É hoje à noite: o sol se aproximará o máximo que pode da Terra, indicando que o verão está oficialmente entre nós. Se você anda um pouco esquecido de como é a estação mais festiva, sensual e quente do ano, vale a pena ler o texto escrito por Millôr Fernandes em 1971 (e que está em Millôr Definitivo, a Bíblia do caos). Apesar de passados quase 40 anos desde que ele foi escrito, está claro que, pelo menos no que se refere à chegada do verão, nada mudou:
Crestam-se os seres. Acende-se vermelho o alto dos morros, reverbera o mar, para-brisas dão reflexos de cegar. Um cego, de tanta luz em volta, enxerga alguma coisa. O céu aprofunda-se em azul, a areia frige nossos pés, raios a pino estorricam. A calçada arde, suor escorre nas costas dos que estão vestidos, o chão gruda em seus sapatos de discriminados. O sol parece um som. É verão. Rebrilha, refulge, freme, tremeluz – em tudo e em todos. Uma cigarra canta, chia, chichia, chiria, cicia, fretene, zine, zizia, zangarreia, estridula, garrita, rechia, rechina, retrine, cegarrega: é só escutar no dicionário. Na arrebentação a gata cumpre o gesto perpetual do seu destino na biossociologia carioca – é bela e cai n´água. Estamos todos em Byakabunda, na época do plantio das bananas.