No ano exato do centenário da chique e urbaníssima cidade pelotense, seu mais ilustre letrado publica os Contos gauchescos, série de histórias pacientemente tramadas, escritas com a linguagem da vida rural do Rio Grande do Sul, devida e competentemente transformada em literatura. Na folha de rosto, logo abaixo do título, que é genérico, vinha uma espécie de enquadramento: “Folclore regional”. Era uma advertência ao leitor urbano? Um pedido de desculpas? De tolerância? De clemência? E por que adjetivar como “regional” aquele material, na verdade contos que nem eram exatamente folclore? (Trecho do texto de Luís Augusto Fischer para a introdução da nova edição de Contos Gauchescos e Lendas do Sul que acaba de chegar)
Pois é, 1912 não foi mesmo um ano qualquer para “a cosmopolita, a francófila, a elegante” Pelotas. A cidade festejava seus 100 anos e, em meio a tamanha comemoração, o agitador cultural João Simões Lopes Neto lançou a Revista Centenária e um novo livro: Contos Gauchescos. E é justamente para marcar o centenário de lançamento dos Contos Gauchescos que agora acaba de chegar uma nova edição, em formato convencional, que vem acompanhada de Lendas do Sul e foi preparada por Luís Augusto Fischer. Além de escritor, Fischer é professor de literatura brasileira na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e grande estudioso da obra simoniana. Aqui, ele nos oferece uma edição feita sob os melhores critérios filológicos, levando em conta a distância entre o leitor atual e o escritor, contendo fartas notas de rodapé para esclarecer dificuldades do vocabulário, referências históricas contidas no texto e aspectos importantes da estrutura e da visão de mundo da obra, além de uma completa biografia e de uma introdução ao fascinante universo do autor.