cotidiano e a rotina de Andy Warhol? Por onde ele andava, o que via no caminho de casa para o estúdio, quais a referências de sua cidade natal? Até isso foi feito pelo aplicativo The Andy Warhol Museum Layar, que usa mapas, geolocalização e realidade aumentada para mostrar os principais pontos de referência na vida e na rotina de Andy Warhol. Boa parte de Nova York e Pittsburgh, sua cidade natal, já estão mapeadas pelo Layar:

E as novidades não param por aí! A L&PM está preparando três surpresas para os fãs de Andy Warhol: em breve, vamos publicar os famosos e polêmicos diários do artista em dois volumes na Coleção L&PM Pocket, Andy Warhol na Série Biografias L&PM e o livro de fotos América, que expõe diversas celebridades em bastidores e momentos descontraídos. Tá bom ou querem mais? 😉

Andy Warhol, Mr. Contradição

Por Cristine Kist*  

Se algumas paredes têm ouvidos, como garantiam nossos avôs, outras bem parecem ter boca. As da Estação Pinacoteca, por exemplo. As paredes da Estação gritam contradições desde o dia 20 de março, quando foi aberta a exposição “Andy Warhol, Mr. America”. Estão elas todas cobertas de citações, palavras conhecidas e desconhecidas, os 15 minutos de fama e à renegação das espinhas.    

Os famosos retratos coloridos de Marilyn Monroe / Reprodução

Logo na entrada são desfeitas as ilusões dos que esperavam confirmar a suspeita de que Warhol era um artista, uma pessoa ou um artista e uma pessoa apenas superficial. Os visitantes já são recebidos com uma citação digna de grande pensador:
“Everybody has their own America, and then they have pieces of a fantasy America that they think is out there but they can’t see. When I was little, I never left Pennsylvania, and I used to have fantasies about things that I thought were happening in the Midwest, or down South, or in Texas, that I felt I was missing out on. But you can only live life in one place at a time. And your own life while it’s happening to you never has any atmosphere, until it’s a memory.”  

Pois é. E depois de ler isso o sujeito mais desprevenido já fica inclinado a cometer duas injustiças. A primeira é pensar que são imprensa e crítica as responsáveis pelo rótulo que Warhol carrega. Não. Ele mesmo fazia questão de se vender assim. A segunda é concluir que de superficial ele não tinha nada. Tinha muito.    

Quando perguntavam se as 32 latas de sopa Campbells, os retratos de presidiários e os autorretratos como drag queen eram uma crítica ao american way of life, ele negava e jurava de pés juntos que amava os Estados Unidos e não tinha qualquer intenção de mostrar o “lado feio” do país.  

Muito provavelmente estava sendo sincero.  

A impressão é de que Warhol era contraditório até para ele mesmo. Batia e acariciava. É preciso mesmo muita força de vontade para acreditar que obras como “Confronto racial” ou os vários retratos coloridos de uma mesma cadeira elétrica estejam ali apenas por motivos estéticos. As latas de sopa também não são exatamente bonitas. E os bandidos mais procurados até são bonitos, mas bom, não deve ser só por isso que estão ali.  

Nunca gostei de meio termo. Sempre achei que meio termo fosse para os fracos. Me rendi. Sou fraca. Andy Warhol, aquela figura excêntrica e cheia de extremos, está mesmo no meio termo entre algo que lembra o intelectual e algo que lembra o superficial. É essa a sua última contradição.  

A exposição fica na Estação Pinacoteca até 23 de maio, de terça a domingo, sempre das 10 às 18h.  E aos interessados em conhecer um pouco mais da personalidade de Warhol, uma bela dica é o livro de quase mil páginas “Diários de Andy Warhol”, publicado pela L&PM em 1989, e agora disponível nos melhores sebos do Brasil.  

  

  

 * Cristine é assessora de imprensa da L&PM