A grande metamorfose de Kafka aconteceu em 3 de junho de 1924 quando, depois de muito sofrimento causado pela Tuberculose, ele finalmente descansou. Robert Klopstock, seu grande amigo, acompanhou os últimos dias do escritor, como mostra o trecho do livro Kafka, série Biografias L&PM.
Às quatro horas da manhã, Dora chama Klopstock ao quarto, porque Franz respira muito mal. Klopstock tem consciência do perigo e acorda o médico, que faz uma injeção canforada. Então começa a última batalha do escritor, a da morfina. Ele culpa, com raiva, seu amigo, recriminando-o por não querer ajudá-lo: “Você sempre me prometeu, há quatro anos. Você me tortura, você sempre me enganou… Não falarei mais com você. Eu estou morrendo, afinal”. Aplicaram-lhe duas injeções. Na segunda, ele disse: “Não trapaceie, você está me dando um antídoto”. Depois ele disse […]: “Mate-me, senão você é um assassino”. Deram-lhe pantapon, ele ficou feliz: É bom assim, mas mais, mais, você está vendo que não está fazendo efeito”. Depois, ele lentamente adormeceu. Suas últimas palavras foram para sua irmã Elli, Klopstock segurava-lhe a cabeça. Kafka, que sempre teve um medo extremo de contaminar alguém, disse, olhando para o amigo que tomava por sua irmã: “Vamos, Elli, não tão perto”. E como Klopstock se endireitasse um pouco: “Sim, assim, está bem.
Robert Klopstock ainda era estudante de medicina quando interrompeu seus estudos para ajudar a cuidar de Kafka. Seu nome ficaria para sempre ligado ao do autor de A metamorfose, Carta ao pai, O processo, Um artista da fome, entre outros.
E foi graças a outro amigo, o escritor e jornalista Max Brod, que a obra de Franz Kafka não se perdeu no tempo. Em 1922, Kafka pediu a ele que destruísse todos os seus escritos após sua morte. Brod não cumpriu a promessa, salvou o que conseguiu, recuperou trabalhos perdidos durante o regime nazista na Alemanha e publicou grande parte dos livros do amigo. À Brod, o nosso muito obrigada.