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“Guernica” por Carlos Saura

Guernica é preto, (…) como as manchetes dos jornais da época que dizem ao homem da rua, preto no branco, sua terrível verdade. É preto, cinza e branco como os filmes de atualidades e as fotos do front de Biscaia (…), de trama tão contrastada que ferem o olhar antes mesmo que se tenha identificado a imagem.

A composição, muito plástica, ordenada, harmoniosa, é forte, monumental, como convinha a uma decoração mural numa tal circunstância. É claramente figurativa, violentamente expressiva, com uma intensidade dramática que vai além do fato da atualidade, mostrando o que há nele de universal e de atemporal. A cidade é apenas simbolizada numa arquitetura elementar de fundo de cenário. Nada mostra uma Guernica real. Não se vêem aviões, nem bombas. A única arma é uma espada quebrada, na mão de um homem caído no chão em primeiro plano, de olho ainda aberto. À esquerda, uma mãe segura um filho morto (a julgar pela maneira como sua cabeça cai pra trás), berra de dor diante de um touro majestoso, tranquilo. Do outro lado, o duplo dessa mãe ergue os braços ao céu. Diante dela, uma terceira mulher, parcialmente ajoelhada, de rosto menos atormentado, estende-se em direção à dupla luz de uma lâmpada elétrica no teto e de uma lamparina nas mãos de uma quarta figura feminina, da qual somente aparece a cabeça, enorme. No centro, um cavalo parte em direção ao fundo do quadro e se volta, relinchando. Muitos serão os que tentarão decifrar esse conjunto de sinais, como se cada um devesse receber uma significação precisa; mas Picasso se contentará sempre em dizer que o cavalo é um cavalo, o touro é um touro, e que a força e a riqueza dos símbolos é que se pode interpretá-los amplamente.

O texto acima é uma releitura da Guernica, de Pablo Picasso, feita pelo biógrafo Gilles Plazy para a Série Biografias. Um dos quadros mais célebres do pintor espanhol também já ganhou diversas versões em murais e telas mundo afora e até em 3D. E agora chegou a vez do cinema se apropriar de uma das obras mais emblemáticas da história ocidental moderna.

Carlos Saura (o mesmo diretor de “Carmen” e “Tango”) está preparando um longa de ficção chamado “33 dias”, em referência ao tempo que Picasso levou para pintar a Guernica. Em entrevista ao jornal O Globo, o diretor disse que pretende “mostrar como o governo espanhol, em plena Guerra Civil, encomendou a Picasso um quadro de 8 m x 4 m para o pavilhão da Espanha na Feira Internacional de Paris, em 1937, para o qual colaboraram artistas como Miró, Dalí, Calder, Henry Moore e Luis Buñuel”. Em abril daquele mesmo ano, a cidade de Guernica, na Espanha, foi bombardeada por aviões italianos e alemães. Aquele foi um ensaio para os extermínios de civis realizados ao longo da Segunda Guerra Mundial e a fonte maior de “inspiração” para Picasso.

Saura quer retratar também aspectos da vida afetiva de Picasso que, segundo ele, se confundem com o processo de criação da Guernica. Dora Maar, pintora e fotógrafa francesa, amante de Picasso, registrou dia a dia a evolução do quadro. “As fotos feitas por Dora estão no Reina Sofía, assim como os esboços usados por Picasso para fazer uma pintura que pode ser encarada como um dos testemunhos mais impressionantes da inutilidade da guerra”, diz.

Saura ainda não definiu quem será o ator que interpretará Picasso no filme e, por enquanto, se ocupa com a escolha das locações na Espanha e em Paris. O filme “33 dias” ainda não tem data de estreia, mas é certo que sai em 2012, ano em que o diretor espanhol completa 80 anos de vida e 55 anos de carreira.

Tango e literatura

O vídeo acima é da banda Gotan Project, que chega mais uma vez ao Brasil neste mês. O trio se apresenta no Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Porto Alegre. A turnê divulga o mais recente álbum “Tango 3.0”. Formado pelo francês Philippe Cohen Solal, pelo guitarrista argentino Eduardo Makaroff, e pelo músico e programador suíço Christoph Muller, o grupo musical reúne três amigos de diferentes países, que têm em comum a paixão pelo tango, o jazz e a música eletrônica. Confira a programação:

GOTAN PROJECT NO RIO DE JANEIRO

Quando: 06/10, a partir das 22h
Onde: Vivo Rio (Av. Infante Dom Henrique, 85, Parque do Flamengo)
Quanto: R$ 220 (camarote A), R$ 150 (camarote B e setor 2), R$ 80 (frisas em pé), R$ 250 (vip premium), R$ 200 (setor vip), R$ 180 (setor 1), R$ 100 (setor 3); há meia-entrada para todos os setores
Ingressos: pelo site www.ingressorapido.com.br, pelo telefone 4003-1212 e nos pontos de vendacadastrados

GOTAN PROJECT EM SÃO PAULO

Quando: 07/10, a partir das 22h
Onde: HSBC Brasil (Rua Bragança Paulista, 1281, Chácara Santo Antônio)
Quanto: R$ 300 (camarote e setor vip), R$ 250 (frisas e setor 1), R$ 150 (cadeira alta e setor 2), R$ 350 (super vip), R$ 100 (setor 3) e R$ 280 (camarote inferior); há meia-entrada para todos os setores
Ingressos: pelo site www.ingressorapido.com.br, pelo telefone 4003-1212, na bilheteria da casa e nos pontos de venda cadastrados

GOTAN PROJECT EM SALVADOR

Quando: 13/10, a partir das
Onde: Teatro Castro Alves (Praça Dois de Julho, s/n)
Informações: www.tca.ba.gov.br

GOTAN PROJECT EM PORTO ALEGRE

Quando: 15/10
Onde: Teatro do Sesi (Av. Assis Brasil, 8787, Sarandi)
Informações: www.centrodeeventosfiergs.com.br

O que isso tem a ver com a L&PM?  O tango também está presente no nosso catálogo de publicações. Como falamos anteriormente aqui no blog a L&PM acaba de relançar o livro As veias abertas da América Latina, de Eduardo Galeano. A tradução foi realizada por Sergio Faraco, um dos grandes contistas brasileiros. Faraco recebeu o Prêmio Nacional de Ficção, atribuído pela Academia Brasileira de Letras à coletânea Dançar tango em Porto Alegre como a melhor obra de ficção publicada no Brasil em 1998.

Quer mais tango?  Publicamos também a obra Tangos&Tragédias em quadrinhos.

Já está ensaiando os passos?